Adega Mãe – Brancos de 2014

Haverá melhor local que o rio Tejo, para um produtor de Lisboa que tem os brancos atlânticos como bandeira, apresentar as suas novidades? Pois foi precisamente ao largo do Tejo, a bordo do veleiro Príncipe Perfeito, que a Adega Mãe apresentou os seus brancos da colheita de 2014.

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Haverá melhor local que o rio Tejo, para um produtor de Lisboa que tem os brancos atlânticos como bandeira, apresentar as suas novidades? Pois foi precisamente ao largo do Tejo, a bordo do veleiro Príncipe Perfeito, que a Adega Mãe apresentou os seus brancos da colheita de 2014.

E se não é habitual apresentar vinhos ao largo do Tejo, ainda menos habitual é, em Portugal, apresentarem-se brancos da colheita de 2014 que custam menos de 10€ em Setembro de 2015, quando muitos reservas de nomeada já por aí andam há uns meses. Cada vez é mais evidente que a Adega Mãe sabe ao que vem, tem o caminho bem estudado e aos poucos vai-se diferenciando não só pela qualidade dos seus vinhos mas também pela sua (inteligente) estratégia comercial. Os consumidores agradecem.

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Diogo Lopes e Bernardo Alves, enólogo e director geral da Adega Mãe.

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Depois de, em jeito de bebida de boas vindas, o Pinta Negra Branco 2014 ter recebido os convidados, foi a vez de Bernardo Alves, director geral da Adega Mãe, dar as suas boas vindas. Destacou o aumento das exportações dos seus vinhos, que agora atingem os 60%, insistiu na “luta” que têm levado a cabo para que a restauração da grande Lisboa aposte mais nos vinhos da região e por ultimo referiu a importância cada vez maior que os vinhos brancos, muitos deles varietais, assumem no portefólio da empresa.

Depois passou a bola ao enólogo Diogo Lopes que nos falou um pouco das características desta vindima, destacando a versatilidade do solo e clima que têm na Ventosa, em Torres Vedras, onde estão situadas as vinhas e a propensão daquele terroir para a produção de brancos, originais e diferenciadores, como lhes chamou. O reconhecido enólogo Anselmo Mendes também faz parte da equipa de enologia deste produtor mas esteve ausente nesta apresentação.

Passemos aos vinhos:

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O Pinta Negra Branco 2014 é o entrada de gama da casa (3€), traz um lote de Fernão Pires e Arinto e expressa bem as duas castas. A delicadeza floral da primeira e a acidez vigorosa da segunda, num perfil equilibrado e descontraído como se quer nesta gama.

De seguida veio o Dory Branco 2014, que traz uma nova imagem, por sinal nada feliz. Passou a mencionar as castas no rótulo e  com isso o tamanho do mesmo aumentou e perdeu toda a estética. A introdução do elemento de cor também não ajuda e a sensação que fica é de saudade em relação ao anterior. Felizmente que dentro da garrafa a qualidade mantém-se e continua a ser uma das melhores relações qualidade-preço do mercado (4€). Lote de Fernão Pires, Arinto, Viosinho e Viognier, vinificado em inox e com batonnage durante 4 meses. O lado frutado e floral do aroma é bem temperado por delicadas notas vegetais e na boca mostra a frescura e salinidade dos brancos desta casa. Um conjunto que demonstra o potencial deste produtor para os vinhos brancos e que já deu provas, inesperadas, de envelhecer bem.

O Dory Reserva Branco 2013 só agora chega ao mercado e é um bom exemplo da estratégia do produtor em tentar que os vinhos cheguem ao publico já num ponto ideal de consumo, ajudando a desmistificar que os vinhos brancos não são todos para beber no próprio ano. Uma atitude que se saúda, pois também ao produtor cabe a responsabilidade de educar o consumidor. Mais o fizessem.

Este reserva é produzido a partir de um lote das castas que mais se destacam em cada colheita e este 2013 traz-nos a Viosinho como casta dominante, temperado pela Alvarinho, Chardonnay e Arinto. Fermentado e estagiado em barrica, com batonnage durante 8 meses, mostra notas de barrica que não tapam a fruta branca madura. Boa complexidade e estrutura, notas salinas e leve traço vegetal que lhe conferem um lado fresco e lhe dão o equilíbrio necessário. Custa cerca de 13€ e é um branco perfeito para o Outono que se aproxima.

