Quinta Vale do Ruivo Arinto 2011

Quinta Vale do Ruivo Arinto 2011, uma bela surpresa.

Tenho um amigo que tem uma ligação à Beira Interior e não são raras as vezes que, aproveitando as nossas tertúlias, traz às cegas vinhos daquela região. Confesso que já descobri mais coisas boas da Beira Interior com ele, do que tinha acontecido até aí. Desta vez, numa bonita sessão no clássico O Galito, fomos brindado com esta peróla. Um arinto da Beira Interior com 11 (!) anos. Estava impecável. Aberto na cor, que em nada denunciava um vinho com tantos anos. No nariz, um ligeiro toque a querosene levava-nos para outras latitudes e ao mesmo tempo sugeria um vinho com alguma evolução, mas logo de seguida, a boca viva e fresca, com alguma profundidade e uma acidez bem marcada deixava a dúvida sobre o que estava no copo. Uma coisa era certa, todos estavam a gostar. A surpresa confirmou-se quando se revelou o vinho, um Quinta Vale do Ruivo Arinto 2011. Quem diria. Que belo branco.

A Quinta Vale do Ruivo é um projecto familiar na zona de Pinhel, tendo como frontman José Madeira Afonso, médico de profissão, que a paixão pelo vinho trouxe para estas andanças. Dos cerca de 15 hectares de vinha que detêm, alguns são de vinha muito velha, tendo como castas maioritarias a Rufete, Touriga Nacional, Tinta Roriz e Folha de Figueira, nas tintas, e Síria, Fonte Cal e Arinto, nas brancas. Também existem umas pequenas parcelas de Chardonnay e Riesling, plantadas devido à paixão do produtor pelos vinhos brancos alemães e da Borgonha. Por curiosidade, José Madeira Afonso é irmão de João Afonso, do projecto Cabeças do Reguengo, tendo ambos no início deste percurso produzido os vinhos Rogenda, os primeiros a nascerem deste projecto familiar.

O momento serviu também para comprovar que O Galito continua a ser um dos grandes bastiões da cozinha alentejana na capital. A comida estava impecável, desde a bateria habitual de entradas, onde os torresmo são uma marca da casa, passando pela garoupa assada no forno, o lombinho de porco e o conjunto final de sobremesas, vulgo pijama, com sericaia, pão de rala e encharcada. Na sala o Sr. Henrique continua a fazer magia, a comandar um serviço à antiga, profissional, simpático e muito competente, algo cada vez mais raro nos dias que correm. Em grande forma O Galito.

A sessão, toda ela às cegas excepto o moscatel, começou com o Charles Heidsieck Millésime 2012. Complexo, com boas notas de estágio, a mostrar uma bolha muito fina e delicada e um final com excelente frescura. Depois a grande surpresa que já referi, o Vale do Ruivo Arinto 2011. De seguida um Chablis do Févre de 2018, da vinha premier cru Vaulorent, que está em grande momento. Fiel à casta e à região, profundo, largo, fresco, com excelente proporção, um grande vinho. Um produtor que merece mais atenção em Chablis, pois está a produzir grandíssimos vinhos. Depois fomos até Itália, ao Alto Adige, para o Cantina Tramin Kellerei Stoan, um lote de Chardonnay, Sauvignon Blanc, Pinot Blanc and Gewürztraminer, que se revelou muito aromático e frutado, sem acidez para segurar tanta frutinha, resultando num conjunto sem graça e enjoativo. Estava na cara que ia correr mal, uma combinação de castas tão aromáticas. Já que andávamos por terras italianas, aproveitámos para dar um salto ao Piedmont, para o Adriano Basarin Barbaresco 2018, que apesar de jovem deu excelente prova e casou lindamente com o lombinho. Um nebbiolo leve, elegante, fresco, com as características notas terrosas e um tanino já bem arrumado. Muito bom. Com as sobremesas chegaram os fortificados, primeiro o Porto Branco 2009 da Gran Cruz, leve, correcto, fresco, bastante fiel ao estilo e, para fechar, outro dos grande vinhos da sessão, o Bacalhoa Moscatel Roxo Superior 2000. Impressionante na complexidade e profundidade, tudo amparado por uma acidez franca que lhe confere uma pesistência incrível. Grande, grande moscatel.

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