Foi num sábado gelado e com as cores de Outono a pintarem o cenário que regressei à Adega Mãe. A adega de design contemporâneo que se destaca na paisagem rural da freguesia de Ventosa, concelho de Torres Vedras, surge como homenagem a Manuela Alves, a matriarca da família Alves, que na figura de mãe inspira a criação dos vinhos do mais recente projecto do Grupo Riberalves.
O motivo desta visita prendia-se com as celebrações do 3º aniversário da Adega Mãe mas a ocasião serviria também para ficarmos a conhecer os novos monocastas tintos da colheita de 2012.
A receber-nos estava o enólogo Diogo Lopes que nos colocou ao corrente do actual estado do projecto, o caminho traçado para o futuro e o que tinha sido preparado para este dia de festa.
Após as apresentações deram-se início aos trabalhos com uma visita guiada pela adega e sala de barricas. Enquanto o Diogo, que conta com a colaboração do consagrado Anselmo Mendes como enólogo-chefe, nos ia falando do trabalho desenvolvido nestes últimos tempos, o grupo ia apreciando as belezas da adega. E voltar a este espaço fez-me lembrar quão bonita é esta adega. Um edifício sóbrio, muito bem pensado, belo na simplicidade, onde tudo faz sentido, um lugar a ser descoberto não só pelos aficcionados do vinho, mas também pelos amantes do design e da arquitectura. Definitivamente das adegas mais bonitas que já tive o prazer de visitar.
A paragem seguinte foi na sala de provas, outro espaço especial que reforça o que disse em cima sobre o edifício da Adega Mãe. Um espaço cheio de luz natural, de vista desafogada e condições de excelência para a prova de vinhos.
Começámos pela prova de três colheitas seguidas (prova vertical, em linguagem wine geek) do vinho branco Dory, no caso o 2011, 2012 e 2013. Surpreendente é o mínimo que se pode dizer de um vinho que não é feito a pensar em longevidade (4€ na grande distribuição). Mais frutados e gulosos os ’11 e ’13, mais fresco e mineral o ’12. Confirmei a ideia que já trazia de provas anteriores, o 2012 continua a ser o meu favorito.
Depois passámos às novidades em forma de três monocastas tintos. O clima Atlântico tem dado bons resultados no comportamento de algumas castas na Adega Mãe e na colheita de 2012 destacaram-se três de sotaque bordalês, a Cabernet Sauvignon, a Merlot e a Petit Verdot.
Começando pelo Petit Verdot e pelo Cabernet Sauvignon, este último já tinha surgido em monocasta na colheita de 2011, mostram-se vinhos fieis à casta, macios e de taninos redondos, ainda marcados pelo estágio em barrica. Fiquei com a ideia que o tempo vai fazer-lhes bem.
O Merlot foi a grande surpresa do dia. A casta que em Bordéus entra no lote de alguns dos melhores vinhos do mundo, deu aqui lugar a um vinho muito consensual, com a fruta preta bem temperada por notas vegetais e de especiarias. Boca de veludo, com corpo e estrutura, taninos redondos e final de bom comprimento para um vinho que mostra uma excelente relação preço-qualidade.
Vinhos que chegam ao mercado na ordem dos 7€, como todos os monocastas deste produtor e podem encontrar-se em algumas grandes superfícies ou em garrafeiras especializadas.
Seguiu-se o almoço que teve lugar na bonita e elegante sala de refeições da adega, onde os grandes janelões de vidro nos deixam ver a paleta de cores que as vinhas apresentam por esta altura.
A ligação deste produtor ao Bacalhau Riberalves ficou bem expressa nos pratos servidos ao almoço. Dos pastelinhos de bacalhau, secos e estaladiços, maravilhosos, passando pela açorda do dito e terminando no bacalhau assado. Várias abordagens ao nosso fiel amigo, todas deliciosas, mas onde os pastelinhos deixaram marca.
Para acompanhar o almoço não foram impostos vinhos para cada prato, antes disponibilizadas algumas referências para serem bebidas a bel-prazer de cada um. Um vinho que se destacou dos demais foi o Alvarinho 2012, que cerca de um ano e meio depois de ter chegado ao mercado mostra-se em grande forma, fresco, contido, equilibrado, longe de excessos tropicais, delicioso nas notas de petróleo, que a evolução em garrafa tornou mais evidentes. Namorou desavergonhadamente com a açorda de bacalhau e confirmou a aptidão das terras do Oeste para a Alvarinho.
No final cantou-se os parabéns, partiu-se o bolo e terminou-se com um passeio pelas vinhas da propriedade.
Está de parabéns a Adega Mãe, não só pela celebração do seu 3º aniversário mas acima de tudo pela consolidação de um projecto sério, com pés e cabeça, que paulatinamente começa a dar frutos. Numa região cada vez mais reconhecida pela qualidade dos seus vinhos brancos a Adega Mãe tem dado um contributo efectivo para a sua afirmação. Aguardam-se com expectativa os próximos capítulos.
Gosto muito do Dory, que fiquei a conhecer neste evento. https://biskt.wordpress.com/2012/06/20/curso-de-vinho-nivel-i-na-madeira-com-mario-louro/
Um dia terei que fazer umas férias em propriedades vínicas. 😉
A Adega Mãe vale bem uma visita 🙂