Mais uma pequena selecção de vinhos que bebi nestes últimos tempos e que merecem ser conhecidos. Desta vez passamos pela modernidade de um Syrah do Alentejo, seguimos pelo Dão interpretado por gente do Douro, e terminamos numa das mais agradáveis surpresas que tive nos últimos tempos, um tinto das Beiras, feito de Baga, com quase 20 anos de idade.
Comecemos pelo Alentejo. Pelo Solar dos Lobos, um produtor que tem vindo paulatinamente a trilhar o caminho do sucesso, muito dele assente em vinhos modernos, muito bem trabalhados, e que tem conseguido captar novos públicos para o consumo do vinho. Certamente que para isso têm contribuído os rótulos divertidos e impactantes, que enchem uma prateleira, onde a irreverência é um estilo assumido. Depois da edição no ano passado do monocasta de Touriga Nacional, chega-nos agora o Solar dos Lobos Syrah 2011, redondo e macio, muito atractivo, frutado, chocolate, madeira, de boa estrutura e persistência, um vinho guloso, muito bem feito, capaz de trazer felicidade a uma descontraída mesa de amigos. A enologia está a cargo da reconhecida e premiada Susana Esteban e encontra-se na grande distribuição por 9,90€ (16).
Vamos agora até ao Dão, mais propriamente a Pinhanços, junto à Serra da Estrela, onde três conceituados enólogos do Douro decidiram embarcar numa aventura pela Quinta do Corujão. Jorge Moreira (Poeira), Jorge Serôdio Borges (Pintas) e Xito Olazabal (Quinta do Vale Meão), três nomes sonantes do Douro que têm em comum o gosto pelos vinhos do Dão e que não hesitaram quando surgiu a oportunidade de arrendar a Quinta do Corujão, uma propriedade bem cotada pela comunidade enófila mas desconhecida do grande público. O resultado desse trabalho começa agora a aparecer no mercado e este Quinta do Corujão Tinto 2011 é sem dúvida uma bela surpresa e um excelente cartão de visita para este projecto. Um tinto que consegue mostrar um Dão acessível sem perder identidade, uma clareza de ideias notável para um vinho deste segmento, todo ele limpo, macio, leve, atraente na cor e no aroma, bem afirmativo nas finas notas vegetais, uma elegância que se bebe sem dar por isso. Um estilo ao alcance de todos, do menino da cidade, ao enochato resmungão. Por 5€ na grande distribuição é definitivamente um eleito para o Verão de 2014 (16).
Terminamos o trio de hoje com um vinho velho, o Quinta de Foz de Arouce Tinto 1995. Com quem me cruzei num leilão e em boa hora decidi trazê-lo para casa. Lê-se no contra rótulo que existem muitas lendas que atestam a existência de vinhas e vinho nas margens do Rio Arouce desde há vários séculos. Como a do Rei Arunce, que escondia dos seus inimigos, no seu castelo de Arouce, hoje castelo da Lousã, os seus bens mais preciosos, onde se incluíam a sua filha, a sua princesa e o já afamado na época, vinho de Arouce. Hoje propriedade do IV Conde de Foz de Arouce, a quinta faz parte do portefólio de João Portugal Ramos, enólogo responsável por esta colheita de 1995. A atestar por esta garrafa, a numero 2682 de 8000, deve ter sido uma boa colheita na região pois o vinho está numa forma incrível, diria mesmo, surpreendente. Feito com predominância de Baga, oriunda da Bairrada, e temperada pela Touriga Nacional, o vinho teve estágio em meias pipas de carvalho nacional durante um ano. Cor impressionante para a idade, bem expresso o vigoroso aroma da baga, tudo fino e cheio de garra, belíssimo na estrutura e elegância, encómios só possíveis em vinhos de tão bonita idade. Uma das maiores surpresas destes últimos tempos, que participou num dueto mágico com um lombo de bacalhau cozido. É possível encontrá-lo na garrafeira Estado D’Alma por cerca de 20€ (16,5).