Inexplicavelmente nunca tinha falado aqui nos vinhos e no projecto de Verónica Ortega, a actual menina bonita do Bierzo e uma das mais emocionantes protagonistas da actual cena do vinho espanhol.
Depois de ser ter formado e estagiado em diversas casas produtoras, entre elas o Domaine de la Romanee-Conti e a Niepoort, Veronica Ortega deu início em 2010 ao seu projecto pessoal e começou a produzir os seus próprios vinhos. Sendo andalusa, de Cádiz, não foram as suas origens que a atrairam para o Bierzo, mas sim as potencialidades das vinhas velhas desta denominação de origem, que é parte integrante da região de Castilla y León. Ao início a sua produção era muito pequena e só tinha uma referência, o Veronica Ortega ROC, um tinto de vinhas velhas de Mencia que se tornou durante os anos seguintes a sua imagem de marca. Pouco tempo depois lançou o seu entrada de gama Quite, também ele um monocasta de Mencía (a casta mais emblemática do Bierzo), num registo mais fresco e descomplicado, mas que nem por isso deixa de ser um belo vinho. Nesta fase Verónica ainda não tinha uma adega própria e os seus vinhos eram vinificados na adega do amigo Raúl Pérez.
Finalmente em 2014 estabelece-se na sua própria adega, localizada em Valtuille de Abajo, sendo a partir desse momento que o seu trabalho se começou a desenvolver e o seu nome a ganhar protagonismo na cena do Bierzo. Com a colheita de 2015 chega o seu primeiro branco, o CAL, que ainda hoje é uma das maiores referências dos brancos do Bierzo, seguindo-se logo no ano seguinte o excelente Cobrana, proveniente de uma vinha descoberta nesta vila. Trabalhando em modo biológico e com um princípio de pouca intervenção na adega, os seus vinhos são vinificados de forma singular e isso reflecte-se no resultado final. O único vinho fermentado em inox é o já referido Quite, todos os outros são vinificados em grandes tinas de madeira abertas ou em tinas de plástico, enquanto que os estágios passam por ânforas de barro, barricas de várias dimensões e foudres. As produções foram aumentando e novos vinhos surgindo, mas há referências que continuam a ter uma tiragem muito reduzida, o que origina uma grande procura e por consequência a subida dos preços.
Mas o principal motivo que originou esta publicação foi o Veronica Ortega Cal 2018, que bebi recentemente. Os solos calcários não são muito comuns no Bierzo e encontrar um branco nascido neste tipo de solo, como acontece com o Cal (daí a origem do nome), é uma raridade. As uvas de Godello são provenientes de uma vinha em San Juan de la Mata e o vinho é fermentado e estagiado durante 10 meses, uma parte em barricas usadas e outra parte em ânforas de barro. Este método pode variar consoante a colheita e as necessidades do processo. O resultado é um branco com carácter, com 12,5% de álcool, elegante e complexo, com um travo salino e uma acidez vibrante que lhe confere uma frescura e persistência invulgares. É um vinho distinto da grande maioria dos brancos do Bierzo e para muitos é mesmo considerado o melhor da região. É esta originalidade e precisão, características extensíveis a outros dos seus vinhos, que tem colocado o nome de Verónica Ortega nas bocas do mundo. Os seus vinhos são cada vez mais procurados e os preços têm disparado. Este CAL, por exemplo, duplicou o preço no espaço de dois anos.