Já trouxe aqui tantas vezes os vinhos de López de Heredia que é natural que me acabe por repetir nos encómios que lhes faço. Peço-vos desculpa, mas não consigo disfarçar que este é um daqueles casos em que a emoção vem à frente da razão. Num mundo e numa indústria ávidos de novidades, o tempo continua a correr devagar em López de Heredia, quase de forma provocante, sem ceder um milímetro a estímulos comerciais. Cultivam orgulhosamente a filosofia de fazer as coisas sempre iguais e não é por acaso que têm o estatuto de clássico dos clássicos.
Para terem uma ideia do que falo, para os menos familiarizados com este produtor, os seus vinhos topo de gama, os Vina Tondonia Grande Reserva, chegam a sair para o mercado 20 (vinte!) anos depois da colheita. São verdadeiros ícones, procurados em todo o mundo e que esgotam num ápice. Este Gravonia, apesar de ser o “entrada de gama” dos brancos é igualmente muito procurado e quando surge no mercado também esgota com muita facilidade. Afinal de contas é um entrada de gama que apesar de ostentar o selo de Crianza chega ao mercado com quase dez anos de estágio.
Os Viña Gravonia têm origem na vinha com o mesmo nome que fica localizada na Quinta Zaconia, uma propriedade próxima da adega que tem exclusivamente uvas brancas. Estes vinhos ao início chegaram mesmo a chamar-se Viña Zaconia e eram vinhos doces, produzidos com botrytis à imagem dos vinhos doces de Sauternes. Hoje, a Viña Gravonia, com cerca de 60 anos, produz o vinho homónimo que é um monocasta de Viura em que a fermentação acontece em grandes toneis de madeira, para depois estagiar durante 4 anos em barricas usadas, com trasfegas de 6 em 6 meses. Após este processo e antes de chegar ao mercado, o vinho ainda estagia mais 4 anos em garrafa. Mais palavras para quê?
O resultado é um vinho de cor dourada, a mostrar evolução, com aromas terciários de frutos secos, resinas, cogumelos, tudo embalado pelas notas frescas dos citrinos que nesta colheita estão mais evidentes. Na boca achei-o menos evoluído, menos estruturado, mais fino e fresco, sem deixar de ter o carácter clássico e seco dos brancos de López de Heredia. Comparado com os brancos da marca Tondonia este é um vinho mais simples, menos complexo, mas ainda assim um vinho maravilhoso, saído da colheita de 2011 que foi considerada de excelente pelo Conselho Regulador da Rioja.
Aproveito esta publicação em época natalícia para desejar a todos um Feliz e Santo Natal, com muita saúde e alegria, se possível com bons vinhos à mesa e no sapatinho.