Onde levar dois amigos Chefes de Cozinha, de passagem por Lisboa, a jantar um domingo à noite? Escolhi, e bem, a casa de José e Justa Nobre. Eles adoraram, mas houve uma mancha que ia estragando tudo.
Sopa de Santola. O prato emblemático de Justa Nobre. Divinal como sempre, muito saborosa e aqueles pedacinhos de carne a aparecerem pelo meio, que delícia…
Tagliatelle de Camarão. Outro prato com nota alta. O camarão de excelente qualidade, muito saboroso e com aquela consistência dura que eu adoro, a combinar muito bem com a massa e o molho. Uma pena a tagliatelle estar tão cozida.
Lombo de Garoupa com Molho de Coentros. Bom. A cumprir.
Naco de Vitela com Cogumelos. Carne de grande qualidade, cozinhada no ponto certo e o molho a dar a harmonia final. A única queixa foi de ser muito, vejam lá.
Eu ainda não contei, mas antes das sopas, a brigada de entradas que caíram na mesa foram irresistíveis ao ponto de não sobrar nenhuma. Destaco entre as tais, o presunto ibérico de bolota (magnífico), os carapauzinhos de escabeche (de chorar) e a salada de ovas (boa como tudo).
Rissóis de Pescada da Nazaré. Este prato não provei, mas quem o comeu, disse maravilhas. E eu acredito, bom aspecto pelo menos não lhe faltava.
Lombo de Robalo com Risotto de Abóbora e Bisque de Sapateira. E no melhor pano caíu a nódoa.
Primeiro, o risotto tão cozido não presta. Segundo, há pratos tradicionais portugueses que até poderão funcionar com risottos, mas nunca atingirão a excelência dos nossos arrozes. Eu pelo menos, não trocaria um arroz de lingueirão para acompanhar um peixe-espada frito, por um risotto. Cada coisa no seu lugar.
E terceiro, o peixe para além de não ser fresco já estava a caminhar perigosamente para um estado intragável. Quando nos pedem 29€ por um prato de peixe, a última coisa que estamos à espera é que nos tragam peixe de segunda (ou terceira). E por isso mesmo foi para trás.
Não chegou para estragar a refeição, mas retirou-a do nível alto que estava a ter. Uma pena.Para terminar, ainda houve alguns corajosos que se atiraram de peito aberto às farófias e à mousse de chocolate (ambas boas, dentro da normalidade).
Nos bebes, a carta de vinhos é muito boa. Dividida por regiões, com imensa escolha e com as referências datadas. Os preços é que se desejavam mais cordatos. Por esse motivo bebeu-se Fiuza Chardonnay (16,50€), para não magoar muito a carteira. Tanto os copos, como as temperaturas, foram correctos.
O ambiente é moderno, confortável (mais as mesas junto às janelas que as do centro), a que a presença de ilustres (maioritariamente da área da política) acaba por dar um toque mais formal.
O serviço, sob o comando de José Nobre, foi excelente. Atento, prestável, competente, um nível muito bom para o que estamos habituados em Portugal. Gostei muito.
Para um domingo à noite, em época de férias, onde meio mundo não está e o outro meio ainda regressava da praia, a casa até estava bem composta, o que nos dias que correm quer dizer muito.
De resto, a refeição foi muito boa. As doses são fartas, o que torna um desafio de coragem fazer uma refeição de três pratos (neste caso, sopa, prato principal e sobremesa) e entradas. Um conselho, ou passem as entradas (que são deliciosas) ou passem as sobremesas. A cozinha tradicional de Justa Nobre continua em excelente forma. Notam-se alguns apontamentos de inovação, que é de saudar, mas nem todos resultam bem.
Não fosse aquele desagradável episódio e teria entrado para as melhores do ano, assim ficou só nas boas.
Spazio Buondi-Nobre
Av. Sacadura Cabral, 53 (ao Campo Pequeno)
Tel: 21 797 0760
Preço médio, sem vinho: 35€
Hummm tão booommmmmm