Quinta do Monte d’Oiro Reserva 2006

Parece-me difícil que alguém não conheça José Bento dos Santos mas ainda assim, para os mais desatentos, acrescento rapidamente que se trata de um dos mais proeminentes gastrónomos portugueses e uma figura respeitada em todo o mundo da gastronomia. Juntamente com a vice-presidência da Academia Internacional de Gastronomia acumula um conjunto de outros cargos ligados ao tema e teve com o programa de sua autoria “Sentido do Gosto”, transmitido na RTP em 2008, um contributo decisivo para o que seria pouco tempo mais tarde o boom do gourmet. Mas para hoje interessa-nos acima de tudo o projecto vínico que iniciou em 1990 na Quinta do Monte d’Oiro em Alenquer.

monte doiro

Desde o primeiro momento que deixou os seus objectivos bem claros, produzir vinhos de elevada qualidade que pudessem ombrear com os melhores, sempre com a inspiração das francesas Côtes du Rhône como guia. Não é por isso de estranhar que a aposta principal fosse na casta Syrah, que desde cedo deixou as melhores indicações naquele terroir tão próprio.

Estes foram vinhos que bebi variadas vezes principalmente no final da década passada, mas que mais recentemente, confesso, fui-me afastando aos poucos. Por nenhuma razão em especial a não ser que outros ocuparam o seu lugar na lista das preferências. Ainda assim estes continuam a ser vinhos que mantenho óptimas recordações e inclusive o Reserva de 2000 continua bem presente na minha memória, arriscando-me mesmo a dizer que foi um vinho que marcou na altura a produção de monocastas de Syrah em Portugal. Foi por isso com um misto de saudosismo e curiosidade que enfrentei este Reserva de 2006, trazido para um repasto caseiro por um amigo também apreciador destas coisas.

2006 como se sabe não foi um ano extraordinário, o calor extremo influenciou em grande medida a maturação das uvas e por isso o bom senso aconselhava a expectativas comedidas. Monocasta de Syrah, temperado com cerca de 5% de Viognier (à boa maneira do Rhône), com estágio em barrica por um período de 18 meses. Logo a abrir deixa boa impressão pela cor, um rubi bonito e vigoroso. Evidentes notas de evolução no aroma, com a fruta preta bem madura a dominar o bouquet onde também surgem as passas, o couro e alguma especiaria. A boca confirma o nariz mas também acrescenta uma elegância inesperada, num conjunto redondo, macio e muito consensual. Não será a melhor edição deste vinho, longe disso, mas para o ano em questão superou as minhas melhores expectativas (16,5). Resta dizer que marchou alegremente na companhia dos sabores fortes de um ossobuco no tacho. Foi bom voltar ao Monte d’Oiro.

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