Os vinhos da Quintas de Melgaço desceram à Capital, para, pela mão do administrador Pedro Soares e da enóloga Virgínia Raínho, nos apresentarem a bateria de Alvarinhos que hoje fazem parte do seu portefólio vínico.
O lugar escolhido foi o restaurante Populi, no renovado Terreiro do Paço (espelho meu, espelho meu, haverá Praça mais bonita do que eu?), onde os vinhos se cruzaram com as iguarias preparadas pelo Chef Luís Rodrigues.
A Quintas de Melgaço é uma empresa com cerca de 530 accionistas, que são na verdade pequenos produtores com vinhas no concelho de Melgaço. Fundada no início dos anos 90 por Amadeu Abílio Lopes, um empresário de referência emigrado no Brasil, que orgulhoso da sua terra regressa com o objectivo de concretizar o sonho dos pequenos produtores da região, terem condições para produzir os seus próprios vinhos. Tendo por bandeira uma das grandes castas brancas nacionais, a Alvarinho, o nascimento da empresa foi uma realidade. Após a construção da adega e a implementação das condições técnicas para o seu funcionamento, Amadeu Abílio Lopes considerou a sua obra concluída e doou, poucos anos mais tarde, a sua participação maioritária ao município de Melgaço.
Depois de no início do século a empresa ter passado por um período mais conturbado, foi após a entrada do actual administrador, Pedro Soares, que entrou definitivamente no rumo da prosperidade, exportando já uma parte significativa da sua produção e marcando assim presença em cerca de 20 países de todo o mundo.
Passemos então aos Alvarinhos que nos vieram mostrar.
Na entrada de gama, o Torre de Menagem Alvarinho Trajadura 2011 (15,5pts, 3,29€) foi um dos vinhos que mais surpreendeu e foi mesmo uma das melhores relações qualidade preço apresentadas. Fácil, frutado, sem madeira, privilegiando a acidez e a frescura. Muito bem.
De seguida, a maior referência da casa, o QM Alvarinho. Provaram-se as colheitas de 2010 (16pts, 7,60€) e de 2011 (16pts, 7,60€). O mais antigo com uma maior exuberância aromática e com uma boca mais gulosa e o mais novo com um aroma mais contido, citrino, mineral. Ambos frescos e com persistência média.
Depois o Castrus de Melgaço Alvarinho 2010 (16,5pts, 9,50€), outra boa rqp, com 50% do vinho a passar por madeira, mostrou-se aromático e complexo, macio e equilibrado. Boa referência. Foram produzidas 5000 garrafas.
Lagar Antigo Alvarinho 2011 (16,5€, 14€), o novo topo de gama da casa. Estagiou em inox durante 6 meses com processo de batonage e 2% (!?) do vinho a passar por madeira. Foi possivelmente o melhor vinho que provámos, com uma estrutura e um comprimento de salientar. O nariz trouxe fruta tropical sem exageros e notas de chá. Foram produzidas 3000 garrafas. Pareceu-me com um preço um pouco salgado.
Para terminar dois espumantes. O Espumante QM 2007 (16pts, 10€), carregado na cor, fruta madura, apesar da boca já não ter um comprimento muito grande é um vinho muito interessante, principalmente para quem é adepto de vinhos com alguma evolução. E o Espumante QM 2010 (16pts, 10€), mais fresco, nariz muito atraente, boa acidez e leve travo doce.
Se quisermos definir um perfil nos vinhos deste produtor teremos de destacar a exuberância aromática e a boa acidez que traz uma frescura muito interessante aos vinhos. Para mim destacaram-se o Torre de Menagem e o Lagar Antigo, dois vinhos muito diferentes, mas que definem bem o perfil da casa em dois segmentos opostos.
O momento serviu ainda para dar a conhecer a recente apresentação do novo site do produtor, no seguimento da modernização da imagem da empresa, processo que teve início com o novo rótulo do Torre de Menagem.
Após a prova houve a possibilidade de testar a aptidão gastronómica dos vinhos com os petiscos preparados pelo Chef Luis Rodrigues. Bolinhos de alheira com chutney de tomate, que estavam uma maravilha, com um suave travo especiado no chutney (aniz estrelado e cardamomo, disseram-nos) que criava uma combinação perfeita com o sabor da alheira (autêntica, não daquela com uma acidez parva).
Ainda Tostas de Chévre com Mel, simples e boas, salpicadas com erva doce e Bolinhos de Azeite a adoçar o final.
Uma referencia ao espaço que nos acolheu, o Populi. Foi criado por dois publicitários que decidiram abrir um restaurante com o conceito que mistura a gastronomia, a arquitectura e a decoração, conforme os próprios explicam lá no seu sítio. A decoração, que prima pela modernidade, está muito bem conseguida e a gastronomia navega entre a petiscaria tradicional portuguesa e propostas mais arejadas, a piscar o olho à fusão, tendo por base o nosso receituário clássico. Foi essa a ideia que fiquei pela curta conversa com o Chef.
Quanto aos vinhos, passei os olhos a correr pela carta e pareceu-me bem, apesar de haver pontos a afinar, nomeadamente datar as colheitas e ter atenção a alguns preços que pareceram um pouco altos. Não existe política de BYOB, o que se lamenta, apesar de ter ficado a promessa de ser revista a situação.
Fiquei curioso de experimentar este espaço, até porque o que provámos estava muito bom. Ficará para uma próxima oportunidade.