É sobejamente conhecida a dimensão histórica da Real Companhia Velha (RCV) e do seu património. No Douro, detém cinco propriedades, todas elas determinantes para o gigantesco portefólio de marcas da empresa. Mas há uma muito especial, talvez não tão conhecida, uma jóia escondida no Vale do Roncão, a Quinta do Síbio.
Existem testemunhos históricos que situam a plantação de vinha na Quinta do Síbio em 1756, o ano de fundação da RCV, tornando-a uma das mais antigas propriedades da empresa. Os seus 100 hectares de vinha, que começam nas quotas mais baixas do Vale do Roncão até às mais altas no planalto de Alijó, foram e continuam a ser palco de um profundo trabalho com castas autóctones, algumas delas em risco de extinção, como a Samarrinho, Donzelinho Branco, Touriga Branca, Esgana Cão, entre outras, experiências estas que por vezes terminam engarrafadas no projecto “Séries”. Mas a característica mais extraordinária do Síbio, a par da sua localização, são os cerca de 11 hectares de vinha em patamares no Vale do Roncão, suportados pelos tradicionais muros de xisto, que criam uma envolvênvia única, digna de um dos mais bonitos postais da região.
A recuperação destes muros bicentenários teve início no final do século passado, com o objetivo de preservar este valioso património tal como foi construído. Nesta zona da propriedade, onde as quotas são mais baixas, encontramos plantadas as castas Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinto Cão, Tinta Amarela, Sousão e Tinta Francisca, todas divididas em talhões. Os restantes 90 hectares, maioritariamente de castas brancas, estendem-se pelas quotas mais altas do planalto de Alijó. É daqui que têm saído alguns dos mais recentes vinhos da quinta, como o Quinta do Síbio Arinto, o Quinta do Síbio Ananico, sob o chapéu “Séries” o Quinta do Síbio Samarrinho e o vinho de que falo hoje, o Quinta do Síbio Rosé. Toda a propriedade, depois de uma profunda reconversão, encontra-se em modo de viticultura biológica.
É neste terroir muito próprio que nasce o Quinta do Síbio Rosé, um blend com 80% de Touriga Nacional e 20% de Touriga Franca. Com uvas provenientes das zonas mais altas da propriedade, esta colheita de 2020, resulta num rosé frutado, aromático, com muita frescura, a pedir dias de verão e esplanadas junto à praia. Desta feita, com os dias quentes ainda longe, foi chamado a abrir as hostilidades de um jantar de família onde, com a sua boa acidez, acompanhou da melhor maneira umas ameijoas à Bulhão Pato.
Se um dia andarem por essas bandas, não percam a oportunidade de conhecer a Quinta do Síbio. A zona do Vale do Roncão, onde estão localizados os patamares com os muros de xisto, só era acessível por jipe, através de um caminho de cabras, que nos deixa a pensar o quão heroico deve ser fazer ali uma vindima. Definitivamente um dos lugares mais bonitos e genuínos do Douro.
NOTA: O vinho foi enviado pelo produtor.