Pastel de Tentúgal

Quem circula pela Estrada Nacional 111, entre Coimbra e Figueira da Foz, vai cruzar-se, durante a passagem pelo concelho de Montemor-o-Velho, com a vila de Tentúgal. Se em tempos Tentúgal foi um local com relativa importância histórica, hoje em dia é esencialmente conhecido por aqui terem origem e serem produzidos os famosos Pastéis de Tentúgal, um dos mais importantes doces conventuais do nosso receituário.

Reza a história que inicialmente eram chamados de Pastéis do Convento, pois tiveram a sua origem no século XVI no Convento de Nossa Senhora da Natividade, quando este era habitado pela Ordem das Carmelitas (Carmelo de Tentúgal). Mas foi mais tarde, já no século XIX e com o fim das ordens religiosas, que o pastel começou a ser produzidos em maior escala e a ser conhecido pela população em geral. Além do recheio com o infalível doce de ovos, o que torna este doce tão especial é a preparação da massa. Uma massa tão fina e delicada que depende de um conjunto de factores como, além da qualidade dos ingredientes, as características atmosféricas do local onde são confeccionados e da mestria da pasteleira, que tem uma importância essencial na sua preparação.

Hoje em dia são muitas as fábricas e confeitarias que preparam este doce na zona de Tentúgal, das mais modernas às mais tradicionais, mas numa recente visita à região foi na confeitaria Moinho Novo que entrei. Trazia esta referência, não porque os pastéis fossem muito melhores que os outros, mas essencialmente porque era possível ver uma pasteleira a preparar e manusear a massa. E de facto, quando entramos nas modernas instalações desta confeitaria, encontramos uma grande vitrine onde podemos assistir ao fabrico e à preparação da massa e onde facilmente constatamos que não estamos perante uma tarefa ao alcance de qualquer um. A massa é tão fina que tem de ser esticada com muita sabedoria e delicadeza e, é precisamente nesta forma de manusear, que está o segredo para atingir a perfeição. Para o efeito é usado um grande estrado de madeira coberto por um tecido branco (tipo lençol), onde se estica a massa e depois é cortada com uma faca afiada em forma de meias luas. A importância da massa estar mesmo no ponto é fundamental, caso contrário ao cortar-se pode partir-se ou se estiver muito mole, agarrar-se uns pedaços aos outros.

Na versão tradicional, aquela que estamos habituados a ver com mais frequência, os pastéis levam um recheio com doce de ovos, enquanto que na versão original, em forma de meia lua, levavam doce de ovos e amêndoa. Mais recentemente também se fazem outros em forma de trouxa, com recheio de doce de ovos com amêndoa e gila, mas estes nunca provei. Sendo um doce do nosso receituário conventual tão conhecido e respeitado, não tinha a noção da dificuldade de o confeccionar e depois desta visita fico a pensar na mestria de uma freira do século XVI a criar um pastel deste tipo. Uma delícia que passei a apreciar com outros olhos.

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