Esporão Reserva Tinto 2019 (e outras novidades do Esporão)

Os Reserva da Herdade do Esporão são dos vinhos mais consistentes que temos possibilidade de beber. Mesmo tendo em conta as características do ano agrícola, o perfil destes vinhos é intocável e ano após ano o consumidor sabe perfeitamente o que vai encontrar. Recordo a história do pai de um amigo, francês e conhecedor dos bons vinhos de França, que quando vem a Portugal e encontra o Esporão Reserva Tinto já não bebe outra coisa. Esta fidelização não acontece por acaso, é fruto de um trabalho de várias décadas que teve início em 1985, quando foi lançado o primeiro Reserva do Esporão. São assim os clássicos.

Recentemente tive a oportunidade de provar algumas novidades que me foram enviadas pelo Esporão, às quais juntei o Reserva Tinto de 2018 que tinha na minha garrafeira, pois achei que seria uma boa ocasião para o provar também. A prova foi feita na companhia de alguns amigos, consumidores normais, ainda sem tiques de snobismo, onde tivemos a possibilidade de trocar opiniões e eleger preferências.

Começámos pelo Bico Amarelo 2021, o branco que o Esporão faz na Quinta do Ameal, na região dos Vinhos Verdes. Há quem não simpatize com a expressão “vinhos de verão”, mas a verdade é que o perfil deste Bico Amarelo me remete para o tempo quente e para momentos agradáveis e descontraídos, onde só queremos um vinho leve e fresco, com boa fruta e acidez. Este 2021 mantém a fórmula do ano anterior, com um lote de Loureiro (da sub região do Lima), Alvarinho (de Monção) e Avesso (de Baião), no registo habitual de um perfil leve, com excelente acidez e uma boa presença de fruta, assente nos citrinos e um leve floral, tudo comedido e equilibrado. Fiquei com a sensação que estava com um pouquinho de menos presença de boca que o 2020, mas também pode ser impressão. É um vinho que gosto e compro habitualmente, principalmente nos meses de mais calor. Por menos de 5€ conseguimos uma boa relação qualidade preço.

Depois descemos ao Alentejo, a Reguengos e à Herdade do Esporão para o Reserva Branco de 2020. Uma imagem de marca destes vinhos são os seus rótulos personalizados, onde todos os anos é convidado um artista plástico para os ilustrar. Em 2020 foi o pintor Jorge Queiroz, que se inspirou em Dionisio, o deus grego do vinho. O Esporão Reserva Branco 2020 é produzido exclusivamente com uvas provenientes da Herdade do Esporão e é um blend de Arinto, Roupeiro, Antão Vaz e uma pequena percentagem de outras castas, vinificado em inox e barricas, seguindo-se um estágio de 6 meses também em inox e barricas novas de carvalho francês. Curioso referir que as primeiras colheitas do Esporão Reserva Branco eram fermentadas em barricas novas de carvalho americano, mas a partir dos anos 2000 passou a ser utilizado o carvalho francês. Este 2020 é a segunda edição com certificação biológica e vem na linha do 2019, com um perfil sério e focado, com a barrica muito bem proporcionada, num perfil rico e equilibrado, onde as sugestões de citrinos, fruta branca e especiarias, encaixam bem numa acidez fina e afirmativa, que contribui para um final de boa persistência. Está jovem, vai ganhar com o tempo de garrafa, mas já dá uma excelente prova.

De seguida entrámos nos tintos, com o Esporão Colheita Tinto de 2020, um lote de Touriga Nacional, Aragonez, Touriga Franca, Cabernet Sauvignon e Alicante Bouschet, vinificado em cubas de betão, onde estagia por seis meses, seguindo-se um segundo estágio em garrafa por mais quatro meses. Frutado, de corpo médio e fresco, é um tinto muito bem feito, saboroso e polivalente à mesa, com um tanino fino que lhe dá garra, num estilo consensual que agradará a todos.

Para o final ficaram guardados os dois Esporão Reserva Tinto, das colheitas de 2018 e de 2019. Originalmente estes vinhos eram um lote de Aragonez, Trincadeira e um pouco de Cabernet Sauvignon, entretanto têm sido introduzidas novas castas e hoje o lote é composto por Aragonez, Trincadeira, Syrah, Touriga Nacional, Touriga Franca, Cabernet Sauvignon e Alicante Bouschet. O vinho habitualmente é fermentado em inox, em cubas de betão e lagares de mármore, fazendo depois a segunda fermentação exclusivamente em inox. Segue-se o estágio de 12 meses em barricas de carvalho americano e francês, complementado por mais 8 meses de estágio em garrafa. Dentro do perfil habitual do Esporão Reserva Tinto temos aqui duas colheitas com alguma diferença. Ambas ainda jovens, mas o 2018 a mostrar mais frescura e equilibrio, enquanto que o 2019 mostra-se mais frutado e guloso, com a barrica presente, num estilo muito atractivo, com corpo e volume sem pesar, e um final de boa persistência. Diria que nesta fase está mais gastronómico o 2018 e mais consensual o 2019, ambos dentro da expressão habitual deste clássico do Alentejo. A colheita de 2019 é mais um marco na história deste vinho, com o primeiro Reserva Tinto com certificação biológica.

Em 2017 participei num jantar de vinhos dos anos 80 onde apareceram 2 Esporão Reserva Tinto, das colheitas de 1986 e 1987, juntamente com outros clássicos da época como os Grantom, os Luis Pato, os Porta dos Cavaleiros, etc… Ambos os Esporão estavam excelentes, a dar uma grande prova, mas o 86 tinha uma evolução fantástica e foi mesmo dos melhores da prova. Isto para dizer que a maioria das vezes bebemos estes vinhos cedo demais, ignorando a sua capacidade de envelhecimento.

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