Andava há dias em atarefada incursão logística no hipermercado Continente, quando para meu espanto e alegria, tropeço nestes magníficos pedaços de Paia de Toucinho de Porco Alentejano, que em boa hora foi recuperado por esta cadeia comercial para o seu portefólio de enchidos sob o chapéu do Clube de Produtores.
Mais surpreso ainda fiquei quando verifiquei que o produtor de tal maravilha era a Salsicharia Escarduça, empresa familiar radicada em Elvas, minha velha conhecida (um dia conto), que já tive o prazer de visitar (mais um dos muitos rascunhos que desesperam por melhores dias) e onde pude testemunhar o rigor e a paixão com que por aquelas bandas se tratam os enchidos de porco de raça alentejana.
Esta Paia de Toucinho, que nunca tinha visto pelas bandas da cidade grande, é um produto tradicional alentejano, de origem protegida, elaborado a partir de carne entremeada de Porcos de raça Alentejana.
Obviamente que perante tal achado, não hesitei em colocar tão nobre donzela no cesto e trazê-la para casa. Pelo caminho, enquanto me crescia a água na boca fui imaginando os deliciosos pecados que iriam sair dali.
Além da deliciosa tentação de a comer fatiada sobre um pedaço de bom pão alentejano, as suas aptidões são tantas que basta haver imaginação.
Já tinha entrado no filme com o risotto e desta vez andou perdida de amores com uma sopa de tomate à moda do alentejo.
Começou na frigideira sem qualquer tipo de gordura e quando começou a ficar crocante foi reservada para mais tarde se juntar à festa com umas febras de porco fatiadas e um lombo de bacalhau. A gordura que libertou serviu de base para a sopa (atenção ao sal).
A receita fica por vossa conta. Este vosso humilde escriba não foi em cantigas e socorreu-se da bíblia da Exma. Sra Maria de Lourdes Modesto, aldrabando apenas na parte dos enchidos, que desta vez ficaram de fora.
Comeu-se e chorou-se por mais.
(foto de divulgação) |
Nos líquidos, passo a partir de hoje a incluir no blog, sugestões de vinhos que bebi recentemente e que me encantaram de alguma forma. É mais uma forma de reforçar o desígnio principal deste pasquim, partilhar o que me entusiasma e apaixona.
Começo com três tintos, que os dias cada vez mais curtos e as noites cada vez mais frescas começam a chamar por eles.
O primeiro é este Loios versão 2011, um alentejano de gema, entrada de gama do produtor de Estremoz, João Portugal Ramos.
Foi companheiro fiel durante a preparação da sopa de tomate e quando chegou a altura de meter a Paia no pão, aí agradeceu e disse sentir-se em casa.
É um vinho extremamente competente, fácil e directo, para ser bebido novo. Encontra-se em qualquer superfície comercial e por um preço que ronda os 3€ é uma excelente opção para um vinho de qualidade para o dia a dia.
Vamos até ao Dão, mais propriamente a Santar, para o Casa de Santar Reserva.
Este 2007 apareceu em grande forma a embalar uma sardinhada de Setembro no restaurante Outurela e ano após ano vai cimentando o estatuto de valor seguro. Tendo em conta o volume de produção, estamos perante um excelente vinho que vale todos os cêntimos dos dez euros que pedem por ele. Se por acaso o virem por aí, não o deixem escapar que não se vão arrepender.
Dois rápidos parênteses. O primeiro para reconfirmar o Setembro como o mês oficial das grandes sardinhadas. Este ano tive a oportunidade de provar as sardinhas assadas em diversos pontos do país e mostraram-se sempre magníficas. Fiquem lá com os Santos que eu desforro-me em Setembro.
O segundo para actualizar a informação sobre o Restaurante Outurela que já vos falei aqui. Este é daqueles lugares que continua a merecer a minha visita com frequência. Pela comida (as espetadas, as carnes e os peixes na grelha, o cozido à sexta-feira, são alguns que merecem atenção redobrada), pelo serviço de vinho, competente e a preços honestos, apesar de um pouco atabalhoado em alturas de casa cheia, essencialmente aos almoços. Há que “apertar” com o patrão Zé que ele põe a coisa na ordem. E por último, pela forma simpática que sou sempre recebido. Enquanto assim for continuo a recomendar.
Last but not least, pelo contrário, este magnifico espécimen vindo do Douro.
Quando comecei a desenvolver o gosto e a aguçar a curiosidade para o mundo dos vinhos, a marca Duas Quintas era para mim o topo da pirâmide Eu sabia que havia os Barca Velha e que tais, mas aqueles eram palpáveis e eu podia chegar-lhes. Eram os meus favoritos.
Depois, com o passar dos tempos começamos a interessar-nos por outras coisas, sempre naquela busca desenfreada por novidades e coisas especiais, tendo ficado estes clássicos para segundo plano. Aos poucos voltava a eles, e era sempre com redobrada alegria que reencontrava momentos de grande felicidade, como voltou a acontecer com este veterano de 2001.
É produzido pela Casa Ramos Pinto, uma das mais importantes casas do Douro e o nome Duas Quintas surge pelas uvas seleccionadas para estes vinhos virem de duas quintas diferentes, a Quinta dos Bons Ares e a Quinta de Ervamoira, esta última, lindíssima por sinal, já teve o merecido destaque aqui no blog.
Passemos ao vinho, que a conversa já vai longa. Apareceu a engrandecer uma jornada entre amigos, daquelas que se vão abrindo garrafas pelo meio da risada e fez questão de arrebatar a atenção de todos. Ao fim destes anos todos está com uma presença e uma elegância notáveis a compensar largamente todo o tempo que foi pacientemente guardado. Um grande tinto, de uma casa que é uma grande referência no Douro. É bom perceber que a tradição ainda é o que era.