Com as vindimas a terminar entramos na época das apresentações das novas colheitas. Até às primeiras semanas de Dezembro será uma sucessão de apresentações, provas, eventos, que nos trarão o melhor (e o pior) do que a industria do vinho produz em Portugal. Um calendário recheado, para todos os gostos e feitios, que agora tem início.
Desta feita foi a vez da Lima Smith, um produtor que tenho acompanhado desde o início, trazer ao Museu do Oriente em Lisboa (um espaço que nunca tinha visitado – shame on me), novidades da Quinta de Covela e da Quinta das Tecedeiras, duas das propriedades que detêm em Portugal. A dar a cara pelos vinhos estiveram desta vez Tony Smith, sócio-gerente, Carlos Lucas, enólogo da Quinta das Tecedeiras e Rui Cunha, enólogo da Quinta de Covela.
Ainda na publicação anterior fazia elogios à preocupação dos produtores em fazer chegar ao mercado os vinhos num ponto já ideal de consumo, quando este assunto voltou a ser focado por Tony Smith. No seguimento da ideia por si deixada na última apresentação dos vinhos da Quinta de Covela, foi agora reiterada a estratégia do Covela Escolha Branco chegar cada vez mais tarde ao mercado. A mesma política é aplicada no Reserva Branco, que foi provado nesta circunstancia, mas que ainda não esta disponível nas prateleiras. Aqui temos outro exemplo de uma postura comercial que se saúda e serve de exemplo, tanto na educação dos consumidores, como numa tendência a seguir por outros produtores.
Botemos então a boca no copo. O Covela Escolha Branco 2014 é um lote de Avesso, como casta maioritária, secundada pelo Chardonnay e uns temperos de Arinto, Viognier e Gewurztraminer. Vinhas de agricultura biológica, provenientes da Quinta de Covela, em solo granítico e de cotas baixas, expostas ao rio Douro, no concelho de Baião, ainda na zona geográfica dos Vinhos Verdes. Mostra-se frutado e vibrante, com a fruta branca envolvida por um leve fundo mineral, num conjunto muito fresco, com boa estrutura de boca e final de boa persistência. Comparando com a colheita anterior pareceu-me com mais estrutura e comprimento.
A intenção de não haver uma colagem destes vinhos à região dos Vinhos Verdes percebe-se perfeitamente, pois são estilos muito distintos. Aqui temos brancos assentes na fruta e na mineralidade, mas bem secos, sem qualquer cedência ao açucar, como é exemplo o Covela Reserva Branco 2013. O topo de gama branco da casa tem ênfase no Chardonnay, que ocupa metade do lote, completado pelo Viognier, Arinto e Avesso. Tem estágio em barrica durante 14 meses e vai chegar ao mercado com um preço a rondar os 25€. Nariz aromático, complexo, com notas de barrica de boa qualidade. Ainda jovem. Muita harmonia entre a untuosidade e a estrutura, apesar da madeira ainda marcar um pouco a boca neste momento. Talvez por isso ainda não esteja no mercado. Para acompanhar nos próximos tempos, pois se for pelo mesmo caminho do 2012 estaremos perante um vinho extraordinário.
Para terminar, por hoje, o capitulo Covela, provou-se o novo Covela Reserva Tinto 2012, o topo de gama tinto da casa, feito a partir de um lote de Cabernet Sauvignon, Touriga Nacional e Merlot. Fruta vermelha madura, mineral, especiarias, uma ligeira nota vegetal a dar complexidade, notas de barrica. Vivo e expressivo, bastante macio e equilibrado, termina muito longo. Edição limitada a 2600 garrafas que chega ao mercado com o preço de 25€.
Deixemos agora Baião para trás e entremos definitivamente no Douro vinhateiro. Subimos e cruzamos o rio, até à sua margem esquerda, na zona de São João da Pesqueira, onde nascem os vinhos Quinta das Tecedeiras.
A novidade maior foi a apresentação do novo Reserva da casa que já não era produzido desde 2009. O Quinta das Tecedeiras Reserva Tinto 2013 vem vestido numa bonita garrafa, com a nova imagem, mais limpa e actual, que caracteriza a nova vida dos Tecedeiras. Produzido a partir de um lote de castas tradicionais do Douro com realce na Touriga Franca e Touriga Nacional, tem ainda uma percentagem de vinha velha. Vinhas de variadas cotas, onde se procura a complexidade das maiores maturações nas cotas baixas em balanço com a frescura das vinhas mais altas. Mostra-se frutado e floral, com fruta madura, vermelha e preta, notas de barrica, leve balsâmico, algum vegetal, taninos sólidos, corpo e estrutura, final de bom comprimento.
Passámos de seguida para os Porto, com o Quinta das Tecedeiras Tawny Reserve, num estilo original e distinto, proveniente de lotes que em tempos estiveram reservados para Porto Vintage. Depois de passarem por um processo de envelhecimento durante alguns anos pelo método de solera deram lugar a um Porto de estilo peculiar, com aromas de café e frutos secos, algum caramelo, redondo e untuoso, com boa acidez e boa persistência final. Custa cerca de 14€ e foram produzidas 2600 garrafas.
Por último o Quinta das Tecedeiras LBV 2011, produzido a partir das vinhas velhas da propriedade com idades entre os 80 e os 100 anos. Muito escuro, opaco na cor, intenso de aroma, fruta preta silvestre, frutos secos, figos, boa complexidade, num perfil concentrado e cheio de força. Apenas 600 garrafas, quase ourivesaria, para um preço de venda ao publico a rondar os 18€.
No final da apresentação foi inaugurada a exposição So far, So close, da artista macaense Cindy Ng, resultado da inspiração da residência artística que a artista teve nas quintas de Covela e Boavista. Uma exposição para ver no Museu do Oriente até dia 23 deste mês. Esta inauguração teve ainda a participação do grupo musical The Folga Gaang Project, também ele macaense, tudo isto acompanhado pelos vinhos da Lima Smith.