Continuamos na senda do que se faz lá fora, “o mundo é muita grande”, já dizia o filósofo Jorge Jesus. Depois da Borgonha de Jean Montanet, vamos aos antípodas, mais propriamente a Eden Valley, na Austrália, para conhecer o Autumn Riesling da mítica casa Penfolds.
Tenho para mim que, enquanto enófilos portugueses, ainda temos uma grande dificuldade de olhar para o que vem do Novo Mundo. Olhamos sempre de soslaio, com sobranceria, quase sempre sem fazermos puto de ideia o que está ali, mas com a convicção que os nossos vinhos e o que bebemos no dia a dia é muito melhor. A verdade é que também não temos grande interesse em saber mais, por vezes saber mais dá trabalho e é tão fácil e cómodo pegar naquela garrafa que está logo ali à mão. Penso nas vezes que bebi vinhos australianos, por exemplo, e se calhar consigo contá-los com poucas mãos.
Mas quando abrimos a guarda e aceitamos desbravar outros caminhos, podemos ser agradavelmente surpreendidos como me aconteceu com este Koonunga Hill Autumn Riesling da Penfolds. Se não visse o rótulo, nunca, nem nos melhores sonhos, imaginaria que estava a beber um riesling da Austrália. Conhecendo a casta, não esperaria um vinho assim tão seco, com uma acidez tão bem definida, num registo airoso, acessível, mas tremendamente fresco e gastronómico. A riesling chegou ao continente australiano no século XIX pela mão de colonos alemães que se fixaram na região de Barossa Valley, criando aí o grande terroir da casta. Mais recentemente a produção tem-se deslocado para zonas mais altas e frescas e Eden Valley, de onde vem este vinho, tem sido a região privilegiada.
Não tenho referências suficientes para saber se este é o perfil de riesling seco australiano, até porque estamos na gama de entrada da Penfolds e os seus “grandes” riesling vêm das vinhas mais altas da região, mas que estamos perante um belo exemplar não há dúvidas. Com tanto que há para desbravar, a luta tem de continuar.