Quando procurava a melhor localização para servir de base para explorar a região do Mosel, um amigo em comum, batido nestas andanças, foi peremptorio: “tens de ficar no Jan”. O Jan (Matthias Klein) não só é produtor no Mosel e tem uma guest house para enoturismo, como também é membro da grande comunidade global de apaixonados pelo vinho que é a #winelover. Em 2013, se não estou em erro, esteve em Portugal a participar numa edição do Adegga Winemarket e foi por essa ocasião que tive oportunidade de conhecer os seus vinhos. A Weingut Staffelter Hof é uma adega com mais de mil (!) anos, na aldeia de Krov, no Mosel Central, que entretanto foi adquirida pela família de Jan. Desde 862 D.C. que a Abadia Staffelter Hof produzia vinho nesta adega, o que a torna uma das mais antigas do mundo em actividade. No início do século XIX, com a entrada em vigor do Código Napoleónico, a abadia ficou pertença do estado francês até ter sido adquirida em 1805 por Peter Schneiders, um familiar de Jan Matthias Klein. Sete gerações depois é Jan que a gere actualmente, sendo também o responsável pela enologia e tendo a ajuda de seu pai na viticultura e da sua mãe na guest house. A nossa bebida de boas vindas. Um refrescante copo de Riesling seco, proveniente das melhores uvas da vinha de Krov Steffenberg e classificado pela Staffelter Hof como GeGe, em tom de brincadeira com os Grosses Gewachs do VDP. A guest house da Staffelter Hof fica num edifício contíguo à adega e disponibiliza vários quartos duplos e alguns apartamentos. Há muito sossego e uma varanda convidativa para copos de riesling ao final da tarde ao som dos passarinhos. Os pequenos almoços preparados pela mãe do Jan são incontornáveis, autênticos banquetes que revigoram as jornadas à descoberta da região. Há muito amor nestas refeições e nem os arranjos de flores naturais, uma tradição cultural do Mosel, faltam nos pratos do pequeno almoço. O pátio da propriedade tem uma esplanada muito agradável, que se enche às quintas-feiras dos meses de Verão para assistir à Summer Wing-Ding 2018, a programação cultural preparada pela Staffelter Hof. Na quinta-feira que lá estivemos tivemos o prazer de assitir à actuação de Sven Ruppert, com as suas versões acusticas de grandes malhas dos 80’s e 90’s. Admiravel é a forma como as pessoas aderem a estes espectaculos, tornando-os numa verdadeira festa. No bar há muito vinho para degustar, vendido a copo a preços muito cordatos, não só da Staffelter Hof, como de produtores amigos. Para trincar há hamburgueres e especialidades locais e a diversão é garantida. Na altura da visita do Jan a Portugal que falei há pouco, também tive a oportunidade de conhecer a Mari, a refrescante bebida criada por si em 2011. A Mari é um cocktail que se bebe frio, com um ligeiro gás, produzido a partir de uma base de vinho riesling do Mosel e temperado por Mate e bagas doces de sabugueiro. Pode soar estranho, mas resulta lindamente. Entretanto o Jan foi desenvolvendo outros sabores e hoje já são várias as propostas da marca. Chegou a altura de provar os vinhos… Se tivesse de escolher apenas uma palavra para definir estes vinhos, escolheria provavelmente o equilibrio. Porque são vinhos muito bem balanceados entre a doçura da fruta e a acidez acutilante que têm. Os aromas são expressivos às castas e à região, mas sem excessos, tudo com conta peso e medida. A fruta verde aparece em muitos deles, a maçã, mas também os citrinos, depois há um leve toque floral, sem ser enjoativo, principalmente nos vinhos mais novos. Na boca evidencia-se, além da acidez referida, a mineralidade destes solos que, principalmente nos vinhos de gama mais alta, proporcionam uma frescura e complexidade que os tornam muito procurados. A produção é totalmente biológica e busca métodos com a menor intervenção possível. Este Feinherb Paradies, um entrada de gama de 7€, com riesling da vinha Paradies, é um excelente exemplo do equilibrio entre a doçura e acidez. Um vinho para beber descontraidamente mas sem nunca cair no óbvio. O Lobo Magnus é uma presença constante nos rótulos do produtor. Reza a lenda que apareceu um dia aos monges que trabalhavam na vinha e matou o burro que estes usavam no trabalho, tendo ele próprio assumido esse papel. Verdade ou não ainda hoje é o símbolo da Staffelter Hof. Um dos TBA (2007) da Staffelter Hof. A concentração proporcionada pela botrytis para um vinho muito doce com apenas 6% de álcool. Apesar do Mosel ser reconhecido pelos seus vinhos brancos também há espaço para os tintos e a Alemanha é mesmo o terceiro maior produtor de Pinot Noir. E deste gostei particularmente. Expressivo à casta, aberto na cor e com pouca concentração, é um tinto fresco e sério, que se bebe maravilhosamente numa noite de Verão. Arinto e Fernão Pires no Mosel. Sim, não é engano. Trazidas de Portugal por Pedro Marques do Vale da Capucha. Segundo o Jan, a Fernão Pires provavelmente será para arrancar, mas a Arinto deverá já em 2018 entrar no lote do próximo Little Bastard, o rótulo de experiências da Staffelter Hof. A maioria das vinhas da Staffelter Hof distribuem-se em duas diferentes localizações. A primeira está localizada numa zona plana, próxima do rio, na zona sul de Krov, onde estão as uvas que entram nos vinhos de entrada de gama e outras que são vendidas a produtores da região. A segunda, das vinhas onde nascem os vinhos de gamas superiores, encontram-se já nas famosas colinas inclinadas da região. No cimo de uma das vinhas inclinadas, com Krov ao fundo. O símbolo da Ecovin nas vinhas da Staffelter Hof. A associação de produtores alemães que atesta e certifica a produção biológica e sustentável. Resta dizer, para quem ficou curioso em conhecer estes vinhos, que o Jan vende directamente e envia para Portugal com portes muito acessíveis.