Com a chegada do mês de Outubro entramos no trimestre de todas as provas. Outubro, Novembro e Dezembro, são os meses mais preenchidos do calendário enófilo em Portugal, aqueles onde todos os agentes envolvidos no sector do vinho jogam as suas cartadas. Da produção, passando pela distribuição e terminando nos eventos, serão três meses onde tudo acontece.
Pela parte que me toca, com a vida profissional a ocupar cada vez mais tempo, vou tentar acompanhar da melhor forma esta loucura e, feito ainda mais improvável, contar-vos por aqui tudo o que se vai passar.
Ontem, num furo durante a tarde, passei pelo Hotel Sana Lisboa, ao Marquês de Pombal, onde a distribuidora Wine Concept levou a cabo a sua primeira grande apresentação profissional.
Estive lá apenas duas horas, em que quase metade foi passada à conversa, tanto com os produtores, como com as caras conhecidas que sempre nos vamos cruzando nestas ocasiões, pelo que o tempo para provar vinho foi diminuto.
Ainda assim fiquei a conhecer um pequeno projecto que me entusiasmou.
Trata-se da Quinta Várzea da Pedra, um projecto familiar de dois irmãos, Tomás e Alberto Emídio, que herdaram a propriedade da família e decidiram arregaçar as mangas na produção de vinho. Estão na região de Óbidos, mais propriamente no Bombarral, onde utilizam as castas arinto e fernão pires para os brancos e syrah e touriga nacional para os tintos, sendo todas as uvas provenientes de vinhas próprias.
Pela curta conversa que tive com o Tomás, enquanto ia provando os vinhos e trocando algumas impressões, fiquei com a sensação que o rumo a dar ao projecto é fazer vinhos com pouca intervenção, utilizando os antigos métodos utilizados pelos seus familiares (como por exemplo a vindima manual e a pisa a pé) e no futuro caminhar para a produção biológica. Na enologia contam com a ajuda de Rodrigo Martins.
Sobre os vinhos, DOC Óbidos, que chegam em bonitas garrafas borgonhesas com rótulos modernos e apelativos (desenhados pelo próprio Tomás que era designer de profissão, antes desta nova vida), provei quatro brancos e um tinto. Nos brancos, um colheita lote de arinto e fernão pires, um monocasta de fernão pires e outro de arinto e, por último, o reserva, também ele um lote de fernão pires e arinto com pequena predominância do primeiro. O tinto é um lote de syrah e touriga nacional. Agradaram-me muito mais os brancos, que são todos feitos em inox e apenas o reserva tem estágio em barrica.
A frescura e a salinidade são denominadores comuns. Com aromas contidos, maioritariamente a fruta verde e citrinos, são vinhos leves, com boa acidez, frescos e salinos, que poderiam ter mais volume e complexidade (algo que acredito que o tempo em garrafa trará), mas ainda assim vinhos que para uma primeira colheita deixam excelentes perspectivas. Mostram ainda muita juventude e bom potencial de evolução em garrafa, principalmente o monocasta de arinto.
Procurem por eles porque acho que valem a pena conhecer, ainda para mais a preços muito realistas. Um projecto que merece ficar debaixo do radar.