Casa da Passarella

E assim termina a primeira etapa da nova vida da Casa da Passarella, de alicerces sólidos, lançados para o futuro. A nós, apaixonados pelas histórias escritas com vinho, resta-nos aguardar pelas próximas páginas de um livro que já leva mais de 120 anos e ainda longe de terminar.

Casa da Passarella

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A Casa da Passarella é uma propriedade histórica da região do Dão, com uma história que remonta ao final do século XIX, quando começou a ser responsável, à época, por alguns dos mais famosos vinhos da região. Uma propriedade de tal importância que o lugar onde hoje se encontra herdou o seu nome. Foi este Lugar da Passarella que ao longo do século XX testemunhou histórias fantásticas, algumas delas relacionadas com judeus fugitivos que ali procuraram abrigo das perseguições nazis.

Esta época de ouro deu lugar a um período de algum declínio que foi interrompido em 2008 com a aquisição por parte dos actuais proprietários. Foi neste momento, ao assumirem toda a produção da quinta, com um trabalho de vinicultura profundo e também com a recuperação do património edificado da propriedade, onde se inclui a adega, que o nome da Casa da Passarella voltaria a ser falado no mundo do vinho. Desde aí que a enologia está a cargo de Paulo Nunes.

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E foi precisamente o enólogo Paulo Nunes (na companhia de Miguel Pereira do departamento comercial) que nos recebeu no Restaurante Claro! para a primeira apresentação pública dos vinhos da Casa da Passarella. E esta apresentação acontece agora porque, na sua opinião, só ao fim deste tempo, quatro colheitas depois, se consegue uma consistência indispensável para se concretizar um jantar-apresentação deste tipo.

Enquanto Paulo Nunes nos falava do profundo trabalho de reestruturação que foi necessário fazer na vinha, os vinhos começaram a desfilar.

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A casa passará a ter duas linhas de vinhos, a estabelecida e os vinhos fugitivos. Estes últimos fogem dos cânones, são originalidades que vão bater à porta do enólogo, não serão regulares em portefólio e por isso sem a consequente pressão comercial.

O branco, que chegará ao mercado mais para o final do ano, é feito a pensar no envelhecimento, o tradicionalmente chamado “garrafeira”. Metade Encruzado e metade vinhas velhas, mostrou-se fresco e contido, com citrinos verdes em harmonia com o lado mineral, barrica muito subtil, perfeitamente integrada, num conjunto todo ele marcado por uma grande elegância. Tudo indica que estes meses dentro da garrafa o ajudarão a afinar mais pelo que as expectativas são as maiores para quando chegar ao mercado. Conta-se que O Fugitivo Branco 2013 chegue às prateleiras na ordem dos 15€.

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O tinto foi a grande surpresa da noite. Apelidado de O Fugitivo Vinhas Centenárias 2012, mostrou-se pouco concentrado na cor (uma tendência que tenho assinalado em cada vez mais vinhos), apelativo no aroma, acidez muito fina, num conjunto de grande elegância e com final de bom comprimento. Proveniente de várias parcelas de vinhas muito velhas, ainda está jovem mas a perspectivar mais um grande tinto para o Dão. Também só verá a luz do dia lá mais para o final do ano, este provavelmente mais na casa dos 20€.

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A casta Alfrocheiro foi das que mais se destacou na colheita de 2011 e por isso deu lugar a este Enxertia 2011. É esse o conceito desta referência. Nariz atractivo, balsâmico e floral, distinto, intenso na boca, acidez a equilibrar todo o conjunto. Anda pelas prateleiras na ordem dos 12€ e para quem gosta da expressão da casta a solo tem aqui uma boa referência.

Provaram-se ainda o Descoberta Tinto 2011, que assume o lugar do colheita na gama da Casa da Passarella. Já disse anteriormente que esta secular propriedade entre Vila Nova de Tázem e Gouveia, com a Serra da Estrela ali ao lado, está cheia de histórias e são algumas delas que vão inspirando os nomes dos seus vinhos. A descoberta de uma caixa, aquando da reabilitação da quinta, com um documento que distribuía os valores contidos na mesma, inspirou o nome para os “entrada de gama” do produtor. Alfrocheiro, Roriz, Jaen e Touriga Nacional, para um vinho apelativo na fruta, directo e redondo, que tem a responsabilidade de abrir as portas da marca aos consumidores. Por 3,99€ temos um bom exemplo de como é possível a convivência do moderno e do tradicional nos vinhos do Dão. Se ficaram curiosos sobre os valores contidos na caixa deixo a ligação para toda a história.

Para concluir a prova andou-se à volta de um vinho que chegou recentemente ao mercado, o Abanico Tinto 2011. O Reserva da casa é feito maioritariamente de Touriga Nacional, mas também de Jaen e Alfrocheiro, onde metade do lote estagia em barrica nova. Aromático, com flores e fruta preta, taninos presentes, ainda muito jovem mas já a mostrar boa estrutura e persistência. Rondará os 10€ em prateleira.

Restaurante Claro!
Brandade de Bacalhau com Coentros e Pepino.
Restaurante Claro!
Atum com Molho de Leitão
Restaurante Claro!
Porco com Castanha e Marmelada.

O jantar que se seguiu consistiu num menu de cinco pratos idealizado pelo Chef Vitor Claro, que foi harmonizado com mais quatro vinhos. O Enólogo Branco 2013, 100% Encruzado, com estágio parcial em madeira, elegância e frescura para um vinho ainda jovem.  Villa Oliveira Branco 2012, o topo de gama (até ao momento) da casa. Um vinho extraordinário que já tive oportunidade de destacar numa recente lista que fiz sobre os vinhos que não me atreveria a perder no último Adegga Winemarket. O Enólogo Tinto 2011, de vinhas velhas da parcela mais antiga da Casa da Passarella que esteve para ser arrancada e agora produz um dos vinhos mais emblemáticos deste produtor. Um tinto robusto, que volta a trazer modernidade e tradição de braço dado. E para terminar, o Villa Oliveira Tinto 2010, o topo de gama tinto da casa, 100% Touriga Nacional, para um vinho complexo e intenso, a mostrar que a TN, mesmo passando por madeira, não tem de ser enfadonha.

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E assim termina a primeira etapa da nova vida da Casa da Passarella, de alicerces sólidos, lançados para o futuro. A nós, apaixonados pelas histórias escritas com vinho, resta-nos aguardar pelas próximas páginas de um livro que já leva mais de 120 anos e ainda longe de terminar.

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