O Verão vai a pique, traz mariscos, peixe e saladas, tudo ligeiro e sem gordura, a pedir vinhos frescos e leves. Finais de tarde ao ar livre, com petisqueiras e gargalhadas, dão o mote a mais três vinhos bebidos nos últimos tempos. O último foge à regra, é Porto rico e estruturado, para quando chega a brisa da noite.
Lembro-me, como se fosse hoje, a primeira vez que provei os vinhos da Quinta de San Joanne. Foi há uns Encontro com o Vinho atrás, quando um amigo me levou ao stand da Casa de Cello para “provar uns vinhos porreiros”. Uma senhora de aspecto frágil e delicado, com olhos brilhantes e sorriso fácil, que parecia ter nascido para aquilo, teve a amabilidade de nos dar a provar todos os vinhos que tinha trazido para aquele certame. A paixão com que falava dos vinhos – que com o desenrolar da conversa viemos a saber seus – destacava-se do discurso, muitas vezes oco e formatado, destas ocasiões. Lembro-me até de termos ficado muito impressionados (eu fiquei, quero acreditar que os outros também) com um branco de proveta idade e de termos saído dali com uma receita de Raia au Beurre Noir para harmonizar com o mesmo. Já na altura era um fan de brancos e 30 minutos bastaram para me fidelizar à marca.
Daí para cá são vinhos que provo e bebo com frequência, como o caso deste San Joanne Terroir Mineral 2012, um best value que devia ser presença obrigatória de Verão nos lares deste país. Entrada de gama dos San Joanne (abaixo o produtor ainda tem o Leiras Mancas), Loureiro e Avesso, provenientes da sub-região de Amarante, onde está localizada a Quinta de Cello. Fruta e mineralidade em grande harmonia, citrinos, frescas notas vegetais, para um vinho elegante, que não tendo grande complexidade, dá imenso prazer neste período mais quente. Acidez afirmativa que vai bem com mariscos temperados com manteiga e molho de limão, como umas gambas grelhadas por exemplo. Faço questão de todos os anos me esquecer de umas garrafas no fundo da garrafeira para daqui a uns anos ver como estão, as surpresas costumam ser boas. Custou-me cerca de 5€ num dos mais recentes Adegga Winemarket (16).
Os vinhos da Casa de Mouraz, de António Lopes Ribeiro e Sara Dionísio, são outros que me acompanham desde o início do meu percurso de enófilo. A porta de entrada para a marca foram os brancos do Dão, onde foram pioneiros na produção biológica e biodinâmica, prática que mantêm em todas as regiões onde hoje produzem. Este AIR, produzido na região do Vinho Verde, só cheguei a ele muito mais tarde, num dos muitos eventos de vinho que se realizam anualmente no nosso país. Provei, gostei e comprei, mas só mais recentemente, com o despertar do interesse para este estilo de Verdes, entrou na minha lista de favoritos. Em especial este 2011, que está a atravessar um momento de grande felicidade. Loureiro e Azal, nariz de fruta madura, limões, maçãs, quase em calda, boa presença na boca, mas acima de tudo continua leve e fresco. Foi a jogo com uma entrada de Nigiri de Camarão e dominou a língua japonesa com toda a naturalidade. Custou-me cerca de 7€ no Porto Winemarket (16).
Para concluir a troika de hoje, vai bem um Porto. Até porque as noites deste Verão continuam frescas e um Porto na varanda, para terminar a refeição, é sempre bem vindo. Este é um dos meus LBV favoritos do momento, produzido pela Poças, uma das últimas empresas familiares de Vinho do Porto, com várias quintas na região demarcada do Douro. Muito concentrado na cor e no aroma, austero, fechado, químico, vegetal, frutos pretos silvestres. O perfil sério mantém-se na boca, com bastante corpo e estrutura, taninos elegantes, tudo equilibrado e com um final de boca longo. Já dá muito prazer, em especial com sobremesas de chocolate, ou a acompanhar queijos secos, mas merece guarda para abrir mais um pouco. Esta garrafa ofereceram-me, mas costuma aparecer na Flash Gourmet a cerca de 15€ (16,5).