Os Reserva da Herdade do Esporão são dos vinhos mais consistentes que temos possibilidade de beber. Mesmo tendo em conta as características do ano agrícola, o perfil destes vinhos é intocável e ano após ano o consumidor sabe perfeitamente o que vai encontrar. Recordo a história do pai de um amigo, francês e conhecedor dos bons vinhos de França, que quando vem a Portugal e encontra o Esporão Reserva Tinto já não bebe outra coisa. Esta fidelização não acontece por acaso, é fruto de um trabalho de várias décadas que teve início em 1985, quando foi lançado o primeiro Reserva do Esporão. São assim os clássicos.
Recentemente tive a oportunidade de provar algumas novidades que me foram enviadas pelo Esporão, às quais juntei o Reserva Tinto de 2018 que tinha na minha garrafeira, pois achei que seria uma boa ocasião para o provar também. A prova foi feita na companhia de alguns amigos, consumidores normais, ainda sem tiques de snobismo, onde tivemos a possibilidade de trocar opiniões e eleger preferências.
Começámos pelo Bico Amarelo 2021, o branco que o Esporão faz na Quinta do Ameal, na região dos Vinhos Verdes. Há quem não simpatize com a expressão “vinhos de verão”, mas a verdade é que o perfil deste Bico Amarelo me remete para o tempo quente e para momentos agradáveis e descontraídos, onde só queremos um vinho leve e fresco, com boa fruta e acidez. Este 2021 mantém a fórmula do ano anterior, com um lote de Loureiro (da sub região do Lima), Alvarinho (de Monção) e Avesso (de Baião), no registo habitual de um perfil leve, com excelente acidez e uma boa presença de fruta, assente nos citrinos e um leve floral, tudo comedido e equilibrado. Fiquei com a sensação que estava com um pouquinho de menos presença de boca que o 2020, mas também pode ser impressão. É um vinho que gosto e compro habitualmente, principalmente nos meses de mais calor. Por menos de 5€ conseguimos uma boa relação qualidade preço.
Depois descemos ao Alentejo, a Reguengos e à Herdade do Esporão para o Reserva Branco de 2020. Uma imagem de marca destes vinhos são os seus rótulos personalizados, onde todos os anos é convidado um artista plástico para os ilustrar. Em 2020 foi o pintor Jorge Queiroz, que se inspirou em Dionisio, o deus grego do vinho. O Esporão Reserva Branco 2020 é produzido exclusivamente com uvas provenientes da Herdade do Esporão e é um blend de Arinto, Roupeiro, Antão Vaz e uma pequena percentagem de outras castas, vinificado em inox e barricas, seguindo-se um estágio de 6 meses também em inox e barricas novas de carvalho francês. Curioso referir que as primeiras colheitas do Esporão Reserva Branco eram fermentadas em barricas novas de carvalho americano, mas a partir dos anos 2000 passou a ser utilizado o carvalho francês. Este 2020 é a segunda edição com certificação biológica e vem na linha do 2019, com um perfil sério e focado, com a barrica muito bem proporcionada, num perfil rico e equilibrado, onde as sugestões de citrinos, fruta branca e especiarias, encaixam bem numa acidez fina e afirmativa, que contribui para um final de boa persistência. Está jovem, vai ganhar com o tempo de garrafa, mas já dá uma excelente prova.
De seguida entrámos nos tintos, com o Esporão Colheita Tinto de 2020, um lote de Touriga Nacional, Aragonez, Touriga Franca, Cabernet Sauvignon e Alicante Bouschet, vinificado em cubas de betão, onde estagia por seis meses, seguindo-se um segundo estágio em garrafa por mais quatro meses. Frutado, de corpo médio e fresco, é um tinto muito bem feito, saboroso e polivalente à mesa, com um tanino fino que lhe dá garra, num estilo consensual que agradará a todos.
Para o final ficaram guardados os dois Esporão Reserva Tinto, das colheitas de 2018 e de 2019. Originalmente estes vinhos eram um lote de Aragonez, Trincadeira e um pouco de Cabernet Sauvignon, entretanto têm sido introduzidas novas castas e hoje o lote é composto por Aragonez, Trincadeira, Syrah, Touriga Nacional, Touriga Franca, Cabernet Sauvignon e Alicante Bouschet. O vinho habitualmente é fermentado em inox, em cubas de betão e lagares de mármore, fazendo depois a segunda fermentação exclusivamente em inox. Segue-se o estágio de 12 meses em barricas de carvalho americano e francês, complementado por mais 8 meses de estágio em garrafa. Dentro do perfil habitual do Esporão Reserva Tinto temos aqui duas colheitas com alguma diferença. Ambas ainda jovens, mas o 2018 a mostrar mais frescura e equilibrio, enquanto que o 2019 mostra-se mais frutado e guloso, com a barrica presente, num estilo muito atractivo, com corpo e volume sem pesar, e um final de boa persistência. Diria que nesta fase está mais gastronómico o 2018 e mais consensual o 2019, ambos dentro da expressão habitual deste clássico do Alentejo. A colheita de 2019 é mais um marco na história deste vinho, com o primeiro Reserva Tinto com certificação biológica.
Em 2017 participei num jantar de vinhos dos anos 80 onde apareceram 2 Esporão Reserva Tinto, das colheitas de 1986 e 1987, juntamente com outros clássicos da época como os Grantom, os Luis Pato, os Porta dos Cavaleiros, etc… Ambos os Esporão estavam excelentes, a dar uma grande prova, mas o 86 tinha uma evolução fantástica e foi mesmo dos melhores da prova. Isto para dizer que a maioria das vezes bebemos estes vinhos cedo demais, ignorando a sua capacidade de envelhecimento.