E a Tinta Negra chega aos vinhos de mesa.
O projecto é de Diana Silva, uma madeirense que anda há muitos anos no mundo dos vinhos e que agora passa para o lado da produção com este projecto de vida.
Juntamente com o seu marido, Diana decidiu voltar à sua terra natal para fazer vinho de mesa a partir da casta “maldita” Tinta Negra.
A Tinta Negra nunca foi uma casta muito valorizada na Madeira, mesmo para os vinhos fortificados, por isso quando a Diana chegou com a ideia do seu projecto foram muitas as vozes incrédulas e de espanto.
A verdade é que a paixão pelo vinho e pelo seu projecto pessoal não a demoveu de convencer alguns produtores da zona de São Vicente a venderem-lhe as uvas de Tinta Negra que necessitava para fazer os seus vinhos.
Vinificados na Adega de São Vicente, com enologia de Joao Pedro Machado e da própria Diana, nascem três vinhos, um branco, um tinto e um rosé, todos monocasta de Tinta Negra.
São vinhos gastronómicos, secos, com alguma austeridade e pouco concentrados. A frescura salina da ilha está presente e confere-lhes um paladar muito próprio. O tinto é aberto e fresco e, salvaguardando as devidas distâncias, a fazer lembrar um Gamay de soif. O primeiro blancs de noirs da ilha, que foi o meu favorito, segue na mesma linha. Contido, fino, fresco, com uma acidez salivante. O rosé mantém o carácter, mas ainda assim, com uma fruta vermelha mais evidente, pareceu-me o mais “mainstream” dos três.
O preço, a rondar os vinte euros, não será o mais amigável, mas estamos a falar de vinhos de nicho produzidos numa viticultura que não é barata.
Merecem ser conhecidos estes Ilha. Não só pela lufada que trazem aos vinhos tranquilos da Madeira, mas também pela coragem e loucura saudável da produtora Diana Silva. Parabéns.