O restaurante Gambrinus, bem no coração da cidade de Lisboa, foi o lugar escolhido pela equipa da Real Companhia Velha para apresentar as últimas novidades do seu portefólio.
Se necessário fosse reforçar as aptidões e a diversidade das várias quintas da Real Companhia Velha esta prova tinha servido perfeitamente para o efeito. Cinco referências, todas elas muito diferentes entre si, que demonstram o leque de possibilidades ao alcance das diversas vinhas do universo da RCV, cada uma com as suas características tão próprias. Por entre ensaios e novidades, afirmações e confirmações, provaram-se cinco vinhos que são um reflexo do apurado trabalho de inovação que tem sido desenvolvido nestes últimos anos e a prova que o Douro permite produzir vinhos com uma grande diversidade de estilos.
A prova fez-se à mesa, na companhia dos pratos clássicos e datados deste bastião da restauração Alfacinha que é o Gambrinus. E não me refiro a datado no sentido pejurativo, antes uma confirmação do que é e sempre foi o Gambrinus, que no dia que deixar de ser “datado” e “clássico” deixa de ser o lugar emblemático que é. Importante é referir que as combinações dos vinhos com a comida resultaram bem e por isso estão de parabéns os escanções da casa.
Ainda antes da prova, os responsáveis da Real Companhia Velha presentes, Pedro Silva Reis, director de marketing, Rui Soares, responsável de viticultura e Jorge Moreira, director de enologia, enquadraram o momento e destacaram a qualidade e quantidade de terroirs que têm à disposição, deixando algumas indicações de como foi possível chegar a estes resultados. Passemos à mesa.
Foi um espumante que abriu a prova. À terceira edição o Real Companhia Velha Espumante Chardonnay & Pinot Noir Bruto 2013 (PVP 19€) saltou do “laboratório” Séries e, devido ao sucesso das anteriores edições, passou a integrar o portefólio regular da empresa. Vinhas da Quinta do Cidrô, no planalto da Pesqueira, sujeitas à frescura e grandes amplitudes térmicas daquele local, deram origem a um vinho espumante muito conseguido. Ligeiramente mais carregado na cor, fruto da maior quantidade de Pinot no lote, tem um aroma fresco com a fruta bem combinada com notas de panificação, num perfil aromático a piscar o olho a alguns champanhes jovens. Na boca mostra bom equilíbrio entre açúcar e acidez, num estilo fresco e com um ligeiro apontamento mineral que lhe dá personalidade. Temos espumante de luxo para as festas que se aproximam. Edição limitada a 3000 garrafas.
Foi casando com os célebres – para muitos os melhores de Lisboa – croquetes do Gambrinus e com umas fatias de presunto ibérico da marca 5J.
Depois de o ano passado nos ter dado a conhecer a casta Samarrinho, o projecto Séries – o banco de ensaio onde a RCV produz os seus vinhos experimentais e com novos perfis, muitas vezes com castas tradicionais esquecidas ou outras pouco conhecidas, que quando resultam são incluídos no portefólio tradicional – na colheita de 2014 traz-nos outra casta branca pouco conhecida. O Real Companhia Velha Séries Moscatel Ottonel branco 2014 (PVP 15€) é um vinho inédito, produzido a partir de uma variedade de Moscatel pouco conhecida, que é possível encontrar na Áustria e na região francesa da Alsácia. Em 2003 foram plantados experimentalmente 2 hectares de Moscatel Ottonel na Quinta do Casal da Granja e agora o resultado desse trabalho chega à garrafa. Aromaticamente a fazer lembrar algo entre a Gewurztraminer e o Moscatel, com uma forte componente floral onde se destacam as rosas e a fruta exótica como as lichias. Na boca temos um vinho fino, de perfil jovem, com recorte fresco, de traço mineral e uma acidez bem alta. Não tem qualquer passagem por madeira e foram produzidas apenas 1200 garrafas.
