Na última passagem por Trás os Montes, aquando do cruzeiro pelas Arribas, comprei alguns vinhos na loja do Centro de Turismo Ambiental Luso Espanhol em Miranda do Douro. Existe uma loja de souvenirs e de produtos locais, entre eles vinho, junto ao cais de embarque do cruzeiro, que tinha um conjunto de vinhos portugueses e espanhois para venda. Eram todos vinhos daquela zona geográfica. Os portugueses rondavam quase todos os 20 / 25€, enquanto que os espanhois poucos passavam dos 10€. Como não conhecia/conheço quase nada da mais recente DO espanhola das Arribes (criada em 2007) a escolha foi fácil.
Um dos vinhos que trouxe foi este Ecléctico Branco 2019, que me despertou desde logo a atenção, primeiro por ser um monocasta de Puesta en Cruz, uma casta que pensava nunca ter bebido (até descobrir que se trata da Rabigato), depois por ter uma tiragem de apenas 597 garrafas e, o impulso final, por se encontrar à venda a 10,80€. Pareceram-me argumentos mais que suficientes para comprar este vinho do produtor El Hato y el Garabato.
O Ecléctico Barrica é, conforme já referi, um monocasta de Puesta en Cruz, com vinhas localizadas muito próximas do Rio Douro, em Fornillos de Fermoselle, na provincia de Zamora. É um branco de pouca intervenção, fermentado com leveduras indígenas e com estágio em barrica usada. Mostra uma ligeira redução inicial no aroma, fruta branca, citrinos e sensações minerais. De boa estrutura, largo, com boa profundidade, tem uma acidez demasiado presente, que é um pouco atenuada por um saboroso traço mineral no final de boca. Por 10€ é decididamente uma boa compra, pois mesmo sendo um vinho relativamente barato consegue ser distinto e fugir do óbvio. Se expressa bem a casta naquele lugar isso já não sei dizer, mas de facto encontramos alguns traços comuns aos Rabigato do Douro. Existem mais duas versões deste vinho, uma com Lias e outra com Curtimenta, é preciso por isso ter em atenção o nome do projecto no rótulo.
Sobre o El Hato y el Garabato resta dizer que se trata do projecto do casal José e Liliana, ele enólogo e viticultor, ela com formação em wine business. Ambos trabalharam e viveram em Barossa Valley, Australia e California, até regressarem às arribas para continuarem a tradição dos seus avôs em produzir vinho. José, durante o seu percurso profissional, também passou pelo Dominio del Bendito, em Toro e pela Niepoort Vinhos, no Douro.