Descobri os vinhos Albamar de Xurxo Alba em 2017 numa viagem à Galiza. Nessa ocasião ficámos a dormir em O Grove – a península capital do marisco e do mexilhão – que se revelou um excelente ponto de partida para explorar a região. Além das praias, dos monumentos e das belezas naturais, outro dos pontos de interesse desta viagem era descobrir mais um pouco a gastronomia e os vinhos das Rias Baixas. Tivemos a oportunidade de fazer várias visitas a produtores mas curiosamente os vinhos Albamar descobrimos na Taberna A Curva, um bar de vinhos e tapas com uma excelente carta e virado para a baía e praia de Portonovo.
Além da gastronomia, outra das grandes atracções de O Grove são as belezas naturais, onde pontificam muitas das suas praias de areia fina. A Lanzada, com o seu grande areal, é uma das mais famosas e frequentadas.
Como é apanágio em Espanha, a oferta de vinho a copo é fortíssima e nessa refeição tivemos a possibilidade de provar vários vinhos sugeridos pela casa e um deles era o Albamar Albarino. Destacou-se dos restantes, pela pureza, num estilo de albarino fresco e sério, com uma acidez cítrica, que naquela tarde de Verão acompanhou tão bem as vieiras, os mejillones e demais iguarias que nos serviram. Curiosamente, mais tarde, fiquei a saber que as vinhas e a adega de Xurxo Alba estão em Cambados, mas muito próximas de O Grove, na foz do Rio Umia, de frente para a turística Ilha de A Toxa.
A Taberna A Curva, em Portonovo, é paragem obrigatória em qualquer roteiro eno-gastronómico pela região.
Desde esse momento que os Albamar entraram no meu radar e tem sido um prazer descobrir estes excelentes vinhos produzidos por Xurxo Alba. Ainda recentemente fiquei maravilhado com O Esteiro de 2018, um blend tinto com as castas Mencía, Caíno e Espadeiro, com pisa a pé, fermentação em grandes tinas de plástico e estágio em barricas usadas, que resulta num hino à elegância, num estilo leve, aberto na cor, mas com muita presença e sabor.
Mas passemos ao Albamar O Sebal, que foi a principal razão para esta publicação. Ao longo dos tempos, Xurxo Alba tem vindo a explorar um caminho de viticultura e enologia de pouca intervenção nos seus vinhos e este O Sebal, será o seu vinho mais rebelde e experimental, que expressa de forma mais evidente essa filosofia. É um Albarino proveniente de uma vinho com cerca de 60 anos, fermentado com leveduras indígenas e estagiado em inox sobre borras durante nove meses. Sem adição de sulforoso. Turvo, com ligeira redução inicial e belos apontamentos limonados, tem aquele aroma a massa/fermento de padeiro, característico de alguns brancos naturais. Contido, sério, sem exuberâncias, é seco e mineral, com um final de acidez marcada e excelente persistência. É um branco fora da caixa, que fará as delícias dos apreciadores deste estilo mais desalinhado. Pessoalmente agradou-me, mas está longe de ser dos meus Albamar favoritos. Foram produzidas cerca de 2000 garrafas e o preço de cada uma ronda os 15€.
O Mercado Municipal de O Grove, junto à lota, é um paraíso para os apreciadores de peixe e mariscos.
O vinho tem muitas faculdades, mas uma das que mais lhe reconheço é a capacidade de nos fazer viajar. Como aconteceu com este O Sebal, que nunca época de tanto recolhimento e privação, despertou a nostalgia desta jornada pela Galiza.