Harmonizou com um suave Caril de Gambas, onde o molho foi preparado com o próprio vinho.
Entrámos nos tintos com dois vinhos que surgem no seguimento de duas edições comemorativas. Registada em 1913, a marca Evel (anagrama de leve) celebrou o seu centenário em 2013 com a edição de um vinho comemorativo da efeméride, o Evel XXI Centenário tinto 2010. Agora surge-nos o Evel XXI Grande Reserva tinto 2012 (PVP 40€), um lote de vinhas velhas de Touriga Nacional e Touriga Franca, definido pelos seus responsáveis como um vinho com a irreverencia da Quinta do Sibio e a seriedade da Quinta das Carvalhas (vinhas velhas). Jorge Moreira em tempos tinha afirmado que o perfil dos Evel iria evoluir para um estilo com mais corpo e mais boca, algo que este vinho vem confirmar. A empatia é imediata ao levarmos o copo ao nariz. Rico, intenso, opulento, com a fruta e a barrica, de grande qualidade, em bonito dialogo. A boca afina pelo mesmo diapasão. Com acidez e taninos presentes a conferirem bom equilíbrio ao conjunto. O final é de luxo e de grande comprimento. Estagiou durante um ano em barricas novas e foram produzidas apenas 3000 garrafas.
Acompanhou um dos ex-libris da carta do Gambrinus, o intemporal Empadão de Perdiz.
Outra edição especial lançada nestes últimos anos pela RCV foi o Quinta de Cidrô Celebration tinto 2010, para comemorar os 20 anos de viticultura moderna na Quinta. No seguimento desse vinho e em homenagem ao Marquês de Soveral (nascido em 1851 na própria Quinta de Cidrô), chega agora ao mercado o Quinta de Cidrô Marquis tinto 2012 (PVP 40€). Cabernet Sauvignon (40%) e Touriga Nacional, num conjunto menos exuberante que o anterior, mas igualmente de grande potência e profundidade. Alguma austeridade no aroma, com a fruta (preta e madura) e a barrica bem temperadas por um vivo traço vegetal conferido pelo Cabernet. A boca é cheia, de corpo e taninos poderosos, com acidez e secura que trazem mais seriedade ao conjunto. Não será tão consensual como o Evel, até porque parece necessitar de mais tempo, mas é igualmente um tinto de grande qualidade. Estagiou em barricas (novas e usadas) durante 14 meses e foram produzidas 3500 garrafas.
Com a sobremesa, um Souflé de Baunilha com Frutos Macerados preparado na sala, à frente de todos, fazendo jus ao serviço de sala clássico do Gambrinus, chegou a última novidade da prova, o também ele clássico, Grandjó Late Harvest branco 2012 (PVP 19€). A última edição deste colheita tardia do Douro, uma, senão a maior, referência dentro do estilo em Portugal, era de 2008 e por isso a expectativa era imensa para voltar a provar um Grandjó colheita tardia. As uvas de Sémillon que compõem este vinho saem das vinhas da Quinta do Casal da Granja, localizada no planalto de Alijó e a maior do universo da RCV. A altitude das vinhas e a humidade relativa muito alta que se faz sentir no Casal da Granja proporcionam condições de excepção para o aparecimento da botritys, elemento essencial para desenhar um bom vinho de colheita tardia. Aromaticamente complexo, com os frutos secos, a fruta em calda, o mel e as notas tostadas a criarem um ambiente muito sedutor. Untuoso e persistente, com a doçura melosa bem equilibrada pela acidez, como é apanágio deste vinho. O final é guloso e de bom comprimento. Foram produzidas 6500 garrafas.
A equipa da Real Companhia Velha a sorrir depois da apresentação de mais um conjunto de vinhos que expressam o caminho que a empresa redesenhou em 2010 com o regresso de Jorge Moreira à enologia da casa.
Como esta será provavelmente a última publicação antes do Natal, aproveito a ocasião para desejar a todos um Feliz Natal.