Dou início a mais um ano de publicações aqui no blog com dois vinhos espanhóis que gosto muito, ambos retirados do projecto La Vizcaína do reconhecido enólogo Raúl Pérez.
Contactei pela primeira vez com estes vinhos há uns anos, durante uma edição do evento Encontro com o Vinho e Sabores (penso que em 2015) e foi amor à primeira vista. Brilhavam no expositor da Niepoort, incluídos no fortíssimo portefólio dos seus Projectos. Fiquei imediatamente rendido à elegância, presença e carácter destes vinhos e não descansei enquanto não os comprei para os apreciar com a tranquilidade que exigem.
Passados estes anos concluo que não foi uma paixoneta passageira e que continuo totalmente rendido a estes extraordinários vinhos. Recentemente bebi dois destes tintos quase lado a lado, o El Rapolao e o La Vitoriana, e foi mais uma oportunidade para atestar a excelência dos mesmos.
O El Rapolao é um field blend de Mencía (a nossa Jaen), com algum Bastardo e Garnacha Tintorera (a nossa Alicante Bouschet). Esta vinha tem duas parcelas, uma com cerca de 100 anos e outra com cerca de 40. O vinho é fermentado e estagiado durante um ano em grandes tonéis usados e engarrafado sem filtração. Já o La Vitoriana é um lote maioritariamente de Mencía com um pouco de Bastardo, provenientes das melhores parcelas das vinhas de Valtuille. Também vinificado em grandes tonéis e engarrafado sem clarificação nem filtração.
Ambos primam pela elegância, apesar do perfil mais estruturado e afirmativo do La Vitoriana. Equilibrados, com aromas de fruta vermelha fresca, alguma especiaria e um lado mineral e terroso que lhes conferem imenso carácter. Complexos, com muita presença, apesar da elegância, num estilo profundo, persistente e muito fresco. Tempos houve que preferi o La Vizcaína, desta vez pendi para o El Rapolao, que está com uma presença e elegância invejáveis.
São dois bons exemplos para os cépticos dos vinhos de pouca intervenção (ou naturais, ou o rótulo que lhes quiserem colocar), pois mostram-nos bem como é possível fazer um vinho de aromas bem definidos, com pureza de fruta e muita frescura e equilíbrio, sem ser necessário entrar em grandes interpretações enológicas. Podem encontrá-los por cerca de 20€ cada nos referidos Projectos Niepoort, valor diga-se, que nos obriga a enquadrar alguns preços de rir que nos vão surgindo pelos escaparates.