Quem diria que depois de uma primeira experiência desastrosa, a minha relação com os projectos de restauração de Henrique Mouro se iria tornar tão sólida e fidelizada. É assim este mundo. Até numa noite má se pode conquistar um cliente, haja humildade e sensatez para o conseguir.
É que depois daquele primeiro jantar no Assinatura – ainda em modo de pré-abertura é certo, reforce-se em abono da verdade – seguiram-se outros de grande nível, alguns mesmo inesquecíveis e que foram responsáveis pela forma como me rendi à cozinha deste chefe lisboeta.
Henrique Mouro, apesar de pouco mediático, é um dos cozinheiros portugueses mais respeitado e conhecedor do aventureiro mundo da restauração. Já cá anda há uns anos valentes, o que certamente lhe confere uma experiência e conhecimento indispensável para enfrentar com algum conforto a abertura de um novo projecto. Agora, para bem dos nossos pecados, fixa-se no bairro lisboeta onde todos querem estar e regressa com o Bagos Chiado, uma nova aventura onde o arroz tem o papel principal.
O restaurante, de média dimensão, fica localizado numa zona mais reservada do bairro do Chiado, fora do bulício das artérias principais e divide-se em dois pisos. O de cima, por onde entramos, mais luminoso e onde nos dão as boas-vindas, e o de baixo, que apesar de ter menos luz natural, é mais acolhedor e intimista, com a cozinha aberta virada para a sala. A decoração e o mobiliário são simples, entre o preto e o branco, com cadeiras de design em plástico e mesas de tampos finos que mostram alguma fragilidade. Percebe-se que, ao contrário do Assinatura, o investimento na sala foi mais parco.
Nesta primeira visita optámos pela sala do piso de baixo, de frente para a cozinha, de onde veio a sugestão de explorar a carta a partir do Menu do Chefe, o primeiro menu degustação desenhado por Henrique Mouro para o Bagos Chiado. Além das opções à carta, havia ainda dois menus de almoço, um a 12€ e outro a 15€. A um dia de semana ao almoço, a sala de baixo estava praticamente cheia, a de cima vazia. Passemos ao essencial…
Que bom é saber que Henrique Mouro está de volta e em grande forma. De mão afinada, continua a recriar a nossa cozinha regional, mas agora, pareceu-me, e em comparação com o trabalho que desenvolvia no Assinatura, num registo mais comedido, onde a cozinha de conforto ganha espaço em detrimento de alguma sofisticação.
O menu que comemos, em que o arroz é um elemento transversal a todos os momentos, estava uma delícia. Nada pesado, ao contrário do que se poderia suspeitar, é um menu onde podemos encontrar alguns pratos clássicos de Henrique Mouro intercalados com outros que podem dar uma ideia da direcção que este Bagos pode seguir. Os sabores fortes e a utilização de citrinos para conferir alguma frescura e contraste aos pratos já é uma imagem de marca do chefe e continuam bem presentes. De resto, bons produtos, preparações no ponto e sabores bem nossos. Excelente refeição.
Palavra final para o serviço de sala e vinhos. O primeiro, jovem, simpático, foi eficiente, apesar de ser necessário olear mais a máquina. O segundo, à semelhança do que já nos tinha habituado no Assinatura, um exemplo para muitos espaços de restauração. É que aqui apetece beber vinho. Não só as opções da carta são óptimas, como os preços, tendo em conta o segmento em questão, são de uma sensatez tal que o vinho tem presença assídua nas mesas do Bagos Chiado. Bebeu-se Quinta de Sanjoanne Terroir Mineral 2011 e, a copo, Quinta Mendes Pereira Tinto 2012. Serviço, copos e temperaturas irrepreensíveis.
Está de parabéns Henrique Mouro por este novo projecto. Sóbrio, entusiasmante, profundamente realista. Ganha a cidade um novo porto de abrigo, a preços honestos, que apetece ir vezes sem conta.
Bagos Chiado
R. António Maria Cardoso 15B, 1200-026 Lisboa
Tel: 213420802
Fecha ao Domingo e Segunda.
Preço médio sem vinho: 35€