Adega José de Sousa (Reguengos de Monsaraz)

A visita à Adega José de Sousa é uma viagem à história do vinho em Portugal e do Alentejo em particular, venham daí...

Em ano que comemora o seu 180ª aniversário, a José Maria da Fonseca (JMF) para o seu encontro anual com os bloggers, tinha reservada uma visita ao Alentejo, a um lugar único, a Adega José de Sousa, em Reguengos de Monsaraz.

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À nossa chegada, além de Sofia Soares Franco, diretora de comunicação e marketing da JMF, que nos acompanhou desde Lisboa…
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…aguardavam-nos Paulo Amaral, enólogo da adega José de Sousa e…
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…Domingos Soares Franco, director de enologia e vice-presidente da empresa, que nos desejaram as boas vindas para de seguida nos contarem a história daquela propriedade.

A Casa Agrícola José de Sousa Rosado Fernandes era uma propriedade histórica do Alentejo, onde se produziu o famoso Tinto Velho, um dos mais aclamados vinhos nascidos na região. Produzido através de métodos ancestrais, com as fermentações a serem feitas em talhas de barro, estes vinhos adquiriam características únicas. Em busca do sonho familiar de produzir vinho no Alentejo e dar continuidade ao mítico Tinto Velho a JMF adquiriu a propriedade em 1986.

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O sonho da José Maria da Fonseca de produzir vinho no Alentejo concretiza-se em 1986 com a aquisição da histórica Casa Agrícola José de Sousa Rosado Fernandes, da qual faz parte também o Monte da Ribeira.

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De seguida partimos para a vinha, no Monte da Ribeira, onde se encontra uma das mais antigas do Alentejo (anos 50), a vinha velha José de Sousa. Trincadeira, Aragonês e Grand-Noir, de onde hoje nascem os topo de gama José de Sousa Mayor e J.
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A vinha velha José de Sousa.

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O regresso à Adega José de Sousa fez-se com a prova dos vinhos ali produzidos. Primeiro, o Montado Branco 2013, a marca entrada de gama da José Maria da Fonseca no Alentejo que já leva mais de 20 anos. Alva, Tamarez e Rabo de Ovelha, três castas tradicionais para um vinho jovem, directo, de aromas tropicais e citrinos suaves. Leve na boca, suave, com boa frescura. Com um preço abaixo dos 3€ tem uma boa relação qualidade preço (15).
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Depois o tinto. O Montado Tinto 2013 nasce de um lote de Syrah, Alicante Bouschet, Aragonez e Trincadeira, que estagiou em barricas durante 4 meses. Fruta preta silvestre, simples e directo, todo ele guloso e macio (14,5).
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Subindo na gama chega-nos o José de Sousa Tinto 2011. Lote de Grand Noir (50%), Trincadeira (30%) e Aragonês (20%), com uma pequena parte do mesmo a ser fermentado nas tradicionais ânforas de barro. O estágio é feito durante 8 meses em barricas de carvalho. Muito aromático, notas compotadas, frutos silvestres, ligeira baunilha. Na boca mostra-se mais fresco do que o nariz dava a entender, de corpo médio e taninos finos, resulta num conjunto harmonioso (16).

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Pelo meio, Domingos Soares Franco ia-nos contando as histórias da propriedade e com elas a história do próprio vinho do Alentejo. Algumas muito curiosas, como aquela do espanhol morto* que baptizou a colheita de 1945 de Mata Espanhóis.

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Voltando à prova, o José de Sousa Mayor Tinto 2011 traz o mesmo lote que o vinho anterior mas com maior incidência na Grand Noir, aqui a 60%. O método de produção também é idêntico apesar da percentagem de mosto que fermenta em talha de barro ser maior neste caso. O vinho é depois passado para barricas de carvalho onde vai estagiar durante cerca de 15 meses e após este processo é feito o lote final. A prova não fugiu muito da última que aqui dei conta, parecendo agora menos carregado na cor e com uma maior complexidade conferida pela intensidade das notas de couro e especiarias (17,5).
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Pelo meio da prova chagaram três amostras de um monocasta de Trincadeira cada uma fermentada de forma diferente. E foi curioso verificar as diferenças do mesmo vinho fermentado em inox, em lagar, ou em potes de barro. Este último processo a conferir muito mais leveza e frescura ao vinho, menos carregado na cor e aromaticamente mais complexo.
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Para finalizar a prova e antes de passarmos à Adega José de Sousa, o topo de gama J Tinto 2011. 60% de Grand Noir, 30% de Touriga Franca e 10% de Touriga Nacional com uma parte fermentado em lagares e outra em ânforas de barro. Depois o estágio é feito durante 14 meses em barricas novas de carvalho e o resultado final é um vinho de luxo, que impressiona pela complexidade, do melhor que o Alentejo nos oferece hoje em dia, conforme também dei a saber há cerca de um ano na prova anterior (18).

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A visita à Adega José de Sousa começou com as boas vindas dadas por um conjunto de iguarias alentejanas e a prova de mais dois vinhos. Dois espumantes da marca Lancers, que agora surgem com a imagem renovada. O branco, de Malvasia Fina e Arinto, e o Rosé, uma estreia, de Castelão e Syrah. Ambos brutos, apesar do açucar se fazer notar, bons para início de conversa ou para terminar uma refeição a acompanhar bolos de sobremesa.

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Os indícios arqueológicos que se encontram por esta região atestam a milenar prática da cultura da vinha e do vinho no Alentejo. Sabe-se que ainda antes da chegada dos romanos ao território já existia a cultura da vinha, no entanto foram estes, com as suas técnicas mais desenvolvidas que generalizaram a produção. As talhas de barro, onde fermentavam e posteriormente armazenavam os vinhos, foram um dos maiores legados deixados na região, uma prática que ainda hoje é recriada na Adega José de Sousa. Com o segredo da produção das talhas perdido, este património histórico da JMF assume ainda uma maior dimensão.

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Seguiu-se o almoço, que originalmente esteve previsto para o meio da vinha, mas que o chuvoso Setembro não permitiu.

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Gaspacho, José de Sousa 2011, Carne de Porco à Alentejana com Migas e Salada, José de Sousa Mayor 2011, J de José de Sousa 2011 e…
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…a grande surpresa do dia. A JMF tinha reservado um momento histórico na vida dos presentes, o momento de beber o Tinto Velho de 1940. Não fui capaz, perante a história deste vinho, de não lhe dedicar uma publicação em nome próprio.
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Depois daquele momento só um grande moscatel conseguia calibrar os nossos sentidos, o Alambre 20 anos faz a expressão liquid gold ganhar uma dimensão quase literal. Emocionante no volume de boca e na complexidade, impressionante no equilíbrio entre a doçura melosa e a acidez fina, notável no final muito longo e persistente. Costumo dizer, meio a sério, meio a brincar, que por 20€ não há nada parecido no mundo.

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Depois do almoço era necessário esticar as pernas e ainda houve tempo para assistir à segunda adega em plena laboração. Esta maior, mais moderna e funcional, com cerca de 40 tanques de inox, reúne a tecnologia indispensável para a produção de todo o tipo de vinhos.

E assim chegava ao fim mais um bloggers day promovido pela José Maria da Fonseca, que ano após ano continua a fazer questão de abrir as suas portas para dar a conhecer a sua história e dos seus vinhos. Resta-nos agradecer o carinho e a confiança demonstrada para com o nosso trabalho.

 

*Esta e outra deliciosas histórias podem ser lidas no livro Grande Reserva, do blogger João Barbosa. Vale a pena ler.

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