Vertical Quinta dos Carvalhais Encruzado

11 colheitas, entre 1995 e 2016, em prova vertical, a mostrar a capacidade do Encruzado da Quinta dos Carvalhais.

O wine bar Cristal, na Figueira da Foz, foi o lugar escolhido para mais uma sessão de prova vertical, organizada pelo devoto Dão winelover, João Craveiro Lopes. O João “corre” o país – e muitas vezes o estrangeiro – em busca daquelas colheitas raras para completar as suas verticais, para depois proporcionar a um conjunto de marmanjos estes momentos, muitos deles verdadeiramente memoráveis. Barca Velha, Pape, Mouchão, Reserva Especial Ferreirinha, Primus, Quinta da Leda, são algumas das referências que já passaram pelas suas sessões de prova.

Desta feita foi o Encruzado da Quinta dos Carvalhais, que ao longo das 11 colheitas presentes, mostrou o potencial de envelhecimento dos monocastas de Encruzado no Dão. 2016, 2015, 2014, 2012, 2008, 2007, 2004, 2002, 1998, 1997 e 1995, foram os anos presentes nesta prova vertical. É provável que ao longo dos anos a enologia deste vinho tenha tido algumas nuances, mas as colheitas mais recentes são feitas com fermentação e estágio (de 6 meses) em barrica nova. A enologia destes vinhos são da responsabilidade de Manuel Vieira e desde 2014 de Beatriz Cabral de Almeida.

A mesa posta no Wine Bar Cristal para mais uma grande e longa noite.

O Quinta dos Carvalhais Encruzado é uma referência da região do Dão e aqui, nesta prova vertical, mostrou boa aptidão para enfrentar o tempo, apesar de nem todas as colheitas terem estado ao mesmo nível. Aqui – e em todas as provas com vinhos com muitos anos de garrafa – convém equacionar a qualidade da guarda das garrafas, pelo que retirar conclusões absolutas sobre os vinhos é um exercício que requer sempre alguma prudência. Curiosamente, neste capítulo, mostraram mais consistência os vinhos da década de noventa. Seguem-se curtos apontamentos sobre os vinhos em prova.

Adorei:
2008 e 1998. Podemos dizer que foi uma prova sob o signo do oito, com ambas as colheitas a apresentarem uma grande elegância, dentro do perfil largo e encorpado destes vinhos. Muito bem na evolução, com notas a frutos secos, características dos encruzados evoluídos, e uma frescura que dá grande presença aos vinhos. O 2008, já muito bem integrado, mostra muita complexidade. O 1998, muito fino e longo, é um exemplo máximo das potencialidades de longevidade da casta no Dão.

Gostei muito:
2015, 2014 e 1995. 14 e 15 a mostrarem-se mais afinados, sem as notas de barrica tão intrusivas, num perfil que promete boa evolução. O 1995 está de uma elegância que dá um grande prazer a beber. Fresco, complexo, longo, uma maravilha.

Gostei:
2016, 2007, 2004, 2002, 1997. O 16, apesar de evidente juventude, parece apontar para um perfil mais fino, com menos barrica, algo que com mais algum tempo de garrafa e uma maior integração das ainda notas primárias, pode crescer muito. Os restantes são vinhos, que ainda dando evidente prazer, principalmente a quem gosta de um estilo mais evoluído, entram naquela fase mais gorda, com a fruta, ora cozida, ora em calda, em diálogo com algumas notas mais oxidativas, dando lugar a um perfil menos elegante. Ainda assim, com os pratos certos, são vinhos que dão muito prazer à mesa.

Assim-assim:
2012. Pareceu-me claramente uns furos abaixo, mais evoluído e com menos nervo que os restantes. Má garrafa?

Após a vertical, já com os excelentes petiscos do Cristal a chegarem à mesa a bom ritmo, foi altura de entrar no modo free-ride, com o desfilar de alguns vinhos trazidos pelos convivas. Como sempre nestas ocasiões, o exagero é muito e há sempre referências que nos passam ao lado, mas ainda assim retive um grupo de vinhos que se apresentaram em grande forma. Destaques pessoais para o Avô Fausto Branco 2015, fiel ao perfil do produtor, com volume e frescura, muito equilibrado. Para o Quinta da Murta Branco 2012, a mostrar o potencial de evolução do Arinto de Bucelas. Ganhou volume e, juntamente com a acidez que apresenta, mostra-se nesta fase um vinho muito equilibrado e elegante. Muito bom. Para o Elfa 2010 (um abraço de força para a Casa de Mouraz neste momento difícil), que depois destes anos na garrafa e apesar de manter o seu perfil pouco mainstream, não passou despercebido. Um Corujão Reserva 2003 a mostrar grande finesse e personalidade, também muito bom. O António Carvalheira Reserva 2000, um vinho que não conhecia e que está numa fase belíssima, a apaixonar a mesa com a identidade da baga na Bairrada. Para terminar a sessão, da melhor forma, a elegância das bolhas do Besserat Grand Cru Blanc de Blancs, que está um luxo.

Salada de Polvo, Camarão frito e uma das melhores alheiras que já tive o prazer de comer.

Para terminar resta agradecer a carolice do João em pôr de pé estas provas e, seria injusto ir-me embora sem referir a forma como fomos acolhidos no wine bar Cristal. Grande profissionalismo, exímio serviço de vinhos, sempre atentos às necessidades da mesa (gabo-lhes a paciência) e uma cozinha, assente nos petiscos, de grande qualidade. Quando numa noite destas, com uma mesa tão grande e exigente, não há falhas a apontar, penso que não poderá haver maior elogio. Um lugar incontornável na Figueira da Foz, com uma carta de vinhos fortíssima, que qualquer winelover deveria conhecer.

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