Porquê começar um artigo sobre a pimenta de Séchuan a falar de um restaurante de Lisboa, ainda por cima já desaparecido? Porque foi precisamente no saudoso Bocca que ouvi falar pela primeira vez desta pimenta (que não é pimenta). Era hábito, durante o menu de degustação, o Chef Alexandre Silva apresentar um limpa palato de nome Algodão Doce Eléctrico, que não era mais que uma pequena nuvem de algodão doce salpicada com lascas de rebentos secos de pimenta de séchuan. De imediato o travo doce do algodão dava lugar a uma ligeira dormência na língua que nos fazia salivar, deixando uma sensação fresca na boca. O efeito no palato era tal, de surpreendente a eficiente, que se tornou um dos ícones dos menus de degustação deste restaurante lisboeta.
Foi a partir desta altura que passei a ser um indefectível da pimenta de séchuan e hoje em dia é impensável não a ter sempre à mão. Apesar do nome, surge de um arbusto da família dos citrinos, em forma de baga, que depois de seca se torna numa especiaria muito utilizada na gastronomia oriental. É também uma das especiarias que compõem o conhecido five-spice powder.
Habitualmente uso a da Fauchon, que costumo comprar, por cerca de 5€ (22 gramas), na Goodies. Mas no Martim Moniz, numa instituição de nome Supermercado Chen, também há e a preços mais baixos. Apesar do sabor (e o aroma) não se comparar à primeira.
Cá em casa dura muito tempo, pois também é utilizada num cocktail com pimenta preta e pimenta rosa, em três partes iguais, que utilizamos para temperar saladas ou vegetais (espargos grelhados, tomate cru ou assado, cogumelos assados, etc…). A solo, brilha moída na hora, a finalizar uma peça de carne saída da grelha, um risotto de cogumelos, ou um peixe assado saído do forno, por exemplo. Mas também enriquece uma simples sobremesa, como um refrescante carpaccio de ananás. O sabor que adiciona aos pratos é indiscutível e justifica perfeitamente o preço. Um vício.