Queijaria Armando Sequeira (Penalva do Castelo, Dão)

Estamos em Penalva do Castelo, no coração do Dão, em plena região demarcada do Queijo da Serra da Estrela.

Nas proximidades, a imponência da secular e bela Casa da Insua é a principal referência turística da região. Com a sua grande exploração agrícola, hoje está mais direccionada para o turismo, onde para além do alojamento, os turistas podem usufruir da degustação de produtos feitos na propriedade e na região, como os queijos, os doces e as compotas. E o vinho, claro, produto maior pelo qual ficou conhecida.

Mas o post de hoje passa-se numa pequena freguesia um pouco mais abaixo.
Com cerca de 100 habitantes, a bucólica aldeia de Mareco é um local do Portugal profundo, de gentes genuínas, maioritariamente idosas, das casas tradicionais de granito, da actividade agrícola, dos campos cheios de rebanhos e de uma encantadora ponte romana. Foi aqui que fui ao encontro de Armando Sequeira, pastor e produtor, homem humilde da terra, de aspecto rude e autêntico, que após a desconfiança inicial, se mostrou de palavra solta, a fazer jus à fama destas gentes que não renegam uma boa conversa.

Foi uma viagem de quase três horas pela paixão da sua vida, o queijo da serra biológico que produz na sua queijaria artesanal. É com um olhar orgulhoso que nos mostra este vale da aldeia de Mareco, o seu terroir, fundamental, diz-nos, onde existem as temperaturas (frias) e a atmosfera indispensáveis para o crescimento de bom pasto e por consequência da produção de bom leite.
Combinação perfeita, já sou eu que digo, para a produção de um dos melhores queijos da serra a que tive oportunidade de pôr o dente. A atestar pelos inúmeros prémios coleccionados por esses concursos afora, a opinião não é só minha.

Armando Sequeira bateu o pé ao progresso e continua romanticamente a pastar as suas ovelhas e a produzir um queijo único. Mas o percurso tem sido cada vez mais difícil e só com muita teimosia tem sido possível manter o negócio. É notória a mágoa com que ainda hoje fala das imposições, na sua opinião surreais, da ASAE e na inexplicável confusão burocrática relacionada com o queijo da serra, desde a certificação do mesmo, até à lentidão do licenciamento das queijarias.

O resultado do seu trabalho é um queijo de ovelha certificado, algo que para muitos seria um motivo de orgulho, mas que para Armando Sequeira é algo que nem quer ouvir falar. Prefere chamar-lhe Queijo de Ovelha Quinta das Insuas, tal o trauma do processo burocrático por que teve de passar até conseguir ter a sua queijaria em conformidade com as directrizes impostas. Outros, não tão teimosos, não resistiram. É por isso sem espanto que vê hoje em dia apenas seis produtores certificados, dos actuais 200 existentes no concelho de Penalva do Castelo. “É muita despesa, muita mariquice”.

Sorri quando lhe falo em produção biológica. O termo, agora de moda nas grandes cidades, é do seu léxico comum há muito tempo. Pois para além das ovelhas, exclusivamente de raça Bordaleira da Serra da Estrela, criadas por si, serem alimentadas apenas com pasto natural – “nada de rações” – faz questão de sublinhar, também toda a produção do queijo é feita natural e artesanalmente, sem recurso a qualquer outro produto ou técnica. Até a flor de cardo (na foto) utilizada para a coagulação do queijo, é produzida por si.

A conversa terminou com a visita ao interior da queijaria e por entre explicações mais técnicas, sai uma sugestão de quem sabe. Ao contrário do que se pensa, o queijo da serra deve ser comido à fatia e não à colher como erradamente se vê fazer. O mesmo já tinha ouvido da boca de Domingos Soares Franco, no caso, sobre o queijo de azeitão.

Se passarem pela região não deixem de visitar a queijaria do Sr Sequeira, onde podem comprar diretamente (12,50€ / Kg.) este delicioso e único queijo da serra. Só para terem o prazer de conhecer um homem com esta dedicação o desvio vale todos cêntimos.
No final, enquanto era brindado com uns requeijões fresquinhos, quis o alinhamento das estrelas, que a buzina do Sr do Pão ecoasse pela propriedade. Era de centeio, também de produção artesanal, e ainda estava quente.

“Quem certifica o meu queijo é o consumidor, mais ninguém.”

Queijaria Armando Sequeira
Mareco (é perguntar pelo Sr Sequeira)
Tel. 91 465 8500 / 232 651 430

P.S. – Em Lisboa, às vezes, se tiverem sorte, podemos encontrar o queijo do sr Sequeira no mini-mercado A Horta das Beiras, na Av dos Combatentes da Grande Guerra, nº 172 A, 1495-037 em Algés – D. Helena Cabral – 96 70 17 484.

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