Cada vez que bebo Vila Santa lembrou-me de um colega com quem já trabalho há mais de 10 anos e que tem neste vinho o seu tinto de eleição. O Nuno não é um grande apreciador de vinho, bebe, quase sempre socialmente, mas é a cerveja que impõe lei nas suas preferências para acompanhar as petiscadas que tanto gosta. Já o aturo, e ele a mim, há muito tempo e por isso conheço os seus gostos de ginjeira. Sal, muito. Gordura, também muita. Enchidos, porco, etc… E vinho, algum, de preferência tinto, redondo e alentejano. Apesar desta dieta, o Nuno é magro e não tem colesterol, o que só por si já é motivo suficiente para o odiar de morte.
Voltando aos seus gostos vínicos, não podiam ser mais antagónicos aos meus. Brancos nem pensar, tanta acidez que horror. Tintos, alguns, desde que frutados, redondos e com acidez comedida. Perante este cenário, é fácil de ver, pobre criatura, as sessões de evangelização que já teve de me aturar. Bom, mas o Vila Santa aparece neste enredo precisamente naquela parte em que é o único vinho (neste momento estou a exagerar para dar mais carga dramática à história) em que eu consigo beber alegremente na sua companhia sem fazer caretas (ainda me lembro das suas quando lhe espetei com um Bágeiras). O Vila Santa é por isso o yin yang da minha relação vínica com o Nuno e a primeira e óbvia escolha quando vou jantar a sua casa.
Passemos agora ao vinho. João Portugal Ramos é uma figura incontornável da enologia portuguesa e um grande embaixador dos vinhos de Estremoz, onde se encontram as suas vinhas. Criou a marca Vila Santa em 1991 em homenagem à rainha santa que por ali viveu no século XIV e que ficou para sempre ligada à cidade. Curiosamente uma marca que nasceu para o mercado de exportação e que só mais tarde, em 1997, passou a ser comercializada em Portugal, ano que coincide com a construção da Adega Vila Santa. Estamos pois perante um vinho com longa história. Mais recentemente, no final da primeira década do século XXI, passou a ter a designação de “Reserva” e a englobar sob o mesmo chapéu os monocastas produzidos na casa.
Esta colheita de 2013 traz um lote com Aragonez, Touriga Nacional, Syrah, Cabernet Sauvignon e Alicante Bouschet e estagiou durante 9 meses em barricas novas. Intenso na cor violeta. Aroma poderoso, onde as notas de fruta preta e azul aparecem em bom diálogo com um lado vegetal e de especiarias. Também há notas tostadas mas com conta, peso e medida. Na boca a entrada é vigorosa e com acidez fina que segura bem o vinho. Cheio, saboroso, de taninos finos, acaba num final longo e de boa persistência. Bebe-se muito bem, mas com mais um tempinho de garrafa parece poder dar ainda melhor prova (16,5). Encarem-no com umas bochechas estufadas.
Constata-se que o Vila Santa está de boa saúde e recomenda-se. Por cerca de 10€ é um vinho que ano após ano tem mantido o selo de boa compra e continua a ter características para agradar a gregos e troianos, algo que não é fácil. À tua Nuno.