Taberna Ó Balcão (Santarém)

Penso que esta publicação demonstra bem a razão do meu entusiasmo pela cozinha de Rodrigo Castelo, é que não são muitos os restaurantes que me levam a fazer 150 km num dia de semana para jantar e regressar noite dentro com um sorriso nos lábios.

Já aqui falei por várias vezes no trabalho de Rodrigo Castelo, seja na sua aventura no Mercado de Algés, seja na incursão ao Portugal de Norte a Sul de Fátima Moura, que levou a gastronomia do Ribatejo ao Terraço do Hotel Tivoli, em Lisboa. Mas faltava o essencial, dar conta do lugar onde tudo começou, a casa-mãe Taberna Ó Balcão, no centro de Santarém.

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E que falta fazia ao distrito de Santarém um restaurante de autor, que pegando nos produtos mais tradicionais da região, pratica uma cozinha moderna mas cheia de memórias. A recuperação de ingredientes locais, pouco vistos neste tipo de cozinha mais sofisticada, como a camarinha por exemplo – um pequeno camarão de rio habitualmente utilizado pelos pescadores do Tejo como isco – tem sido uma imagem de marca de Rodrigo Castelo que tem contribuído para colocar a cozinha do Ribatejo no mapa gastronómico nacional. Aqui temos um excelente exemplo de como a moderna cozinha de autor pode assentar em sabores típicos e dessa forma tornar-se um dínamo para a redescoberta da gastronomia de uma região.

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Esta Taberna Ó Balcão, cujo nome brinca com o sotaque ribatejano (ao/ó), está localizada numa das principais ruas de Santarém e é muito facil de encontrar, mesmo para quem vem de fora e não conhece a cidade. Um espaço acolhedor, decorado com muito gosto, cheio de apontamentos vintage que nos transportam para casa da avó.

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Nestes últimos tempos fiz duas refeição neste Balcão. A primeira, excelente, há uns meses atrás, ocasião em que contactei pela primeira vez com a cozinha de Rodrigo Castelo tendo ficado imediatamente rendido (infelizmente perdi o rasto destas fotos). A segunda, recentemente, no âmbito de uma apropriada #provados7 à volta dos vinhos do Ribatejo, onde foi possível provar alguns clássicos do restaurante mas também algumas inovações da nova carta.

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Camarinha Frita com Cebolada de Pimentos Vermelhos. Uma novidade que tivemos oportunidade de conhecer quase em primeira mão. É possível que o prato ainda venha a ter algumas afinações mas achei que a combinação do sabor e textura do camarão com a cebola e o ovo resultam muito bem. Uma entrada de alma ribatejana para a nova carta do Balcão.
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Aqui temos a mesma formula do prato anterior mas na versão pimentos padron.
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A Camarinha. O camarão pequeno que os pescadores do Tejo utilizam como isco e que Rodrigo Castelo recuperou para a cozinha do seu restaurante. Aqui apareceram simplesmente cozidas e mais que um prato foi uma forma de contactarmos com o produto no seu estado mais puro.
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Depois chegou um Arroz de Caranguejo do Tejo em duas versões, com coentros e com hortelã. De lamber. Os beiços e os dedos. A base para o arroz leva Maçã de Alcobaça e Manga, criando uma textura frutada que em contraste com o sabor característico dos caranguejos e o lado fresco conferido pelas ervas criam um prato delicioso, de comer e chorar por mais. Fui contra-corrente e preferi o de coentros, achei menos impositivo que a hortelã, apesar de ambas as versões resultarem muito bem.
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Passarinhos fritos com Sweet-Chili. Outro prato de comer de joelhos. Um piscar de olho oriental a um prato clássico da nossa gastronomia onde o molho de peixe dá o apuro final.
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Seguia o recital, agora com um prato que trazia os aromas do mar. O Arroz de Lingueirão, com os ditos a chegarem frescos da Foz do Arelho e a darem forma a um conjunto onde o saboroso molho espesso não tirava carácter ao bivalve. A virtude do equilíbrio.

Sem foto, provaram-se ainda um conjunto de outros pratos que nos permitiram apreciar na plenitude a diversidade da cozinha de Rodrigo Castelo nesta Taberna Ó Balcão. Os Croquetes de Rabo de Boi com Mostarda Matizada, o Coelho de Escabeche e a Lombeta com Trilogia de Batata Doce, são já pratos clássicos que têm sempre lugar reservado na carta.

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Ao encontro de todos estes sabores iam desfilando um conjunto de vinhos do Tejo que nos foram mostrando, também nesta vertente, o que a região tem para oferecer. E pessoalmente cruzei-me com duas grandes surpresas, o Quinta do Alqueve Touriga Nacional 2005 e o Fiuza Reserva 1996, dois vinhos que gostei francamente e que estão numa excelente fase de vida.
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Das sobremesas retive a foto e pouco mais. A refeição ia longa, a conversa divertida e a vontade de tomar notas era cada vez menor. Ficou na ideia um Arrepiado com Gelado de Figo e Marmelo Bebado.

Além do apuro das preparações, a Taberna Ó Balcão saúda-nos com um serviço simpático e eficiente e preços muito cordatos. A oferta vínica assenta essencialmente nos nectares da região, o serviço é bom, também a copo, mas penso que existe espaço para melhorar a carta.
Penso que esta publicação demonstra bem a razão do meu entusiasmo pela cozinha de Rodrigo Castelo, é que não são muitos os restaurantes que me levam a fazer 150 km num dia de semana para jantar e regressar noite dentro com um sorriso nos lábios.

Taberna Ó Balcão
Rua Pedro de Santarém 73, Santarém
Tel: 243 055 883
Email: [email protected]
Fecha aos Domingos
Preço médio sem vinho: 20€ (menos se em modo petisco)

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