Os últimos doze meses têm sido em cheio para a Quinta do Pôpa. Em Dezembro do ano passado, o projecto duriense liderado por Stephane e Vanessa Ferreira, apresentavam ao mundo o seu novo topo de gama, o Homenagem Tinto 2009, um vinho de tributo ao seu avô Francisco Ferreira. Mais tarde, com o Verão a pino, davam a conhecer o arrojado Feeling Grape – Oporto Wine & Food Atelier, um espaço de eventos inserido num antigo e reabilitado edifício da cidade do Porto. E agora, antes do ano terminar, aí estão eles com mais novidades, desta vez com o Pôpa Art Projects, um projecto artístico, paralelo e complementar à actividade da Quinta do Pôpa.
Lembro-me, como se fosse hoje, da primeira vez que ouvi falar da Quinta da Pôpa. Foi através do Ricardo Bernardo, que tinha chegado de uma viagem ao Douro e me ofereceu uma garrafa de Quinta do Pôpa Vinhas Velhas 2007. Lembro-me também, de na altura, o vinho não me ter marcado por aí além, mas foi o suficiente para ter ficado com aquele nome na cabeça e a curiosidade de saber mais sobre o projecto. Depois de ir provando, aqui e ali, os seus vinhos, foi com a visita dos Desafios da Adega à Quinta do Pôpa que fiquei a conhecer a sua historia e a totalidade dos seus vinhos. Uma visita memorável, num local muito bonito, com uma decoração cuidada, pouco vista noutras adegas. Quando encontramos numa adega uma sala de barricas decorada como a nossa sala de estar percebemos que estamos perante um produtor diferente. E é isso que o mundo do vinho em Portugal precisa, gente nova, irrequieta, que abane o sector com ideias inovadoras e não fique limitada com o ruído que essa irreverência possa provocar.
Não é por isso, para quem acompanha esta aventura desde o início, uma surpresa este Pôpa Art Projects. Até porque os mais atentos lembram-se certamente da primeira incursão por estes caminhos mais ousados com a colecção Lolita & MILF para a Wine on the Rocks.
A ante-estreia deste filme noir rodado nos socalcos do Douro aconteceu no restaurante Taberna Tosca, ao Cais do Sodré, em Lisboa. E neste primeiro episódio, assinado pelas produções Pôpa Fiction e com o título Colecção de Vinhos #001, temos três protagonistas, em forma de garrafas de um litro, inspirados no universo de Pulp Fiction, de Quentin Tarantino, mas também muito, acrescento eu, nos Comics da Marvel.
Hot Lips, In the Flesh e The GrapeEscape, são os três personagens desta história, todos tintos e cada um de estilo diferente. O Hot Lips é a miúda gira, boazinha, de trato acessível, com quem qualquer mãe quer casar o seu filho. Está redondo, guloso, com fruta preta madura, mas atenção não é um vinho óbvio e directo. Tem um tanino fino e uma acidez que não o deixam resvalar para “uma qualquer”.
O In the Flesh é a femme-fatale desta história. O amor proibido, a tentação e o desejo engarrafados. Com um traço vegetal que nos transporta mais rapidamente para a região, é um vinho mais adulto, com mais estrutura e frescura.
O The GrapeEscape é o vilão, astuto e de trato difícil, que pela sua rebeldia e irreverencia melhor define este primeiro episódio do Pôpa Art Projects. Notas vegetais e de couro, num vinho ainda jovem, com taninos e uma acidez bem presente. A fruta preta e a barrica compõem o conjunto e deixam a ideia de um mau-da-fita de grande longevidade.
Os autores escolheram outros perfis para as personagens, eu é que tive a ousadia de as re-baptizar com as características dos vinhos.
Estão de parabéns, mais uma vez, os Netos do Pôpa, com esta nova aventura em forma de lado b da Quinta do Pôpa. O lado alternativo onde o vinho anda de mãos dadas com a arte e o design. A Colecção de Vinhos #001 teve a escrita criativa de Ricardo Henriques e Luís Mileu e o design do ilustrador Mário Belém. A enologia esteve a cargo de João Menezes. A edição é limitada a 2500 garrafas e serão comercializadas, a solo ou em pack, ao preço de 29€ cada garrafa. E à imagem dos melhores filmes não falta sequer uma linha, gira de morrer, de merchandising, com tshirts, posters e postais. Um luxo para coleccionadores.