Vinhos da Semana VIII

Depois de algum tempo afastados destas paragens regressam os Vinhos da Semana, com mais um lote de vinhos bebidos descontraidamente em casa, na companhia da família ou amigos. Desta vez são seis, de estilos muito diferentes, numa viagem do Douro à Andaluzia, passando pela Bairrada, Dão e Lisboa.

Depois de algum tempo afastados destas paragens regressam os Vinhos da Semana, com mais um lote de vinhos bebidos descontraidamente em casa, na companhia da família ou amigos. Desta vez são seis, de estilos muito diferentes, numa viagem do Douro à Andaluzia, passando pela Bairrada, Dão e Lisboa.

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E começo por Lisboa, pela Quinta do Gradil e por um monocasta de Syrah que tem uma história engraçada. Hoje em dia tornou-se um hábito o Dia das Vindimas e quase todos os produtores organizam a sua festa, mas há pouco tempo atrás a realidade era outra. A Quinta do Gradil foi um dos primeiros produtores que tenho conhecimento de organizar esta festa com regularidade e todos os anos faz um vinho comemorativo com as uvas colhidas, que oferece no ano seguinte aos participantes. Em 2012 estive lá e ajudei a vindimar alguns talhões de Syrah que deram origem a este vinho que depois me ofereceram no ano seguinte. Agora, com a visita de uns familiares que moram em Colmar, na Alsácia francesa, decidi mostrar-lhes este Syrah de Lisboa, vindimado por mim. Frutado, extraído, estruturado, com a barrica presente, resultou num estilo algo pesado, talvez a pedir mais tempo de garrafa. Não sendo grandes conhecedores e talvez por estarem habituados a vinhos mais elegantes, os primos não morreram de amores…

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…E eu, perante aquela opinião decidi abrir de seguida um vinho do Dão, de uma casta portuguesa, na expectativa de ir mais ao encontro do seu gosto. E de facto o Quinta do Sobral TN mostrou-se uma escolha acertada. O lado floral da casta é evidente mas está bem enquadrado por um leve traço vegetal e com a barrica a aconchegar o conjunto sem exageros. Apesar de ainda jovem, o vinho está muito bem feito, num estilo acessível mas que consegue expressar bem a casta e a região. O álcool podia ser mais comedido, mas ainda assim gostei. Comprei-o no Intermarché de Seia (ou Gouveia, já não me lembro) e tenho pena de já não ter mais.

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Este tinto chegou à mesa num dia que tinha a casa cheia de amigos. Amigos que na sua grande maioria não são conhecedores de vinho, não ligam a castas ou regiões, apesar de gostarem de partilhar um bom copo de vinho. Era por isso imperioso não complicar e ao mesmo tempo agradar. O Assobio Tinto 2012, que o Esporão produz na Quinta das Murças, no Douro, foi o eleito e a escolha não podia ter sido mais acertada. Pois por pouco mais de 5€ consegue-se um vinho muito bem feito, de estilo macio e acessível, mas que também não desilude quem procura algo mais. À fruta e à barrica juntam-se notas minerais e uma acidez que dão lugar a um vinho muito equilibrado e atractivo. Bebeu-se todo, pelo meio de conversas e risadas. E mais houvesse. Deste é impossível não gostar, seja em que circunstancia for.

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Depois do Assobio e para os resistentes que continuaram no vinho, insisti no Douro e abri um tinto que tinha trazido directamente da loja do produtor, aquando da visita ao universo da Real Companhia Velha. Reza a história que as primeiras vinhas a serem plantadas na Quinta de Cidrô remontam ao início do século XIX, quando o seu proprietário Marquês de Soveral, edificou o imponente Palácio de Cidrô. No início dos anos 70 do século passado a Real Vinícola (actual Real Companhia Velha) adquiriu a propriedade, onde depois de um grande programa de reconversão das vinhas tem hoje uma das suas mais importantes quintas. Este TN – Cabernet está muito atractivo, com a barrica a abraçar a fruta, onde sobressai em boa harmonia as notas vegetais e florais. Na boca o Cabernet impera um pouco, mas sempre num conjunto com bom equilíbrio, intenso e de boa persistência. Toda a gente lhe teceu elogios, que eu achei merecidos.      DSC_0011

O Lidl não será o primeiro lugar que penso quando quero comprar vinho, no entanto, ao cruzar-me tantas vezes com esta garrafa, a curiosidade falou mais alto e houve um dia que veio com as compras. Um espumante bruto da Bairrada, produzido e engarrafado pelas Caves da Montanha para o Lidl e que aparece nas prateleiras a um preço a rondar os 3€, pareceu-me sugestivo o suficiente. E não fiquei nada arrependido. Sendo simples e directo, o vinho é seco o suficiente para se dar bem à mesa, tem corpo e equilíbrio, fruta e frescura e não sendo a última coca-cola do deserto, merece ser conhecido. Quando forem às compras lembrem-se de o trazer.

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Para terminar, um saltinho à Andaluzia, a Jerez de la Frontera e às Bodegas Tio Pepe, de Gonzalez Byass, que tive o prazer de visitar numa viagem recente à região. Este vinho foi uma completa surpresa. Imaginem um porto branco mas na versão fino de jerez, leve e fresco, que pode ser uma excelente alternativa aos mais encorpados sherry. Depois de fermentadas e fortificadas as uvas de Palomino, o vinho é estagiado pelo método de solera e é este neste momento que se cria a flor, um manto de leveduras que protege o vinho da oxidação. De seguida adiciona-se o vinho doce, que neste caso desconheço que tipo de sherry seja, continuando o estágio em solera por cerca de 12 meses até ser engarrafado. O resultado final é um vinho fortificado, de cor clara, com um teor alcoólico de 17º, num estilo leve e apelativo, de sabor frutado e frutos secos, suave e macio, que combina de forma muito equilibrada o sabor característico do Fino com um elegante travo doce final. Fiquei completamente viciado e só tenho pena de não saber onde se pode encontrar em Portugal. Bebido fresco, ao ar livre, a acompanhar um patê de fígado ou umas finas de jamón, só falta a faena de flamenco e a brisa quente da noite para nos sentirmos na Andaluzia.

Se ficaram curiosos com a marca Croft no rótulo, que normalmente associamos ao Porto e à Fladgate Partnership, esta deve-se ao acordo na venda da Croft, em que o negócio do sherry foi adquirido pela Gonzalez Byass.

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