A recente Peixaria da Esquina (antes Cervejaria da Esquina), em Campo de Ourique, Lisboa, foi o local escolhido para a apresentação das novas colheitas da marca Santos da Casa.
Fundada em 2014, a distribuidora Santos e Seixo, de Alzira Santos e Pedro Seixo, lançaram-se no desafio de ter vinhos próprios. Sem vinhas e sem adega, a estratégia passava por comprar vinho. Quem já tem grande experiência em fazer vinhos sem vinhas próprias nem adega, é Hélder Cunha, da Casca Wines (com quem a Santos e Seixo já trabalhava) e foi por isso o parceiro natural para desenvolver este projecto. Assim nasceram os vinhos Santos da Casa, com um branco e seis tintos, divididos pelas regiões do Douro e Alentejo. Direccionados à grande distribuição, têm um aspecto moderno e cuidado, de imagem impactante, com o objectivo de se destacarem no mar de garrafas das prateleiras dos hipermercados.
Mas esta apresentação, além da prova das novas colheitas, também marca um novo rumo para esta jovem empresa. Hélder Cunha deixa o projecto e a Santos e Seixo começará uma nova aventura, desta feita enquanto produtores dos próprios vinhos. A enologia passará a estar a cargo de Paulo Fiuza Nigra e mais para o final do ano será lançada uma nova marca.
Enquanto isso não acontece fiquemos com a prova do portefólio actual, ainda engarrafado pela Casca Wines:
Um branco do Douro, com Códega de Larinho (50%), Viosinho e Loureiro, de vinhas da região do Pinhão e vinificado exclusivamente em inox. O Santos da Casa Douro Branco 2014 é aromático, de fruta branca madura e citrinos, ligeiro traço mineral, redondo, untuoso, de acidez equilibrada e final de boa persistência. Uma boa surpresa, de um conjunto elegante e que para o meu gosto foi um dos favoritos. Com o preço a rondar os 5€ entra na lista das boas compras.
Passemos aos tintos, primeiro do Alentejo, com o Santos da Casa Alentejo Tinto 2014 e o Santos da Casa Alentejo Reserva Tinto 2011. Aqui entramos num estilo mais moderno, mantendo a intenção de não complicar, com a barrica a mostrar-se num conjunto redondo, macio e muito atractivo. A ligeira doçura no Colheita não fazia falta. Os preços mantêm-se cordatos, na casa dos 5€ o Colheita e de 10€ o Reserva.
Depois regressamos ao Douro, com o Santos da Casa Douro Tinto 2012 e o Grande Reserva Douro Tinto 2010. E estes já os achei mais ao meu gosto. O estilo continua atractivo e moderno, com a barrica melhor integrada e com notas vegetais que lhes conferem outra frescura. Destaque evidente para o Grande Reserva, num estilo mais sério, com alguma complexidade e um leve mineral que nos transporta para a região. 5€ o primeiro e cerca de 20€ o segundo, o que não deixa de ser uma boa relação qualidade-preço.
Palavra final para a Peixaria da Esquina e as iguarias preparadas por Hugo Nascimento para acompanhar os vinhos.
A Peixaria da Esquina herdou o espaço da anterior Cervejaria, renovando-se na decoração e no conceito. A carta passou a dar outra atenção ao peixe e às diversas formas como este se prepara, com destaque para os curados e marinados, mantendo obviamente os pratos mais emblemáticos da antiga Cervejaria.
Para esta apresentação Hugo Nascimento, o chef de cozinha da Peixaria da Esquina (na ausência de Vítor Sobral), preparou um conjunto de pratos que resultaram em harmonizações de grande acerto e ficou provado que a combinação entre peixe e vinho não se esgota nos brancos. Perfeito o Paté de Atum na combinação com o travo doce do Colheita do Alentejo e o Choco Grelhado com Pimentos Assados e Batata Doce com o Grande Reserva. Depois o lado salgado do Espadarte Fumado com Trufas exigiu muito do Tinto do Douro mas acabou por fazer uma boa ligação e a Açorda de Bacalhau com Poejos é que não teve arcaboiço para o Reserva do Alentejo, com este a sobrepor-se um pouco, apesar da combinação com os poejos resultar muito bem. Pratos simples mas imaginativos, de sabores bem definidos, que resultaram muito bem na combinação com os vinhos.