Quando chegamos ao local, inserido num edifício reabilitado na zona de Alfama, outrora o Palácio dos Condes de Vila Flor, encontramos um espaço muito bonito, com várias salas e recantos, em dois pisos, muito bem remodelado, é notória a preocupação que houve em manter a traça original do espaço, trazendo materiais que não o descaracterizassem. A decoração também esta muito bem conseguida, com muitos objectos antigos, como um encantador arrolhador, entre muitas outras referencias no género.
Não fosse o excesso de fumo dentro do restaurante vindo dos fornos a lenha que são utilizados para confeccionar a comida, e estavam reunidas as melhores condições para uma agradável refeição. Se o aroma é convidativo a quem passa à porta, para quem está lá dentro o desconforto é imenso. Ficámos sem saber se tinha acontecido algum inesperado problema com o sistema de extracção de fumos, queremos acreditar que sim.
já ambientados à fumarada, somos apresentados ao menu, que está em fase de reestruturação, conforme fomos informados, e dos cem petiscos anunciados apenas dispomos para escolha de um numero consideravelmente inferior, ainda assim muito por onde escolher. Por acaso já me tinha ocorrido a pergunta sobre a dificuldade logística de uma carta com 100 referencias, mas…
O formato da carta, também não é muito prática, tendo o cliente de percorrer imensas paginas, para conseguir ter uma noção da oferta disponível. Já que se está a proceder a uma reestruturação da mesma, seria benéfica também uma outra opção no formato.
A escolha acabou por recair nas sugestões apresentadas pela casa. Antes da chegada dos pratos principais, fomos recebidos por uma tábua de queijos e enchidos, saladinhas de polvo e orelha, e um pratinho com pataniscas e peixinhos da horta. Tudo normal, sem deslumbrar. Os polmes estavam duros e secos, apesar dos peixinhos da horta estarem bem apaladados.
Despachadas as entradas, chegaram os principais, também degustados sob o signo da partilha. Polvo à Lagareiro, saboroso, bem temperado, textura perfeita, banhado em bom azeite, para mim o melhor prato da noite. Bacalhau à Adega, assado na brasa, com alho, cebola e azeite, combinação vencedora, mostrou bom ponto de assadura, pena a falta de sal. Dobrada, servida num pequeno e encantador pote de ferro, também cumpriu, apesar do sal também fugidio, mas aqui colmatado pelo bom apuro do conjunto. Choco frito, bom dentro da normalidade. E finalmente a Cataplana de Coelho, mais uma vez o brilho de ser servido numa pequena e reluzente cataplana de cobre, a trazer ainda mais conforto a um prato que estava saboroso e bem confeccionado. O maior reparo que há a fazer é a falta de sal na grande maioria dos pratos provados, bem sei dos benefícios da redução de sal para o nosso organismo, mas se vou a uma adega que serve pratos de cozinha tradicional portuguesa, quero sentir esses sabores.
A oferta de vinhos restringe-se à produção própria, pois o proprietário também produz vinho. Um branco e quatro tintos na carta, apesar do dia que lá fomos apenas estarem disponíveis o branco e dois tintos. Para o preço, 2€/copo, 4,5€/meio jarro, e 6,5€ jarro inteiro, estão muito bem, pena é o tinto chegar quente à mesa, e em copos inadequados. Aqui, e sabendo que isso iria contra o conceito da casa, penso que seria positivo a aposta em algumas referencias engarrafadas de maior qualidade.
No final com sobremesas e cafés, pagou-se 17,5€, preço muito justo para a oferta. O serviço foi simpático e prestável.
No geral, uma aposta que tem tudo para triunfar, a casa esteve sempre cheia (sábado ao jantar), numa zona turística onde não há muitos projectos do género, sendo no entanto imperativo resolver o problema da extracção de fumos, e afinar alguns pormenores gastronómicos. O espaço, muito agradável, e o arrojado projecto merecem.
Para terminar uma tranquila noite de agosto alfacinha, subimos o cada vez mais bonito (boas reabilitações, bem feitas, com muito gosto) bairro de Alfama, e fomos desenfumar as roupitas para o Portas do Sol, na companhia de uns descontraídos drinks.
Adega Víctor Horta
Rua do Cais de Santarém, 6-8.
Tel. 21 882 5082.
Das 15:00 às 02:00. Fecha aos Domingos.
Preço médio com vinho, 17,5€
Com a tua descrição devo dizer que fico um pouco desiludido face à promessa original (a que vem na Timeout).
Algumas das falhas que apontas, como ao nível da extracção como da temperatura e copos do vinho, parecem-me algo graves para um projecto que pretende espelhar qualidade.
O preço para as condições não me deixava satisfeito. Mas talvez a qualidade dos petiscos (mesmo sem sal que estou habituado a pouco) me fizesse mudar de ideias.
Acho que merece uma visita Diogo, podes ter uma experiência diferente da minha. Pode ter sido uma má noite, eu próprio quero voltar.