Lopez Heredia é dos produtores mais míticos da Rioja e também um dos mais antigos. Visitar as suas instalações no Bairro da Estação, em Haro, é um momento memorável na vida de um enófilo, onde facilmente se entende a forte identidade que é a imagem de marca deste produtor. Quem conhece os seus vinhos sabe do que falo.
A experiência começa no momento que enviamos um email a solicitar a visita. Em menos de 24 horas recebemos a resposta, a agradecer o nosso interesse nas Bodegas López de Heredia e a pedir o favor de indicarmos o dia e o horário pretendido. Juntamente com estas perguntas segue um pequeno formulário onde somos convidados a partilhar o que fazemos, de onde vimos, onde vamos ficar e se necessitamos de ajuda com o alojamento ou qualquer outro assunto relacionado com a nossa permanência na região. Uma intenção de personalizar a visita que passa uma imagem de profissionalismo que não estamos habituados a ver.
Depois, ao chegar e ao ter contacto com aquele património edificado, há uma sensação de estarmos perante algo mágico. Uma magia que se confirma ao longo da visita, onde somos confrontados com uma filosofia que pensávamos já não existir. A caminho dos 150 anos, esta empresa familiar, continua a fazer questão de não se afastar um milímetro das suas convicções e dos métodos tradicionais que continuam a imprimir aos seus vinhos. Uma experiência memorável, do primeiro ao último minuto. Um local que qualquer apreciador deveria visitar pelo menos uma vez na vida.
Vina Gravonia Branco 2003
Entrar na loja do produtor e verificar que o branco mais novo na prateleira é de 2003 diz bem da cultura que se vive nas Bodegas López de Heredia. De vinhas com cerca de 50 anos, as uvas da casta Viura da vinha Gravonia, chegam à adega para serem vinificadas de forma tradicional, com a fermentação a acontecer em grandes toneis de madeira, para depois estagiarem durante 4 anos em barricas usadas de 250 litros, com trasfegas de 6 em 6 meses. Após este processo e antes de chegar ao mercado, o vinho ainda estagia mais 4 anos em garrafa. Impressionante, não?
O resultado é um vinho de cor dourada, a mostrar evolução, com aromas terciários bem integrados na fruta e na madeira, tudo amparado por um fundo mineral que lhe transmite uma complexidade notável. A boca confirma o classicismo deste branco, bem seco e profundo, com travo de frutos secos, num perfil muito fino e persistente. A complexidade do vinho presta-se a muitas combinações à mesa, mas um simples peixe assado na brasa será sempre uma excelente companhia (16,5+).
Vina Tondonia Reserva Branco 1998
Um degrau acima na hierarquia dos brancos encontramos este Reserva (acima ainda temos os Grande Reserva), igualmente produzido a partir da casta Viura, mas aqui temperado por 10% de Malvasia e com 6(!) anos de estágio em barricas usadas com trasfegas de 6 em 6 meses. Um vinho que expressa bem a identidade dos brancos deste produtor, com nariz muito fino e complexo, com notas de evolução bem integradas com a fruta branca madura. Na boca está bem seco, intenso e elegante, com uma acidez fina a dar vida a todo o conjunto. Um branco cheio de carácter, com um leve traço oxidativo e de grande persistência. Ganha se for decantado meia hora antes do consumo e se não for servido muito frio. O potencial gastronómico, à semelhança do Gravonia, é enorme, mas com a estrutura que ainda tem andará bem com um arroz de marisco de sabores intensos (17+).
Vina Cubillo Tinto 2005
Chamar-lhe entrada de gama pode parecer piada, mas é de facto isso que ele representa dentro do portefólio do produtor. Este 2005, um ano classificado de Excelente pelo Conselho Regulador da Rioja, é feito de um lote de 65% de Tempranillo (o nosso Aragonez ou Tinta Roriz), 25% de Garnacho e o resto com Mazuelo e Graciano. Classificado de Crianza, apesar do estágio de 3 anos, sempre em barricas usadas e com trasfegas de 6 em 6 meses, é um vinho que não perde a identidade do produtor por ser de uma gama de entrada. Com um nariz muito atraente, com frutos silvestres, flores, especiarias e notas terrosas, tudo bem composto pelas levas notas de madeira. Macio e fresco, fino e guloso, com taninos ainda presentes e um final de boca guloso e de bom comprimento. Foi fiel companheiro sempre que era chamado a lidar com os inúmeros pintxos da gastronomia Riojana. Uma maravilha (16+).
Vina Tondonia Reserva Tinto 2001
Um vinho emblemático, um clássico da região, que por cerca de 20€ oferece uma qualidade acima da média. Produzido a partir do mesmo lote de castas do Cubillo, mas aqui com 75% de Tempranillo, a casta rainha da Rioja, estagiou em barricas usadas durante 6 anos e depois mais uma mão cheia deles em garrafa. Suave na cor, evoluído, frutos silvestres, especiarias, couro, cogumelos, notas terrosas, tudo incrivelmente limpo e bem integrado com a madeira. Na boca está muito afinado, distinto, com grande elegância, tudo sem exageros, fruta, frescura, mineralidade, taninos finos, para um final prolongado e cheio de classe. Um vinho enorme, que se agarra à sua identidade e que não se importa com as modas dos nossos dias, merece toda a nossa atenção, pois a sua complexidade exige o máximo dos nossos sentidos. Um vinho que marca qualquer apreciador. Apesar da idade é um vinho que está muito longe do fim da linha, merece guarda, para se ir rejubilando cada vez que se abre uma garrafa (17,50+).
Vina Tondonia Reserva Tinto 1999
Com um método de produção semelhante ao anterior, este 1999 não se mostrou tão vigoroso, nem com a mesma profundidade. 99 não foi um bom ano na Rioja e talvez isso se reflicta neste vinho, longe dos grandes Riojas, mas ainda assim um belo exemplar (16,5).
Provei alguma das referencias que referes no texto e fiquei maravilhado!!
são grandes vinhos quem qualquer parte do mundo! são filosofias diferentes daquilo que estamos habituados!
Sem dúvida, Ricardo. Grandes vinhos.