O Hugo Mendes sempre foi um indignado de Bucelas. A trabalhar na região, não se cansou de exaltar as suas características, mas também de criticar as estratégias desta DOC para gerir a reputação dos seus vinhos. Lembro que Bucelas é a única região portuguesa exclusivamente de vinhos brancos, conhecida pelo berço do Arinto, tendo por isso especificidades únicas. Fartou-se de gritar, que os Arintos de Bucelas precisam de tempo, que o facilitismo, o volume e os preços baixos, não são o melhor caminho para colocar os vinhos da região a ombrear com os outros grandes brancos portugueses. Como sempre nestas coisas, houve quem lhe reconhecesse a razão e quem lhe chamasse de doido. É legítimo.
Passados os anos, os vinhos que ajudou a fazer na região (como gosta de dizer) estão aí, ao julgamento de todos. Recentemente bebi vários vinhos da Quinta da Murta, o espumante brut nature incluído, e de facto o tempo fez-lhes muito bem. Ganharam estrutura e profundidade, mantendo a personalidade e a frescura que caracteriza os Arintos de Bucelas. Escolhi destacar o Quinta da Murta Colheita de 2015, por ser o “entrada de gama” e por ter evoluído graciosamente, encontrando-se neste momento num patamar de qualidade muito elevado para um vinho de 6€. Enquanto consumidor, quero sempre pagar o menos possível, mas não me custa admitir que já paguei muito mais por vinhos que me deram metade do prazer.
Vinificado exclusivamente em inox, mostra-se profundo e com boa complexidade, conjugando a expressividade da fruta madura, com uma excelente acidez. Muito fiel à casta e à região, ganhou dimensão de boca, num registo muito equilibrado, com presença, terminando fresco e cheio de sabor. Por um preço módico, temos aqui um excelente exemplo da potencialidade de guarda dos Arintos de Bucelas.
Procurem também pelo Murta Clássico 2015, este com estágio em barrica e num patamar superior, numa expressão mais robusta de Arinto de Bucelas, mas com o mesmo carácter e frescura.