Apesar do glamour da noite, dos muitos intérpretes do vinho português presentes e do desfile de excelentes vinhos, tem havido outro factor que deveras impressiona ano após ano... A qualidade dos pratos que nos chegam às mesas.
Há cerca de duas semanas, decorreu no Velódromo de Sangalhos, Anadia, Bairrada, mais uma gala da revista Grandes Escolhas (antes Revista de Vinhos). É tradicionalmente um evento onde se reune todo o sector do vinho português, em modo festivo, para aclamar os vinhos e os seus protagonistas que, para a redacção da revista, mais se destacaram no ano anterior. (No palco João Geirinhas, Directo de Negócio da Revista Grandes Escolhas).
Tenho tido o privilégio, de há uns anos a esta parte, ser convidado para este evento que decorre alternadamente em vários locais do país. Apesar do glamour da noite, dos muitos intérpretes do vinho português presentes e do desfile de excelentes vinhos, tem havido outro factor que deveras impressiona ano após ano…
…a qualidade dos pratos que nos chegam às mesas. Escalfar um lombo de bacalhau para 1000 pessoas e conseguir que ele chegue à mesa neste ponto (apesar da luz não ter sido amiga da câmara do meu telefone, penso que é possível aquilatar a precisão da cocção) é realmente de se lhe tirar o chapéu. E não se pense que foi um acaso, pois tem sido uma constante de todas as galas, sejam elas no Porto, em Lisboa, ou noutro lugar. Desconheço se as equipas de cozinha responsáveis por estes banquetes são sempre as mesmas, mas está de parabéns a Grandes Escolhas por saber escolher tão bons profissionais. Numa noite de tantos aplausos também eles mereciam a sua ovação.
Já agora, o dito bacalhau, que tinha o pomposo nome de Lombinho de Bacalhau Escalfado a 66 graus com Emulsão de suas Gelatinas, Sementes de Coentro e Legumes Grelhados com Vinagrete de Frutos Secos (ufa!), casou lindamente com este branco do Douro que passou pela minha mesa e que nunca tinha provado. Numa pesquisa posterior fiquei a saber que o Vale D. Maria Vinha de Martim Branco 2017 é um branco proveniente de uma vinha velha com cerca de oitenta anos, com várias castas misturadas, situada na Vila de Martim, na zona de Murça. É um vinho cheio, ainda a mostrar muita juventude, com a barrica onde estagiou a marcar um pouco o primeiro impacto aromático. Muita riqueza de fruta, elevada por frescas sensações minerais e com uma acidez bem presente que confere uma excelente frescura e profundidade ao vinho. É neste balanço de opulência e frescura que reside a sua maior virtude. Um grande branco do Douro e de Portugal, saibamos nós esperar por ele.