“Os cadernos de cozinha que nos trouxeram até aqui têm uma história bonita. Em 2019, estando a investigar o tema do pão e do milho em terras de Coura, tivemos o primeiro contacto com umas folhas amarelecidas onde uma escrita irregular espicaçava a curiosidade. Houve um enamoramento à primeira vista por essas letrinhas gastas que tomavam formas intrigantes. Os caderninhos eram um “portal do tempo”, era impossível resistir ao convite e acabámos por ficar a observar o cortejo de prácticas antigas próprias de uma casa senhorial minhota… Estes registos, apesar de um cunho pessoal, fixam um modo de fazer próprio de um tempo e de um lugar e permitem um olhar enriquecedor sobre a época em que foram criados.”
A Grande Casa do Outeiro, em Agualonga, Paredes de Coura, é uma casa senhorial setecentista pertença de uma abastada família minhota. Os seus manuscritos culinários, do século XIX e XX, deram lugar a este livro delicioso, que nos permite contactar com as antigas práticas culinárias de uma casa senhorial minhota.
São 138 receitas, que percorrem os hábitos alimentares desta família nobre minhota e contam a evolução do gosto e dos sabores, bem como das modas culinárias, desde o início do século XIX ao início do século XX. Os “Cadernos da Casa do Outeiro – Um receituário senhorial de Paredes de Coura”, é da autoria de Sandra Fernandes Morais, doutorada em Patrimónios Alimentares e investigadora em História da Alimentação, que numa recolha de material para o seu doutoramento, se cruzou com estes manuscritos culinários que estavam arquivados na Câmara Municipal de Paredes de Coura, actual proprietária do imóvel. Com a ajuda de especialistas na área e a consulta de várias obras da época, foi possível à autora “desenrolar este novelo gastronómico” da Casa do Outeiro e agora publicar esta obra.
Recomendo vivamente, não só para quem gosta de gastronomia, mas também para quem gosta da nossa história das gentes e dos lugares. É possível encontrá-lo no site da Ficta Editora e, se tiverem curiosidade, podem consultar o blog da autora Sandra Morais, “Histórias Açucaradas“.