A região vitivinícola do Ribatejo, Tejo desde 2008, depois de muito tempo conotada com a venda do vinho a granel, parece agora decidida a traçar uma nova ordem para renovar a sua imagem e captar o maior interesse dos consumidores.
Se é verdade que os vinhos do Tejo continuam arredados dos lugares cimeiros dos tops de vendas e de preferências, também será justo admitir que aqui e ali, vão surgindo produtores empenhados em fazer vinhos com maior identidade, que possam trazer novos holofotes para a região. Além disso, o imenso volume aqui produzido cria condições para que os vinhos, de gamas médias essencialmente, possam chegar ao mercado a preços muito competitivos, não havendo por isso motivo para que estes não sejam vinhos mais presentes nas mesas dos portugueses.
Neste designio, vem agora a CVR do Tejo, apostada em implementar acções que lhe tragam maior visibilidade e sabendo que para isso é imperioso criar uma identidade própria e diferenciadora, levar a cabo uma acção de promoção onde a casta Fernão Pires surge como bandeira da região.
Para o efeito foi promovido um dia dedicado à casta Fernão Pires, primeiro através de uma masterclass onde foi possível entender o seu comportamento nos diversos terroirs da região e depois, já à mesa da Taberna ò Balcão, a prestação dos vinhos em cruzamento com os pratos preparados por Rodrigo Castelo.
O dia teve início a olhar o Tejo, na varanda da bonita Casa Museu Passos Canavarro, momento em que Luís de Castro e João Silvestre, presidente e director geral da CVR do Tejo, respectivamente, fizeram uma pequena apresentação da região e deram a conhecer um breve historial da Fernão Pires no Tejo e o seu comportamento nas três principais zonas onde esta se exprime, Campo ou Lezíria, Bairro e Charneca.
Deu para perceber porque a Fernão Pires é a casta mais expressiva da região, com uma boa adaptação ao local e que o Tejo influencia o seu comportamento nesses três terroirs. O Campo, nas margens do Tejo (Lezíria, Benavente/Azambuja até Constância), apresenta solos férteis mais aptos à produção de vinhos brancos e é aqui que a casta tem a sua maior expressão. Depois a Charneca (margem esquerda, Coruche até Abrantes), zona de tintos, com solos arenosos, é uma zona mais precoce onde também existe alguma Fernão Pires. E por último, o Bairro (margem direita, entre o Vale do Tejo e os contrafortes das Serras de Montejunto e Candeeiros), numa zona com mais altitude, onde também se produzem essencialmente tintos e onde surge apenas 10% do encepamento total de Fernão Pires na região.
Hoje a casta continua a ser procurada e plantada pelos produtores da região e perfaz cerca de 30% de toda a mancha de vinha do Tejo. Gostando de calor e água, é uma casta precoce, tendo como principais características ser muito aromática e uma acidez relativamente baixa, o que implica alguns cuidados, acrescento eu, mas já lá vamos a essa parte.
De seguida foi altura de constatar a versatilidade da casta Fernão Pires através de uma prova didáctica conduzida pelos enólogos Martta Reis Simões (Quinta da Alorna) e Diogo Campilho (Quinta da Lagoalva), onde foram provados vinhos base e tivemos a possibilidade de contactar com alguns vinhos mais antigos, que por sinal deram muito boa conta de si.
Na prova dos vinhos base, foi possível constatar a diferença de perfil de alguns vinhos, mesmo provenientes da mesma zona geográfica. Alguns mais florais e frutados, no fundo mais conotados à casta, outros um pouco mais contidos aromaticamente e outros ainda com uma expressão mais tropical e vegetal, a fazer lembrar em alguns casos a casta Sauvignon Blanc. No que toca aos vinhos velhos, tivemos boas surpresas, mostrando que a casta pode enfrentar bem o teste do tempo, desde um 5ª de Mahler 2000 a um surpreendente Falcoaria de 1994, passando por um Garrafeira Particular da Enoport de 1983 e um Quinta de S. João Batista de 2003.
Passando para o almoço e para a Taberna ò Balcão, os vinhos que acompanharam o almoço eram todos referências já engarrafadas, disponíveis no mercado, com predominância obviamente de Fernão Pires.