Foi no início dos anos 90 que se iniciou o movimento bistronomie em França, com maior incidência em Paris, quando jovens e ambiciosos chefs começaram a optar por estabelecimentos de cozinha criativa, mais simples e a preços mais baixos dos que os praticados pelos famosos restaurantes gastronómicos. Dessa forma criaram uma geração de néo-bistrots, liderados por jovens chefs, muitos deles com experiências anteriores em restaurantes de nomeada, ao lado de grandes figuras da gastronomia mundial, que vieram trazer uma lufada de ar fresco à restauração da cidade.
Com a grande crise económica que começou a assolar a Europa no final da década passada este movimento ganhou um novo fôlego, com o aparecimento de novos e elegantes neo-bistrots, hoje responsáveis por algumas das mais excitantes ofertas existentes na cidade de Paris.
Numa recente ida a Paris e na impossibilidade de ir a um multi estrelado parisiense onde uma refeição para duas pessoas pode chegar sem muito esforço aos 1000€, tratei de pesquisar pelos néo-bistrots que estavam na berra na cidade. Rapidamente cheguei a dois nomes que me pareceram mais ou menos consensuais, o Chateaubriand de Inaki Aizpitarte, 27º na lista dos 50 Best Restaurants e o Septime de Bertrand Grébaut, 52º na mesma lista, este ainda com uma estrela no Guia Michelin. Tudo corria bem até ao momento de fazer a reserva, pois apesar de muita insistência e dedicação, factores indispensáveis para lidar com estes sistemas de reservas, não consegui mesa. Nem ao almoço. O plano b passava pelo terceiro nome da lista, o desconhecido (para mim) Le Servan, este fácil de reservar via telefone, com uma delicada voz feminina a confirmar prontamente a marcação da nossa mesa . E em boa hora o destino assim quis.
A aventura em nome próprio das manas Katia e Tatiana Levha acabou por revelar-se um excelente exemplo da actual vitalidade dos neo-bistrots na capital francesa e justificou todo o hype que gerou à sua volta. Num espaço amplo, luminoso, de estilo clássico-contemporâneo, com mesas e cadeiras simples de madeira, Tatiana (actual companheira de Bertrand Grébaut) mostra através da sua cozinha aberta para a sala a bagagem que trouxe das suas experiências com Alain Passard no L’Arpége e com Pascal Barbot no L’Astrange. Um curriculum de luxo que não é deixado ao acaso como pudemos constatar naquele almoço de sexta-feira.
O menu de almoço é curto e conciso, uma entrada, um prato e uma sobremesa ou um prato de queijo, 23€ (vinte e três! sim estamos num spot da moda em Paris). Tudo o que comemos estava bom. Pratos simples mas criativos, com produtos frescos, originais cruzamentos de ingredientes e pontos de cozedura imaculados, onde somos conquistados pela delicadeza e simplicidade dos sabores. Comandado pela mana Katia, o serviço de sala é descontraído mas eficiente, sem grandes alaridos as coisas correm bem e não há grandes tempos de espera, mesmo quando o restaurante ficou totalmente cheio.
Nos vinhos a carta não é muito extensa, composta totalmente por pequenos produtores biológicos das principais regiões de França. Fomos pelo Mâcon Village do Domaine Vallete, um Chardonnay da Borgonha, simples, aromático, com um fundo fumado que não se deu mal com a comida. Com a sobremesa ainda veio um copo de um branco meio seco de Vouvray, Loire, este bem mais interessante. Serviço correcto, tanto nos copos como nas temperaturas.
No final saímos todos satisfeitos. Pela qualidade da comida, pelo ambiente e acima de tudo pelo preço final que se revelou uma excelente surpresa. Por esta curta experiência não posso afirmar que estamos perante um grande restaurante, mas deu para ver que há ideias criativas, consistentes e com nexo, excitantes o suficiente para o recomendar sem hesitar a alguém que vá a Paris nos próximos tempos. Eu quero voltar.
Le Servan Rue Saint-Maur 32, Paris Tel: +33 1 55 28 51 82 Preço médio sem vinho: Almoço, 25€ Jantar, 40€