Ora aproveitando um solarengo dia de férias, na companhia da Sra Joli, lá fomos felizes e contentes a um passeio por Cascais. Claro que a escolha do destino não foi inocente, o plano passava por almoçar no Vin Rouge do Chef João Antunes.
O Vin Rouge fica na Estalagem Villa Albatroz, mesmo junto à Baía de Cascais, onde outrora funcionou o 100 Maneiras do Chef Stanisic (que agora anda, e muito bem, pelo Bairro Alto). É aqui, que juntamente com a sua mulher Rita Caldas, o Chef João Antunes desenvolve actualmente o seu trabalho.
Ao chegar, espera-nos um ambiente acolhedor, com muita luz natural, vinda das enormes janelas da muito procurada varanda, que serve de ante-câmara para a não menos disputada esplanada com vista para a Baía de Cascais.
A sala estava muito bem composta, o que é sempre um bom cartão de visita.
Após a consulta à carta, optamos por um menu almoço (couvert, prato do dia (peixe ou carne), sobremesa, água, vinho e café (12€) e por um menu de degustação de quatro pratos (40€).
A refeição começa com um amuse, que também veio para o menu de almoço. Creme de Espargos, Puré de Cenoura e Queijo Creme. Antes já tinha vindo o couvert com dois tipos de pão, manteiga com flor de sal, e pasta de queijo com salsa. Tudo a cumprir.
Magret de Pato com Foie Gras e redução de Moscatel. O pato muito bem cozinhado, no ponto, com aquele rosado característico, por cima uma redução de moscatel (na carta dizia abafado, mas perguntei e confirmaram-me que era moscatel) que criava um conjunto óptimo. Ao lado o foie gras, com uma consistência perfeita, em cima de deliciosos pedaços de pão de especiarias torrado. Excelente!
Sopa fria de Cenoura e Laranja (menu almoço). Um prato muito simples e muito agradável para os dias quentes. A laranja torna ainda o prato mais fresco.
Coelho Estufado com Arroz (menu almoço). Este coelho estava delicioso, a carne cozinhada no ponto, com uma textura perfeita, depois o molho aveludado, muito saboroso, a complementar na perfeição um prato simples e delicioso da nossa gastronomia. Muito bom!
Antes deste prato, veio um Bacalhau Fresco com Água de Coentros e Mexilhão, que tal a gula nem a foto tirei. Na verdade, foi o elo mais fraco da refeição, o bacalhau chegou insípido e o sabor da água de coentros e do mexilhão não eram suficientes para harmonizar o prato. Uma pena, pois tanto o bacalhau como os mexilhões eram de óptima qualidade e estavam com cozedura apurada.
De seguida veio este Rabo de Boi com Puré de Batata e Espinafres com Maçã Caramelizada. Muito bom o travo doce da maçã que se encontrava pelo meio do puré, que combina na perfeição com o sabor do rabo de boi. Gostei!
Pre-dessert. Docinho do Chefe. Sopa de chocolate com puré de frutos vermelhos. O chocolate tinha um sabor a especiarias que não consegui decifrar, mas que lembrou o Bolo de Mel da Madeira, talvez cravinho, seria? Uma cortesia que cai sempre bem.
Sobremesas. Cheesecake com frutos silvestres, línguas de gato e gelado de framboesa. O cheesecake com uma textura óptima e todos os restantes elementos a harmonizarem de forma perfeita.
Esta foi trocada pela do menu almoço. Miroir de limão com merengue, espuma de arroz doce e gelado de canela (5,80€). O gelado vem em cima de um ninho de açucar, num prato com muitas texturas e sabores que se complementam muito bem. Uma deliciosa sobremesa, muito fresca e bonita. Muito boa!
Nos líquidos, foi-se por um tinto Quinta da Alorna Reserva Touriga Nacional Cabernet Sauvignon 2007 (16€) que acompanhou toda a refeição. Um vinho que gosto particularmente, com aromas de fruta silvestre (talvez amoras), e uma óptima acidez. Esteve perfeito no casamento com o rabo de boi e o coelho.
A carta de vinhos não é muito extensa, mas consegue oferecer uma diversidade interessante e algumas referências menos óbvias. Está muito bem apresentada, dividida por regiões e datada. Os preços, achei altos nos “entrada de gama” mas cordatos nos restantes. Os copos, Schott-Weissel, perfeitos. A temperatura do serviço é que, apesar da garrafa vir refrigerada não foi a indicada. Permite BYOB por 5€.
No final, parabéns ao Chef, foi uma óptima refeição. O Chef João Antunes apresenta uma cozinha de autor assente em bases clássicas, com boa técnica, sem grandes truques e onde é notória a qualidade dos produtos. Mesmo assim, penso que só tem a ganhar se dentro da sua filosofia arriscar um pouco.
O serviço foi muito simpático e competente. O ambiente a atirar para o chique (não estivéssemos em Cascais) não incomoda e acaba por ser bastante informal. As cadeiras confortáveis e a vista da Baía também ajudam. A música é que precisa de actualização urgente, que isto de estarmos num ambiente destes a ouvir Rod Stewart já foi chão que deu uvas.
Numa altura em que grandes nomes da nossa cozinha, foram obrigados a adoptar o conceito low cost, merece este Vin Rouge uma nota muito alta na relação qualidade preço. Gostei muito!