Um dia em cheio, passado entre amigos que partilham a paixão pelo vinho, levou-nos num destes sábados a visitar duas encantadoras quintas na região de Lisboa. A jornada começou pela manhã, no Gradil, em Mafra, na lindíssima Quinta de Sant'Ana...
A Quinta de Sant’Ana é uma propriedade que data do século XVII e está situada junto à vila do Gradil, em Mafra. Os edifícios mais antigos da quinta são a capela e a adega, tendo a restante propriedade, como a conhecemos hoje, crescido ao longo dos tempos à sua volta.
Ao longo dos séculos a propriedade teve vários donos, entre eles o Rei Dom Luís, mas para a nossa história de hoje puxemos o filme à frente, até aos finais dos anos sessenta, quando o barão alemão Gustav Von Fürstenberg a adquiriu e fez dela a sua casa. Uma estadia curta, já que em 1974, com a revolução dos cravos, decidiu voltar à sua terra natal tendo a quinta ficado desabitada até ao início dos anos noventa, quando a sua filha Ann decide regressar, com o seu recém marido James, à propriedade da família.
Em 2004 surgia a primeira colheita da era Frost e a longa tradição vitivinícola da quinta traduzia-se finalmente em marca própria. Daí até aos dias de hoje muita coisa mudou. À medida que as experiências se sucederam, foi-se compreendendo o comportamento de cada casta em determinado ponto do terreno e perante as várias exposições solares. A diversidade de espécies hoje utilizadas, com forte pendor nas castas estrangeiras, expressam bem as diferentes possibilidades que este terroir permite.
Apesar de terem sido as castas brancas a trazerem visibilidade à quinta é na Pinot Noir que recai a maior aposta e onde o o carinho é maior. Com clones trazidos de um terreno Grand Cru da Borgonha acredita-se ser possível fazer um grande Pinot em Portugal.
É aqui, na adega da quinta, adaptada e modernizada a partir da existente, que se vinificam a totalidade dos vinhos da quinta. Os lagares de pedra originais, para além do charme que conferem ao conjunto, continuam a ser utilizados.
Enquadrado com as suas vinhas de Riesling, James Frost, o antigo capitão de cavalaria do exército britânico, tem motivos para sorrir. Nascido no seio de uma família de agricultores no sul de Inglaterra, foi com a realidade de Sant’Ana e após ter conhecido o enólogo António Maçanita que a produção de vinho passou a ser a sua maior paixão.
A descontracção da visita seguiu pela prova dos vinhos, sendo os brancos provados no jardim, ao lado das vinhas, e os tintos, mais tarde, dentro da adega. Quanto aos brancos, que já conhecia, voltaram a surpreender pela positiva. Provámos três brancos da colheita de 2012, Riesling, Verdelho e Fernão Pires, com o primeiro, fresco e mineral, apesar de ainda muito novo, a ser o meu favorito. Os tintos, também três, Pinot Noir 2011, Sant’Ana 2012 e Homenagem ao Baron Gustav von Furstenberg 2010. Incontornável o Pinot, ainda jovem, fruta vermelha, terroso, vegetal, grande, grande pinta de vinho.
A manhã tinha passado a correr. As crianças, exaustas, depois de uma manhã de correria em contacto com os animais e a natureza descansavam agora à sombra, enquanto os adultos, ainda com um copo de vinho na mão, despediam-se daquela envolvência bucólica. O almoço surgia no horizonte, chegava a hora de rumar a outras paragens. Restava agradecer a James Frost a forma calorosa e simpática como nos recebeu naquela manhã de sábado e nos mostrou a sua propriedade. Definitivamente, um lugar a voltar.