O Avesso 2013 da Covela foi provavelmente o vinho que mais vezes bebi durante este último ano. Tem sido um favorito, que se presta aos mais variados momentos de consumo, muito útil naqueles dias que não sabemos bem o que nos apetece beber e por isso faço por tê-lo sempre por perto. Foi assim, sob o mote do Avesso, que parti com grande expectativa para a apresentação dos brancos de 2014 deste produtor, que teve lugar na Marisqueira Ramiro, em Lisboa.
A apresentação começou com as palavras de Tony Smith, sócio-gerente da Quinta de Covela, que abordou a estratégia comercial da empresa para o ano em curso. As principais novidades prendem-se com o lançamento do Escolha Branco só no final do Verão, com o objectivo de chegar com mais estágio em garrafa, logo mais pronto, ao consumidor. E com a mudança de distribuidora, para a Vinalda.
Antes de passarmos à prova dos vinhos ainda houve tempo para ouvir Gonçalo Sousa Lopes, responsável pela viticultura da propriedade – premiada em 2013 como viticultura do ano pela Revista de Vinhos – e o enólogo Rui Cunha. O primeiro considerou o ano de 2014 como um bom ano. Destacou as boas maturações, com realce para a fruta e o facto da vindima ter ocorrido antes das chuvas do final do Verão, o que proporcionou às uvas chegarem em perfeitas condições à adega. O segundo considerou os vinhos de 2014 mais frescos que os do ano anterior e no que toca à enologia destacou a preocupação em conseguir vinhos com um pouco mais de estrutura.
A prova começou com uma revisitação ao Avesso de 2013, o tal do primeiro parágrafo, que chegou em garrafa magnum. Continua a atravessar uma fase de grande felicidade, com o aroma cada mais entrosado entre os citrinos e o subtil lado floral. A boca continua de acidez alta, mas bem harmonizada por uma untuosidade que lhe traz um estilo fino e elegante. Está aqui para as curvas e para mais anos de garrafa.
Passemos às novidades. A primeira foi o Avesso de 2014 (8€). Claro na cor. Nariz limpo e elegante, com flores, fruta branca e algum citrino. A boca traz frescura, com acidez viva, leve untuosidade e final fino. Pareceu-me com um lado floral mais acentuado que a colheita anterior, mas está ainda um jovem e por isso será algo a confirmar em futuras provas. A região Entre Douro e Minho, onde se encontra a Quinta de Covela, é uma zona mais quente, onde a casta Avesso encontra condições especiais e isso tem sido potenciado da melhor maneira por este produtor.
Depois chegou o Arinto de 2014 (8€), de aroma jovem, algo fechado, com citrinos e fruta branca, num estilo fino e elegante. Seco na boca, sério, duro mesmo, mas a deixar perceber uma boa estrutura e profundidade. Fico com grande expectativa para a sua evolução, as primeiras impressões foram as melhores. Ficou, para o meu gosto, uns pontinhos acima do Avesso.
O senhor que se segue foi o Covela Rosé 2014 (9€), feito exclusivamente com uvas de Touriga Nacional, vindimadas propositadamente para este vinho. Foram produzidas apenas 6000 garrafas e a imensa procura originada pelo sucesso da colheita anterior deixa antever que desapareçam rapidamente das prateleiras, fica o aviso à navegação. O vinho conquista-nos de imediato pela cor, algo que o contraste com o tom cinza do rótulo também ajuda. Um rosa velho, leve e límpido, inspirado nos seus congéneres da Provence. Nariz sério, com frutos vermelhos onde se destacam os morangos, num estilo fino e elegante. Fresco na boca, com alguma complexidade, muito afinado, para um final de bom comprimento. Não estou habituado a encontrar esta elegância e equilíbrio em vinhos rosé, talvez porque também não os beba muito, admito, mas este foi de facto uma surpresa. Se o 2013 já foi um sucesso (Escolha da Imprensa 2014), este que me parece uns furos acima, tem tudo para se consolidar como uma referência da casa.
Quando Tony Smith vinha a Portugal, ainda nas suas funções de jornalista, o Ramiro e o Solar dos Presuntos eram os seus restaurantes preferidos e por isso foi com naturalidade que escolheu este local para esta apresentação. Terminada a prova tomaram-se os lugares na mesa para receber os famosos petiscos do Ramiro. As Gambas al Ajillo foram as primeiras, seguidas pelas Ameijoas à Bolhão Pato e pelo Camarão Cozido.
Por esta altura chegou também à mesa o Covela Reserva Branco 2012 (25€), o topo de gama da casa, produzido a partir das melhores uvas de Avesso, Chardonnay e uns pozinhos de Viognier, com estágio em barrica durante 14 meses. Impressionante no nariz, com uma complexidade e equilíbrio que nos conquista de imediato. A boca é cheia e rica, fresca, harmoniosa, com a barrica perfeitamente integrada, num final longo e de grande persistência. Penso que não exagero se colocar este vinho no grupo dos melhores brancos que se produzem em Portugal.
A refeição continuou com o Tigre Grelhado e terminou com uma das mais afamadas sobremesas do Ramiro, o clássico e muito aclamado… Prego no Pão. Os vinhos desfilaram de forma livre, sem preocupações de harmonização, cabendo a cada um ir pelo caminho que queria. Neste campeonato brilharam o Avesso e o Arinto, que lidaram muito bem com os mariscos. O primeiro em especial com os sabores mais intrusivos do al ajillo, enquanto que o Arinto deu-se às mil maravilhas com o lado salgado dos camarões cozidos e também foi o melhor a lidar com o camarão grelhado.
Mais para o final da refeição ainda chegou o já conhecido Covela Escolha Tinto 2012 (15€), que continua de boa saúde, com a fruta preta acarinhada pela barrica, fresco e apelativo, num estilo muito consensual.
É com satisfação que se dá conta que o projecto Covela segue de vento em popa. Os vinhos mostram-se consistentes e afinados, têm no equilíbrio a sua característica principal e deixam, para bem dos fans, as melhores indicações para o futuro. Aguardemos então com expectativa as novidades que hão-de chegar mais para o final do Verão.