Propriedade do Marquês de Soveral, a Quinta de Cidrô tem nos seus registos históricos a plantação de vinha desde o final do século XIX. Adquirida no início dos anos 70 do século passado pela Real Companhia Velha (RCV) que, depois de uma profunda reestruturação, tanto nas vinhas como no imponente palácio, foi aumentando a sua dimensão com a aquisição de parcelas de terra vizinhas.
Localizada na região do Douro, no planalto da Pesqueira, onde o Cima Corgo encontra o Douro Superior, detém actualmente cerca de 150 hectares de vinha, com os quais a empresa produz uma fatia considerável dos vinhos brancos do seu portefólio. A experimentação de castas estrangeiras e algumas portuguesas que, ou porque esquecidas ou porque habitualmente não habitam a região do Douro, tem sido uma aposta desta empresa e uma bandeira desta propriedade. Apesar de também produzir tintos, devido à altitude das vinhas (entre 500 e 600 mts) e às grandes amplitudes térmicas daquele local, o foco da RCV para a Quinta de Cidrô continuam a ser os vinhos brancos. Note-se, por curiosidade, que o vinho mais premiado de sempre desta empresa, que já conta com quase 260 (!) anos, é o Quinta de Cidrô Chardonnay de 1997.
Agora, com o Verão a pino, numa época do ano que o consumo de vinhos brancos aumenta exponencialmente, a RCV trouxe a Lisboa, à Galeria de Arte Bessa Pereira, em São Bento, as novidades da Quinta de Cidrô. Uma apresentação desalinhada com o conceito habitual destes eventos, por entre obras de arte e com os vinhos a harmonizarem com a cozinha, improvisada no local, de André Magalhães da Taberna da Rua das Flores. Estiveram presentes Pedro Silva Reis e Jorge Moreira, respectivamente proprietário e director de enologia da empresa.
Novo ano, nova colheita, novos desafios. Continua a aposta da RCV nas castas estrangeiras que já caracterizam o Cidrô e ficámos a saber que a Riesling é a Sra que se segue.
Os vinhos apresentados foram numa primeira fase provados a solo e depois harmonizados com os pratos.
Quinta de Cidrô Alvarinho 2015 – Estamos perante um vinho aromático, onde os apontamentos a citrinos dominam, mas sem a exuberância frutada dos alvarinhos novos. Boa estrutura de boca, a dar dimensão ao conjunto, com frescura e harmonia, mas para o meu gosto podia ter uma acidez um pouquinho mais afirmativa. O final é longo e saboroso, na linha das edições anteriores (9€/16).
Quinta de Cidrô Sauvignon Blanc 2015 – Sem exuberâncias no perfil da casta. Ao contrário de colheitas anteriores pareceu-me mais contido nas notas vegetais, com a fruta a surgir aberta, em tons tropicais e de citrinos. Muito bem na boca fina, firme, com bom balanço ácido a refrescar o conjunto. Final longo. Casou magistralmente com os sabores frescos da Ostra com Trufa de Verão e Salicórnia (12,50€/16).
Quinta do Cidrô Boal 2014 – Até esta colheita este vinho era denominado Sémillon, agora assume a outra sinonímia da casta. Mais carregado na cor que os anteriores, provavelmente devido ao estágio em barrica que surge bem presente no aroma com notas tostadas. Muita delicadeza nas notas de fruta branca, sugestões amanteigadas, ataque frutado, gordo e estruturado, acidez muito equilibrada, final longo, com boa complexidade e frescura (12,50€/16,5)
Quinta de Cidrô Chardonnay 2015 – Grande finura aromática, com apontamentos amanteigados típicos da casta, suaves citrinos, fruta branca, tudo discretamente envolvido em notas de barrica. Cremoso, seco, gastronómico, frescura ácida bem presente, longo e elegante. O meu favorito da sessão (13€/17).
Quinta de Cidrô Gewurztraminer 2015 – Fruta exótica aliada a notas de fruta tropical e apontamentos florais, tudo num registo perfumado que pode levar a algum enjoo, dependendo dos gostos. Conjunto limpo, com boa delicadeza de boca, tem frescura que harmoniza o conjunto, terminando seco e com boa persistência. Mais afinado que em edições anteriores. Nunca será um branco consensual, mas mesmo para os mais cépticos poderá brilhar na companhia daquela arrojada receita oriental (12€/16).
Quinta de Cidrô Rosé 2015 – Nariz onde pontificam as notas de fruta vermelha fresca e ligeiro floral, num registo sem grandes abundâncias aromáticas. Prova de boca com muito sabor, fresco e equilibrado, termina redondo e apelativo a pedir consumo descontraído. Não sendo um rosé tremendamente gastronómico, dará boa conta à mesa desde que com os pratos certos. Nesta apresentação deu-se muito bem com um condimentado Caril com Vieiras Fritas e Arroz Tufado (7,50€/16).