Uma instituição gastronomica de Coimbra que aqui o vosso escriba nunca tinha tido o prazer de conhecer. Confesso que numa paragem de viagem para almoço, há meses atrás, tentei aqui vir mas fui demovido pela longa fila à porta. Desta vez já vinha mentalizado que tinha mesmo de ser.
O Zé Manel dos Ossos, é uma das mais antigas e conhecidas tabernas de Coimbra, no centro da cidade, numa ruela escondida, onde em tempos foi lugar de grandes tertulias, tanto por estudantes, como por alguns intelectuais da época. Hoje em dia, na era do tripadvisor, tornou-se um lugar turístico, com filas à porta, mas felizmente mantendo o aspecto tipico de antiga taberna.
Chegámos a um sábado ao almoço, cerca das 14:00 e para nossa felicidade a fila não era longa. Entrei para marcar a vez e o Sr Mário, o homem do leme pós Ze Manel, simpaticamente registou a nossa presença e alertou que era rapido, “só” estavam cinco mesas à nossa frente. Temi pelo pior, mas de facto em 15 minutos a coisa foi, até porque depois percebi que aqui o conceito de “mesa” era diferente, pois estas são partilhadas por vários grupos.
Já sentados no interior, num espaço pequeno e para o apertado, uma mirada rápida deixa perceber o ambiente feliz entre turistas e poucos locais. A decoração é feita com milhares de pequenas mensagens penduradas no tecto e paredes, muitas de ilustres figuras, como por exemplo Miguel Torga. Diz-se e eu acredito, porque é impossível encontrar algo naquela amálgama de pedaços de papel que contribui para uma ambiente ainda mais castiço.
Dividimos a mesa com umas jovens brasileiras que tentavam com o olhar deslindar o prato que nos chegava à mesa. Eram os famosos Ossos. De bom porte e bem apaladados, a fazer jus a toda a sua fama. Carne tenra a separar-se do osso, sem grandes temperos, numa impecavel amostra da nossa comida tradicional. Depois dos Ossos vieram uns lombinhos com um caldoso arroz de feijão, tudo uma maravilha. Estávamos encantados e as brasileiras, depois de terem virado uns pratos de sopa (do lavrador) de entrada, também. Para finalizar, e antes dos cafés, um Vomitado, nome pouco convidativo para uma sobremesa, inversamente proporcional ao prazer que dá (um remexido de ovos, pão e frutos secos, pareceu-me). Pagámos pela refeição, com cerveja a empurrar, 10€ por pessoa, um valor mais que justo que também acaba por justificar a grande afluência de turistas. O Sr Mário é cinco estrelas (assim como o resto da equipa), simpático, eficiente e dispõe bem, o que contribui positivamente para a experiência.
Acredito que para quem conhece a casa há muitos anos já não a veja com o mesmo encanto, mas para quem a conheceu agora como eu, gostei muito e aconselho. Vale a pena vencer a fila para ir comer os Ossos.