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A gama Adega Mãe está direccionada para os monovarietais que mais se destacam em cada colheita e este ano tivemos 6. O potencial da região de Torres Vedras para a produção de brancos é cada vez mais reconhecido e a Adega Mãe, com as condições que possui de solo e clima, tem feito um trabalho muito meritório com as mais diversas castas brancas. Este ano os preços foram revistos e esta gama passou a ter o preço de venda ao público de 8,50€.

Uma colheita onde voltámos a ter o Sauvignon Blanc, que na minha opinião aparece mais afinado que no ano anterior. De perfil tremendamente vegetal, com o lado frutado mais contido, são as leguminosas verdes que tomam conta do aroma, num vinho equilibrado, seco, de leve traço mineral e uma acidez efectiva que lhe dá grande vivacidade. Deverá ir bem com pratos de peixe com pouco teor de gordura.

A Alvarinho tem-se destacado desde as primeiras colheitas da Adega Mãe e em 2014 volta a ter o seu monocasta. Segue na linha das colheitas anteriores, com um perfil contido, onde a casta expressa mais o seu lado cítrico e mineral. Está ainda um jovem e vai certamente evoluir bem. Tragam as ameijoas que ele já trata do caso.

E agora uma novidade, o Riesling. Tive a oportunidade de o conhecer no primeiro evento do Club A e com esta prova mantenho a minha opinião. Um vinho ainda jovem (talvez por isso ainda não esteja no mercado), que vai necessitar de mais algum tempo em garrafa para se expressar. Tem um lado frutado, outro floral e uma acidez valente. É aguardar pelas cenas dos próximos capítulos.    

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Depois o Viosinho, que já é uma referência da casa, que volta nesta colheita a expressar as boas condições que encontra nos solos calcários da Ventosa. Fruta branca de caroço, leve floral, fundo mineral, salino, fresco, tudo em elegância e nada em extravagancia. Uma boca muito afinada, de boa proporção e comprimento, para aquele que é, provavelmente, o melhor Viosinho produzido na Adega Mãe.

Depois de não se ter produzido em 2013, o Viognier volta a ser engarrafado e volta a passar por tratamento em madeira. Desta vez as barricas já são usadas e de facto a integração da madeira com o vinho está muito bem. Fruta branca, traço mineral, num estilo seco, com uma boca elegante, untuosa e de boa persistência.

Por último o Chardonnay, uma casta que também tem sido uma aposta do produtor e que se mantém em 2014. Volta à passagem por madeira, desta vez em barricas de 400 litros. Nariz intenso, com os fumados, as notas de manteiga e a fruta branca a originarem um aroma num estilo menos fresco que os demais provados até aqui. A boca é cheia, untuosa, de bom volume, com a barrica a adornar o conjunto, para um final de bom comprimento. Há expressão da casta, o trabalho com a madeira vai à procura de um estilo mais borgonhês e a acidez segura o vinho e confere-lhe a sua real dimensão. Está muito bem, mas fico curioso de o provar com a madeira mais integrada.

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A noite ia caindo e chegava a hora de testar os vinhos à mesa…
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Primeiro uma sopa rica de peixe que lidou bem com o Riesling, depois uma tranche de robalo (na foto) que estava uma maravilha e que casou na perfeição com o Viosinho e por último, uma cavala fumada com açorda de ouriços, onde se sentia um travo que me pareceu a óleo de trufa que não acrescentou nada ao prato e que acabou por comprometer a combinação com o vinho. Ainda assim o Dory Reserva foi o que lidou melhor com o caso.
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Para terminar não podia faltar um ex libris da região, o pastel de feijão da fábrica Coroa que já nos adoça a boca desde 1940.

Volta a Adega Mãe a apresentar um conjunto de vinhos que se pode orgulhar. Estão mais afinados, o trabalho com a madeira também segue o mesmo caminho e estratégia comercial de lançar os vinhos no mercado na altura certa é de saudar e espera-se que para durar. Têm os vinhos de Lisboa aqui uma âncora, cada vez mais segura, que pode e deve ser aproveitada para aumentar o patamar mediático da região.

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