Há muito tempo que andava a falar na caldeirada, da genuína, um prato que gosto muito e que raramente como. Cá em casa é prato que não se faz, em casa da família mais próxima também não, se bem que a minha mãe ás vezes lá arrisca uma incursão fingida pela coisa. Memórias de caldeiradas fabulosas mesmo, só as que a minha avó fazia aos domingos quando reunia a família. Em restaurantes há que escolher bem onde se vai, para não se ir ao engano. Para este regresso às caldeiradas levei-me às ruazinhas do centro histórico da Nazaré e após calcorrear a famosa marginal entrei na Taberna d´Adélia.
Com duas salas, uma interior com aspecto mais rústico e típico, outra em jeito de anexo envidraçado, mais clean, com imensa luz, onde tudo se adequa à arte de bem comer. Decoração típica, obviamente assente nos motivos marítimos e piscatórios, onde não faltam os tradicionais tecidos com o padrão das saias da Nazaré a cobrirem as costas das cadeiras, trazendo assim uma cor pitoresca ao lugar.
Passemos então ao essencial. Ementa assente no peixe e marisco, como não poderia deixar de ser, mas havendo também lugar, em pequeno número, para os pratos de carne.
Começou-se com as entradinhas da casa, gambas cozidas (4,80€), percebes cozidos (4,50€) e salada de ovas (2,75€). Tudo correcto, produtos muito frescos, de boa qualidade, cozeduras no ponto, só um reparo na salada de ovas, que pedia mais apuro no tempero.
De seguida, o motivo principal da nossa visita, a Caldeirada (11,50€). Chega no tacho em que foi cozinhada, como mandam as regras, trazendo três espécies de peixe (esperava mais honestamente), Raia, Safio e Cação. Cação pensava eu, que afinal era Barroso, da mesma família mas não o mesmo, disseram-me. Novamente a frescura dos peixes em destaque, o Barroso saborosissímo, a entrar no conjunto superiormente, tudo muito bem confeccionado, com um apuro a destacar. Batata, pimento e cebola também de boa qualidade a valorizarem ainda mais o prato, pecando só a última por surgir em excesso.
Uma caldeirada de muito boa qualidade, que merece amplamente a visita e que só tem a ganhar se trouxer mais variedades de peixe, como na época a sardinha, que para mim dá um sabor indispensável a este prato.
Terminou-se tudo com um Doce de Amêndoa (2,25€) sem história.
Para regar o assunto, escolheu-se da fortíssima lista de vinhos, um Alvarinho Soalheiro Primeiras Vinhas 2009 (19€), um vinho fantástico, do melhor que se faz em Portugal a todos os níveis, com uma mineralidade e acidez que acompanhou superiormente as entradas. Já para os sabores mais fortes da caldeirada, talvez se tivesse ganho com um branco de inverno, com mais barrica, mas o apetecível preço do Soalheiro não deixou espaço.
Notória preocupação na temperatura do serviço, copos correctos, serviço cuidado, e preços irrepreensíveis. Trata-se bem o vinho por estes lados.
Muito bem na generalidade esta Taberna, mais um marco da boa cozinha regional. Espaço agradável, salas completas em almoço domingueiro, com a decoração típica que caracteriza estes espaços, ambiente familiar e descontraído, serviço atento e prestável, boa gastronomia com preços honestos. Que mais se pode pedir? Para ir sem receios.
Restaurante Taberna D´AdéliaRua das Traineiras, 12 – Nazaré
Telefone, 262 552 134
Fecha ás terças
Preço médio sem vinho, 20€