Depois de na década passada termos tido o aparecimento de vários projectos que poderiam pressupor um renascimento dos vinhos do Algarve, lembrando assim de repente os Marquês dos Vales ou a Quinta do Francês, só para dar dois exemplos, a verdade é que a região acabou por nunca se voltar a afirmar e os seus vinhos continuam, regra geral, arredados das mesas dos portugueses.
É por isso notícia sempre que aparece um vinho do Algarve que nos faz sorrir, como é o caso da boa surpresa que foi este Morgado do Quintão. Lote de Crato Branco (Síria/Roupeiro) com vinhas velhas (50 anos), fermentou e estagiou durante 6 meses, metade do lote em barrica e a outra metade em inox. Aromático sem exuberâncias, citrinos, fruta verde, ligeiras notas florais, tudo muito subtil, sem se dar pela barrica, fresco e salivante, termina profundo e persistente, com uma acidez fina a prolongar o final de boca. Gostei. Pareceu-me ainda jovem, com potencial para ganhar mais dimensão com o tempo de garrafa.
Não é um vinho barato, tendo no segmento concorrência feroz, mas merece ser conhecido, principalmente por nos fazer lembrar que é possível encontrar bons vinhos na escondida região algarvia. Custa 18€ em compra directa na loja do produtor. Além de não cobrarem portes, até ao final do ano 1€ por cada garrafa vendida é doado à Cruz Vermelha Portuguesa para ajudar o combate à Covid 19.
O Morgado do Quintão é um projecto de enoturismo localizado em Lagoa, situado numa propriedade do século XVIII pertença do antigo Conde de Silves. Na parte vitivinícola, orgulham-se de ter algumas das mais antigas vinhas da região e através de algumas castas autóctones, como a Crato Branco ou a Negra Mole, produzirem vinho de forma “natural e de baixa intervenção” através das vinhas biológicas da propriedade.