Hoje volto ao Bierzo, à região de Castela y Léon que faz fronteira com a Galiza (a Oeste) e com as Asturias (a Norte) e que nos últimos anos se tem revelado, no que toca aos vinhos, como uma das zonas mais excitantes do país vizinho. Mas nem sempre foi assim. Durante muitos anos o Bierzo produziu essencialmente vinhos tintos da casta Mencía (o nosso Jaen) que eram consumidos nas regiões vizinhas, principalmente na Galiza, onde o foco da produção eram os vinhos brancos. Eram vinhos simples, a bom preço e que se bebiam bem, mas que nunca conseguiram atingir um grande estatuto no horizonte vínico espanhol. Chegou mesmo a dizer-se que a casta Mencía não dava para mais e que ficaria confinada a produzir vinhos menores. Mas nos finais dos anos oitenta, com a criação da denominação de origem (DO Bierzo), ocorreu a famosa “revolução do Bierzo” e os vinhos desta zona montanhosa do Norte de Espanha ganharam uma nova vida.
O nome de José Luis Prada ficará para sempre ligado ao sucesso deste novo Bierzo, pois foi ele um dos principais precursores desta mudança. Mas também Álvaro Palácios, Ricardo Pérez Palácios e numa fase posterior, Raúl Pérez, foram figuras que contribuiram definitivamente para esta afirmação da região no mapa dos grande vinhos espanhois. A sub-região do Alto Bierzo é a mais valorizada, com as suas vinhas velhas em zonas montanhosas, de onde surgem a maioria dos grandes vinhos de toda a DO, enquanto que no Baixo Bierzo, com a sua orografia mais plana, propicia a produções de maior volume, de onde saem vinhos para consumo mais imediato. Nas castas, a Mencia domina os grandes vinhos da região, mas também a Garnacha Tintorera (Alicante Bouschet) e algumas castas francesas ajudam a compor os lotes dos tintos, enquanto que a Dona Blanca e a Godello são as principais responsáveis pelos cada vez melhores brancos que o Bierzo também é capaz de produzir.
Hoje o assunto é um tinto, de um projecto chamado Camino del Norte, do empresário Luis Fernández, que entrou nesta joint venture com o inevitavel Raúl Pérez. Luis Miguel Fernandéz, é uma figura do vinho espanhol, sommelier, ex director comercial de alguns importantes produtores espanhois e agora também ele do lado da produção. Juntamente com o enólogo Raúl Pérez, para muitos o melhor de Espanha na actualidade, criaram este projecto onde assumem querer produzir vinhos “frescos, elegantes e muito exclusivos”, palavras dos próprios. Para isso trabalham vinhas muito velhas nas zonas montanhosas do Bierzo, entre Valtuille e Cacabelos, que dão origem a três referências: este El Soradal que hoje falo, o El Tesón e o La Pestana, que são os dois topos de gama, se assim se podem chamar.
Este tinto é um lote de 92% de Mencia proveniente de uma parcela de vinha muito velha, chamada El Soradal, situada em Valtuille e 8% Petit Verdot. Depois de vinificado numa grande tina de madeira usada, estagia durante 13 meses em barricas de carvalho e são produzidas apenas cerca de 5000 garrafas. O vinho tem uma excelente presença aromática, muito fiel à casta e à região, com notas de fruta vermelha madura, envolvidas por muitas sugstões terrosas, especiadas e algum mineral. Na boca tem boa profundidade e frescura, complexo, mineral, de taninos finos e acidez perfeita, num conjunto de carácter e muito bem conseguido. Está uma delícia. E a expectativa é que ainda melhore com o tempo de garrafa. É um excelente vinho e um óptimo exemplo das capacidades das vinhas velhas de Mencia quando bem tratadas.
O El Soradal custa 17,95€ e, assim como as outras referências do produtor, pode ser adquirido na loja online dos próprios.